A tigela de sopa ainda fumegava em minhas mãos quando parei em frente à porta de Loran. Respirei fundo. Parte de mim queria simplesmente deixar a comida ali e seguir meu caminho. Mas outra parte — a que ainda lembrava que ele era o pai da minha amiga, — me fez erguer a mão e empurrar a porta devagar.
Não estava trancada.
A madeira rangeu suavemente, e meus olhos encontraram Loran em pé, de costas para mim, parado diante da janela, os braços cruzados. A luz da lua atravessava os vidros e moldava sua silhueta de forma quase espectral. O quarto estava mergulhado num silêncio denso, e por um instante hesitei. Caminhei até o criado-mudo ao lado da cama e coloquei a tigela ali, tentando não fazer barulho.
Quando me virei para falar, sua voz me cortou.
— O que você quer ganhar com isso?
Fria. Dura. Tão diferente do Loran que conheci um dia.
Pisquei, surpresa com a acusação disfarçada de pergunta.
— Eu não quero ganhar nada — respondi, dando um passo à frente. — Só… só não queria que você fic