Segunda chance de Ares Reconquistando sua Luna
Segunda chance de Ares Reconquistando sua Luna
Por: Romislaine Corrêa
Capítulo 01

" Eu, Ares Onderwood, rejeito você como minha companheira."

Sim essa frase está comigo desde que vivenciei aquela noite, um ataque na matilha, vários mortos e inclusive a pessoa que mais importante na minha vida.

Os olhos da minha mãe foram os últimos a me ensinar o que era ternura, amor e compaixão. Depois dela, só restaram as sombras dentro de mim.

Acordei antes do sol, como sempre. A névoa densa ainda cobria os campos do leste quando deixei meu quarto, os ombros pesados com o fardo invisível de ser Alfa. Faz dois anos que herdei este trono. Dois anos desde que o sangue escorreu pelas pedras e tingiu minha juventude com a morte.

Aos dezesseis anos, me tornei o líder da maior matilha do centro-sul. Não por escolha. Mas por sobrevivência.

Meu pai enlouqueceu após o ataque dos renegados. Uma guerra o de perdemos muito, não estávamos preparados, éramos pacíficos, os aliados demoraram a chegar. Ele perdeu o que restava de sanidade com o corpo da minha mãe em seus braços. O vi morrer pelo maldito laço de companheiros. Quando ele tentou sacrificar três filhotes durante um surto, fui eu quem o deteve. O trono de Thunderwoof foi erguido sobre sua queda — e sobre meu silêncio.

Desde então, o peso não saiu mais dos meus ombros.

A sala do conselho ainda cheirava a ferrugem e pergaminhos velhos. Meu beta, Kaelen, já me aguardava com uma expressão fria e austera, tão sóbria quanto a neblina do amanhecer.

— Ares, tivemos uma incursão ao sul da fronteira ontem à noite — disse ele, sem rodeios. — Um grupo de renegados. Dois dos nossos foram feridos. Um perdeu o braço.

— E os renegados?

— Mortos.

Assenti. Era assim que deveria ser. Nenhuma misericórdia além dos limites da nossa honra.

Kaelen pousou sobre a mesa um mapa amarelado, marcado por cicatrizes e sangue. Apontou com um dedo ossudo uma trilha entre as montanhas de Tal’Shar.

— Estão vindo por aqui. Há buracos em nossas defesas. A patrulha da ravina está desorganizada desde que perdemos o sentinela Arno.

— Substitua por Oric — ordenei. — E dobre os turnos. Não quero mais surpresas.

Kaelen ergueu os olhos para mim, hesitando por um segundo.

— Isso vai exaurir os soldados, Ares. Você já os mantém sob pressão constante. Há rumores…

— Rumores morrem quando há ordem. — Interrompi. — E ordem é o que mantemos com ferro, não com sorrisos.

Silêncio.

Kaelen sabia quando não insistir. Esse era o motivo de ainda estar ao meu lado.

Todos aqui, sabem como foi o ataque de dois anos atrás, ainda escorre dor pelo nosso sangue, gritos de companheiros que perderam os seus ainda ecoa em nossos ouvidos, os fritos de meu pai ainda arrepia a pele de quem ouviu, perder um companheiro e como perder sua alma, uma parte de você, talvez a deusa os abençoa com um novo, talvez a dor nas seja tão forte. Talvez. Mas eu não sou um homem de talvez, sou um homem de decisão.

O treino da manhã era como todos os outros. Marchas, combate corpo a corpo, técnicas de rastreamento. Soldados suavam sob o peso da responsabilidade que minha liderança impunha. Não havia espaço para fraqueza em Thunderwoof. A disciplina era inegociável.

A névoa dissipava-se lentamente, revelando o campo de treinamento como um cemitério de esperanças. Todos os que permaneciam aqui aceitavam o destino que a matilha impunha: viver pelo coletivo, morrer pela matilha e respeitar seu Alfa, que conquistou o respeito em dois anos mostrando que era capaz.

— Continue o giro! — rugi. — Se seu corpo está tremendo, é porque sua mente ainda acredita que pode parar!

Um jovem caiu de joelhos, arfando. Eu caminhei até ele, devagar. Não precisava gritar. A tensão na minha presença já dizia o suficiente.

— Seu nome?

— Eren, senhor — ele arfou.

— Eren... Se hoje você estivesse em campo aberto e caísse dessa forma, o que aconteceria?

— Eu morreria, senhor.

— Errado. — Me agachei, olhos fixos nos dele. — Você morreria, e arrastaria seu grupo com você. Seu erro não custa só sua vida. Custa a vida de todos.

Levantei-me e me afastei, sem dizer mais. O silêncio que se seguiu foi mais eficaz que qualquer punição.

Na minha sala, mais tarde, observei o horizonte pela janela. Montanhas distantes, picos cobertos de neve, trilhas que levavam ao nada. Era para lá que minha mente fugia quando o peso da liderança ameaçava esmagar meu espírito.

Eu me recuso a cair.

O que me move não é ambição. É necessidade. Não sou movido por paixões, amores ou destino. Essas coisas transformaram meu pai num fantoche. A perda da minha mãe fez dele um louco.

Eu nunca amarei como ele amou. Não me permitirei. O laço de companheiros é uma armadilha. Um veneno disfarçado de bênção. Vi com meus próprios olhos o que ele faz com um Alfa. Quebra a mente. Dilacera a força.

É por isso que jamais aceitarei uma companheira. Não quero uma Luna. Não preciso de uma. Veja o que conquistei.

Se um dia os deuses forem cruéis o bastante para me destinar a alguém, essa pessoa será a ruína de tudo o que construí. Como posso aceitar.

Kaelen voltou mais tarde com novas notícias. Uma disputa de terras com uma matilha vizinha. Um grupo de crianças doentes. Um velho guerreiro que havia sido encontrado morto nas margens do rio, com sinais de magia desconhecida em sua pele.

— Magia? — questionei, franzindo o cenho.

— Não temos certeza. Mas havia marcas, Ares. E os olhos estavam brancos. Como se a alma tivesse sido sugada.

— Envie dois farejadores para investigar. E convoque os xamãs. Se há bruxaria se aproximando de nossas fronteiras, quero saber primeiro.

— Sim, Alfa.

Ficamos em silêncio por um instante. Kaelen então falou, a voz hesitante.

— Há algo mais.

— Não meu Alfa, isso é tudo.

Ele saiu me deixando com papéis intermináveis e motivos para pensar.

À noite, o castelo caiu em um silêncio quase absoluto. Caminhei até o trono de pedra negra. Frio. Inflexível. Como o coração que carrego.

Sentei-me.

O vento uivava pelas frestas das janelas. Não fechei as cortinas. Queria ver o escuro lá fora.

É nele que me reconheço.

Meu nome é Ares Onderwood. Alfa de Thunderwoof. Senhor da ordem e da força. Eu sou o punho de ferro que ergue esta matilha. Sou o herdeiro de um trono banhado em sangue.

E não existe lugar para amor...

...no coração de um monstro.

As responsabilidades de um Alfa não dormem. Elas respiram com o mesmo peso da noite, murmuram em cantos escuros e pairam como sombras sobre cada decisão.

Ao nascer do segundo dia, antes mesmo do primeiro raio de sol cortar o céu de Thunderwoof, eu já estava de pé, em trajes simples, os pés firmes sobre a terra enregelada do pátio interno. Os soldados estavam em formação, o silêncio cortante. Todos sabiam que eu aparecia sem aviso, e quando o fazia, era para lembrar que disciplina não era um estado — era um juramento.

O treinamento não era apenas físico. Era um ritual. A forma como os soldados se moviam, a sincronia das marchas, os giros com as espadas de prata negra... Tudo era cronometrado ao segundo, pois fora dessas paredes o mundo não perdoava deslizes. E nem eu.

Passei entre os grupos em silêncio, observando, absorvendo cada detalhe. Quando um guerreiro tropeçou ao desviar de um golpe simulado, me aproximei com olhos frios.

— Seu inimigo não vai esperar que você recupere o equilíbrio — disse baixo, e os outros silenciaram por completo. — Você não carrega apenas a própria vida. Carrega a vida dos que confiam em você. Lembre-se disso... ou morra esquecendo.

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