Desprezada pelo pai e vítima da ganância de um feiticeiro perverso, a princesa Selene Volun de Magdala vive presa e marginalizada em seu próprio reino. Dada como noiva em uma falsa trégua, recebe uma única e difícil missão: matar o Rei Corvo. Cedric Darkv de Eszter, o temido Rei Corvo, reina com um ardente desejo por vingança. Sua fachada de líder implacável esconde uma dor profunda, causada pelas perdas do passado. Forçado pelos desejos de paz de seu povo, Cedric aceita casar com a filha do tirano rei de Magdala, cujas crueldades resultaram na morte de seus pais e de vários habitantes de Eszter. O ódio o faz rejeitar a jovem esposa desde o primeiro dia, dando ao povo ressentido a oportunidade de desprezar Selene. Quando a guerra é reiniciada e inimigos se infiltram dentro das muralhas de Eszter, Cedric e Selene se aproximam e à medida que passam mais tempo juntos, o ódio inicial dá lugar a um sentimento novo e intenso. Enfrentando desafios e perigos internos e externos, eles descobrem que a chave para acabar com o mal que domina ambos os reinos está mais perto do que imaginam.
Ler maisA pedra da lua reluzia na palma de Selene, um brilho opaco e sem a magia que o Rei Phelix Völun de Magdala, seu pai, exigia. Furioso, ele chutou as costas da jovem com tamanha força que a lançou ao chão. Selene não emitiu nenhum som apesar da dor. Sabia que se gritasse ou mesmo gemesse ele a espancaria.
— Não passa de uma inútil — ele bradou queixando-se: — Não herdou nem mesmo uma fagulha da magia de Myra.
Alto e imponente, seus olhos azuis enevoados lançavam desaprovação e desdém a filha. O longo e liso cabelo loiro caía graciosamente em seus ombros, a aura purpúrea emanando dos fios destacando a natureza sombria de sua magia.
— Selene é uma vergonha para Magdala — Phelix indicou para Mamba, seu maior aliado, parado poucos passos atrás dele.
O poderoso feiticeiro, esguio e astuto, envolto em vestes brancas e azul royal, cores de Magdala, observava Selene com os frios olhos alaranjados carregados do mesmo brilho sombrio do rei.
— Existe magia na princesa. Posso sentir a mesma essência de Myra. — Abaixou-se e apertou as bochechas de Selene, as longas unhas arroxeadas afundando na pele alva. — Fraca, mas está nela. Veja!
Removeu as unhas, os furos imediatamente cicatrizando até sumirem em definitivo, restando apenas o rastro de sangue.
— Autocura não me serve de nada. Se fosse homem, poderia utilizar essa habilidade no campo de batalha contra o Rei Corvo, mas sendo mulher é um poder sem utilidade!
Mantendo-se de cabeça baixa, sem demonstrar a tristeza que preenchia seu coração, Selene fechou os olhos, aguardando um novo golpe, como sempre ocorria após os insultos, mas seu pai se afastou.
— Vamos! Temos que resolver o que fazer com aquele corvo maldito.
Mamba demorou a se levantar, inclinando-se até a jovem para murmurar junto a sua orelha:
— Em algum momento a deliciosa magia que sinto em seu corpo eclodirá e estarei pronto para coletá-la, Selene.
Selene evitou o olhar do feiticeiro, o enojo revirando seu estômago por ser alvo do constante sorriso cruel nos lábios finos e ardilosos do homem que maculou a alma de seu pai.
Ouviu os passos de ambos os homens se afastando e o baque alto e seco da porta, seguido do chiado característico da magia de selamento, trancando-a como faziam diariamente nos últimos treze anos.
Encolhendo-se no piso frio, sem forças para subir na cama do quarto que mais parecia uma prisão, relembrou o tempo em que sua mãe vivia, a alegria que circulava pelos corredores do castelo de Magdala. Antes da chegada de Mamba e da escuridão tomar conta de seu pai.
Mamba causou a morte da rainha Myra e fez o rei e pai bondoso desaparecer por completo, sendo substituído por um demônio sem piedade até mesmo com a única filha, trancando-a na torre mais alta e espancando-a toda vez que não obtinha o que tanto desejava: o poder lunar da falecida esposa, que Selene vibrou em seus primeiros sete anos de vida.
Nos primeiros anos Selene teve esperanças de que o pai amoroso iria retornar, mas agora não ansiava pelo amor paternal. Queria liberdade, se livrar de Mamba, do veneno e maldade opressora do feiticeiro que a sufocava pouco a pouco.
~*~
Cedric Darkv de Eszter, conhecido como Rei Corvo, estava no salão de defesa e estratégia do reino, cercado por homens e mulheres de sua confiança, todos debruçados em mapas e relatórios, ponderando sobre a melhor forma de vencer definitivamente a guerra interminável contra Phelix Volun de Magdala, o Perverso.
Desde o ataque covarde de Phelix em uma noite sem lua, treze anos antes, em que metade de seu povo foi ceifado, incluindo seus pais, Cedric tornou-se o rei e o soldado mais forte e temível contra o Perverso.
Fortificou as ruínas, treinou homens e mulheres a partir dos quinze anos, sua própria idade na época, e lutou na linha de frente com a fúria alada do fogo queimando seus inimigos. O confronto direto de Eszter e Magdala intensificou-se com o passar dos anos, deixando ambos os reinos exauridos. O problema era que o rei inimigo se escondia longe do campo de batalha e exterminá-lo, essencial para a paz de espirito de Cedric, mostrava-se impossível.
Foi nesse clima tenso que Ayala, a Feiticeira Dourada, entrou no recinto.
— Meu Rei, Phelix Volun deseja lhe fazer uma proposta.
A feiticeira moveu os dedos circulados por aros de ouro, os lábios conjurando na língua antiga, atraindo e acumulando gotas de água acima da mesa até criar uma tela líquida.
Cedric observava com ceticismo e desconfiança a superfície líquida se ampliando e no centro Phelix Volun, o Perverso, aparecer sentado em um majestoso trono de Safira.
— Cedric Darkv, Corvo de Eszter — a voz de Phelix ecoou carregada de desdém, o desprezo evidente ao ignorar o título real de Cedric. — Os anos de conflito desgastaram nossos amados reinos, por isso tenho uma proposta que pode pôr fim a essa guerra insensata.
Irritado por Phelix pronunciar tais palavras como se não fosse o responsável pelo sangue derramado no campo de batalha, Cedric apertou os dedos no punho da espada, desejando que o inimigo aparecesse em pessoa a sua frente e não através de artifícios mágicos.
— Fale de uma vez o que quer, Phelix — pronunciou seco, duvidando que sairia algo decente do homem conhecido como Perverso.
Phelix inclinou a cabeça, um sorriso sutil moldando-se em seus lábios finos.
— Proponho uma aliança matrimonial entre Eszter e Magdala. Ofereço minha única e amada filha, Selene, como símbolo de paz e reconciliação entre os reinos.
Cedric ergueu uma sobrancelha, surpreso pela ousadia da oferta. Um casamento para selar a paz entre dois reinos inimigos parecia mais uma jogada astuta, um modo de infiltrar o inimigo dentro de suas muralhas, do que uma oferta sincera.
— Depois de destruir meu reino na calada da noite, anseia uma aliança através de um enlace político? — questionou cáustico. — Zomba da minha inteligência?
Phelix riu, um som frio que reverberou pelo salão.
— Se aceitar, a guerra terminará, e nossos reinos poderão prosperar na paz. Como isso pode ser uma zombaria, Cedric? Chega de tentativas de invadir meu reino, de matar meu povo sofrido e destruir minhas terras — disse com pesar forçado, lançando a culpa da guerra para longe dele, tornando-o a vítima. — Meu povo cansou de morrer por nada, e o seu?
Com essa pergunta capciosa, Phelix encerrou a mensagem.
— O maldito fala como seu eu tivesse começado a matança — rugiu esmurrando a mesa de pedra, a dor no punho sendo nula diante da raiva flamejante.
— O Perverso é ladino, mas a proposta parece um caminho para enfim alcançarmos a paz — Gael, conselheiro de defesa e estratégia, sentado ao lado de Cedric indicou com calma. Não se incomodou por ser alvo de dois olhos carmim de fúria. — O povo anseia por paz, Majestade.
— E a vingança que prometi? O sangue que Phelix derramou covardemente precisa de justiça. Eu preciso de justiça e só com a morte dele a terei — esbravejou.
Sentado a direita do rei, Tristan, melhor amigo e braço direito de Cedric na guerra, colocou a mão no ombro dele.
— Também desejo justiça, mas por quanto tempo o povo aguentará?
Atônito, Cedric analisou Tristan, os olhos negros deslizando pelas feridas de guerra do amigo, profundas fissuras cortando toda pele do lado direito.
Aproveitando-se da calma temporária, a Feiticeira Dourada tomou a palavra.
— A escolha é sua, mas lembre-se de que a verdadeira coragem muitas vezes reside na busca pela paz, não na guerra interminável.
Apertando o punho da espada, Cedric ponderou as palavras dos três conselheiros que ajudavam Eszter a se reerguer. Era cético em relação às intenções de Phelix, e a perspectiva de casar com a filha do inimigo não o agradava. No entanto, seu povo merecia a tentativa. Se fosse uma armadilha mataria o rei e a princesa de Magdala sem misericórdia.
Da janela de seu escritório, em que cuidava dos assuntos do palácio, Selene fazia uma pausa para observar com admiração e preocupação o treinamento dos filhos no pátio. Aurora e Maddox, de quinze anos, eram instruídos por Ayala, Tristan e Cedric no manejo de magia ao utilizar a espada. Cada um lidando com as instruções de seu modo. — Vamos lá, Aurora, mostre toda sua força — comandou Cedric incentivando a herdeira. — Maddox, melhore a posição dos pés e não a deixe ganhar terreno. Aurora, a primogênita por sete minutos de diferença ao nascer, demonstrava destemor e agilidade nos movimentos, a trança negra balançando conforme se esquivava dos ataques de Maddox, atenta a cada recomendação. Os olhos azuis antecipavam cada movimento, barrando-os com a espada, em que feixes de azul e vermelho circulavam no aço. — Tem que aumentar a magia de fogo no ataque e usar a lunar só para a sua proteção, Maddox — a feiticeira indicou observando-o a magia irradiada pelo jovem príncipe. Diferente da
Sentindo como sua a dor que consumia Selene após a perda do pai, Cedric a estreitou em seus braços com ternura. Compreendendo que ela se sentia mal por causa do pai, pousou um beijo na testa dela com carinho, fechando as asas negras, obtidas através da conexão de almas com Aodh, em torno deles, aquecendo-a. — Meu amor, sinto muito! O Per... — cortou a fala antes de mencionar o título infame dado ao rei de Magdala. Ficou incerto do que dizer para amenizar a dor dela. Dizer que Phelix merecia o fim que teve de certo não era opção. — Sinto muito — repetiu deslizando os dedos pelos fios loiro-platinados. O pai de Selene tinha sido dominado pela maldade e ganância, não respeitava nada e ninguém. Duvidava que ainda tivesse um coração que se importasse por alguém, mesmo que esse alguém fosse a própria e única filha. A prova foi tê-la dado ao inimigo – ele – e reiniciado a guerra sem se preocupar com a segurança dela. No entanto, nada disso importava para Selene. Ela amava o pai, independent
Com a magia lunar pulsante em suas veias, Selene avançou com determinação, os cachos loiro-platinados balançando ao vento durante o voo. Seus olhos azuis brilhavam com a coragem que emanava de seu coração, pronta para enfrentar Mamba, o feiticeiro elfo que havia enfeitiçado seu pai e causado tanto sofrimento.A floresta da Montanha do Corvo era o palco da batalha entre os reinos de Eszter e Magdala, e Selene se preparava para pôr um fim a tudo aquilo. Lutaria pela liberdade dos reinos, por justiça aos antepassados e pela redenção de seu pai.Pronto para se livrar definitivamente da jovem rainha de Eszter, Mamba encarava Selene com ódio, sua magia sombria movendo-se ao seu redor. Notava que o poder dela era igual, talvez até maior, que o de Myra. No entanto, não tinha medo. Venceu Myra e todos do seu clã, elfos de sangue puro, não seria difícil vencer uma mestiça. Tinha de vencê-la. Selene representava tudo o que odiava e queria destruir: pureza, bondade e amor.Ao se aproximar, Selene
Recuperando-se do choque contra o tronco de uma árvore, amortecido pela barreira lunar e pelo corpo de Cedric, uma onda de angústia dominou Selene ao notar névoa púrpura movimentando-se como um manto sinistro sobre ele. Ele se debatia, gemia e arfava, lutando contra as correntes tentando aprisionar sua mente.— Cedric! — Selene chamou tocando seu rosto.Os olhos de Cedric encontraram os dela por um breve momento, uma faísca de reconhecimento atravessando as sombras. Selene não hesitou, lançou nele a magia lunar, curando-o da tentativa de domínio das sombras.— Selene... — Cedric murmurou com uma mistura de surpresa e alívio.— Treinei muito pra não cair facilmente ao utilizar minha magia — contou com um sorriso motivador. Sorriso que se perdeu no instante seguinte.Moveu o olhar para o entorno e notou que a névoa púrpura das sombras dominava o campo de batalha. Até os elfos e criaturas místicas da Montanha do Corvo se contorciam lutando contra as sombras. Era a única poupada graças ao
Usando a magia que a levava diretamente para perto do líder dos elfos da montanha, se materializando em meio a uma intensa luta, Selene procurou por Grend.Por toda parte havia elfos da floresta, soldados, orcs, driders e toda espécie de criaturas místicas lutando. Muitos estavam no chão, mortos ou debatendo-se com sangue e saliva saindo da boca, os corpos ressequidos como se sugados até os ossos.Identificou Grend a poucos passos, de costas para ela e em cima de um cervo, liderando seus guerreiros. A coroa de galhos e folhas brilhava sob a luz do sol atravessando a folhagem das árvores altas, suas mãos se moviam com rapidez, pegando flechas que enchia de magia solar antes de disparar, dizimando fileiras inimigas.Selene avançou pelo campo de batalha, a magia pulsando ao seu redor. Enchendo as mãos de uma grande quantidade de magia, moveu-se em direção a Grend, preparada para afastar qualquer um que a impedisse. Justamente por isso, ao ter o braço agarrado, virou-se pronta para desfer
Selene sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao perceber que estava diante de Eriz, a troca-formas que a havia sequestrado anteriormente. Seus olhos azuis se estreitaram ao analisar a figura de pele clara, cabelo e olhos esverdeados diante de si.— Onde está Patry? — Selene questionou, tentando manter a calma apesar do receio da resposta.Eriz riu com desprezo.— A dama de companhia não está mais aqui. A matei e tomei seu lugar há meses — anunciou com um sorriso cruel nos lábios.Com o coração apertado de tristeza e raiva, Selene parou de recuar devagar em direção à conexão dos quartos. Patry foi uma amiga e presença reconfortante em meio ao caos que sua vida se tornou, e agora estava morta, vítima da crueldade de Mamba e sua comparsa.— Por que fez isso? Ferir uma inocente? — perguntou, lutando para controlar o tremor na voz.A troca-formas deu de ombros, como se aquilo não fosse importante.— Depois de você escapar do meu ataque e o Corvo te colocar aqui, a única opção foi encont
Último capítulo