A luz dourada do fim da tarde tingia de âmbar as tábuas gastas da casa de Loran quando a porta se abriu com um rangido grave. Eu e Damon estávamos de pé no centro da sala, a tensão entre nós tão palpável quanto o ar morno que entrava. O som das botas pesadas de Lysander ecoou primeiro, seguido do passo mais leve de Loran.Mas foi a última a entrar que fez o mundo ao meu redor encolher.Isabel.Uma mulher de cabelos longos e brancos como neve recém-caída, a postura ereta, quase altiva. Ela parou na soleira, e seu olhar pousou direto em Damon. O ar pareceu vacilar. Os olhos dela — de um azul pálido, quase translúcido — se arregalaram e ela ficou absolutamente imóvel. A pele enrugada empalideceu um tom.Então, com um movimento lento, os olhos de Isabel se voltaram para mim. O peito dela subiu e desceu, contido. Quando abriu a boca, a voz saiu baixa, firme como pedra lascada:— Vocês dois… — As palavras pairaram no ar, carregadas de um significado que ninguém ali compreendia. — Vocês não
A madeira do chão rangeu discretamente quando Damon se moveu ao meu lado. Seus olhos quase escuros não saíam de Isabel, as sobrancelhas franzidas em uma linha dura.— Que preço é esse? — A voz dele cortou o silêncio como lâmina. — Quero ouvir cada detalhe. Não vou deixar que Elara se jogue em algo assim sem entender o que está em jogo.O olhar de Isabel não vacilou. Ela repousou as mãos finas sobre a mesa, os dedos entrelaçados com a calma de quem já carregava respostas antigas. O peso da sua presença parecia dobrar o ar à nossa volta.— O que vou lhes contar não é simples — começou, a voz baixa como um sussurro de vento sobre pedra. — E não é leve.Meu coração martelava no peito. Assenti com um gesto quase imperceptível, e ela continuou.— Há muito tempo, quando as Linhagens Ancestrais ainda eram respeitadas, os que nasciam com o dom de moldar a realidade eram preparados desde crianças. O sangue deles, Elara, é como o seu raro, instável, poderoso o bastante para dobrar o que existe
Eu não conseguia pensar. Em absolutamente nada além daquelas palavras que ainda ecoavam em minha mente. As mãos de Isabel, os olhos dela carregados de um pesar que perfurava mais do que qualquer punhal. As palavras sussurradas sobre sacrifício, sobre o preço, sobre tudo que eu perderia.Damon fechou a porta da casa com um empurrão manso e se virou para mim. Seu olhar corria em meu rosto, tentando adivinhar cada pensamento que passava rápido demais.— Está com fome? — a voz grave e baixa que eu já conhecia, mas que agora parecia tingida de um cuidado mais espesso.Neguei com a cabeça, os fios ruivos balançando ao redor do meu rosto.— Não... Depois de tudo que ouvimos, eu não consigo pensar em nada pra comer.Ele se aproximou em dois passos e, sem uma palavra, segurou firme minha cintura e me ergueu, sentando-me sobre a mesa de madeira da cozinha. Suas mãos estavam frias, mas firmes. Seu corpo pairava rente ao meu, a respiração dele mais lenta e controlada.— Eu não gosto dessa ideia.
As mãos de Damon deslizaram pelas minhas coxas com uma fome crua, a pele dele quase quente e dura contra a minha, as pontas dos dedos pressionando de forma possessiva enquanto os lábios encontravam meu pescoço com mordidas suaves, provocando-me, testando meus limites. Eu arqueei o corpo para ele, um gemido rasgando da minha garganta quando a língua dele traçou um caminho molhado desde a curva do meu ombro até o lóbulo da minha orelha.— Você é minha, Elara — ele rosnou, a voz grave vibrando diretamente entre minhas pernas. — Vai gemer o meu nome até perder a voz.Eu tremi sob ele, a promessa inflando algo primitivo em mim. As mãos dele agarraram a parte de trás das minhas coxas, puxando-as com força para me abrir completamente para ele. Eu me expus sem vergonha, sentindo o ar fresco roçar minha boceta já molhada, latejando por ele.— Olha o quanto você está molhada pra mim… — Damon murmurou, deslizando dois dedos entre os meus lábios inchados, espalhando a umidade com movimentos lento
Narrado por Elara Há mil anos, dizem que o sol deixou de nascer sobre os Montes de Eldraven. Mas eu nunca vi o sol, então pra mim… ele é só mais uma lenda. Como tantas outras que nos contam pra manter a gente obediente. Aqui em Caerlyn, vivemos sob o véu da escuridão eterna, cercados por muralhas altas e preces sussurradas. Prata nas portas, símbolos sagrados nas janelas, e medo... muito medo. As pessoas acham que isso nos protege. Eu sei que só nos isola. As Terras Escarlates se estendem logo além da floresta. Ninguém fala nelas em voz alta, mas todos já ouviram os nomes que o vento carrega: Vareth, o castelo negro, e Damon Valtor — o vampiro ancestral, o príncipe do sangue, o monstro escondido em silêncio há séculos. Mas eu não tenho medo de nomes. Meu nome é Elara, e desde pequena eu soube que não pertencia a esse lugar. Fui criada por uma curandeira velha que me ensinou mais com livros do que com bênçãos. Sempre achei que os muros não estavam ali pra manter os monstros for
Na manhã seguinte, fui até os arquivos da vila. Um casarão antigo, com cheiro de mofo, pergaminhos empilhados até o teto e janelas seladas com velhas orações. Loran estava como sempre — debruçado sobre um livro empoeirado, com o cenho franzido e os dedos manchados de tinta. — Preciso de ajuda — disse, sem rodeios. Ele levantou os olhos devagar. Sempre me olha como se estivesse lendo algo invisível em mim. — Você esteve fora da vila de novo, não é? — murmurou, voltando os olhos pro livro. — Você sabia? — perguntei. — Eu imaginei. Você carrega o cheiro da floresta quando entra. E... está tremendo. Me sentei ao lado dele, baixando o tom da voz. — Encontrei pegadas perto do lago. Grandes. Recentes. E... um símbolo desenhado na lama. Uma rosa negra. Loran parou. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim como se tivesse acabado de ouvir o fim de uma profecia. — Você viu mesmo isso? — Ele nunca fala com ênfase. Mas agora... havia urgência. Assenti. Ele puxou um pergami
Ele falou meu nome como se fosse uma oração esquecida. Ou uma maldição. — Quem é você? — minha voz ecoou no sonho, mas parecia pequena diante dele. Ele sorriu, lento. Perigoso. — Você me chamou. — Eu não fiz isso. — Mas está em você. O sangue. O laço. O poder. Você sente, não sente? Dei um passo para trás, o ar ao redor dele parecia vibrar — como eletricidade ou calor antes de uma tempestade. — Fique longe de mim! — Não posso. — Ele caminhou em minha direção, cada passo ecoando como um trovão silencioso. — Porque somos ligados. Porque você é a chave que pode libertar… ou destruir tudo. Meus pés estavam cravados no chão. Eu queria fugir, gritar, acordar — mas não conseguia. — Por que eu? — perguntei, a voz trêmula. — Porque seu destino foi escrito antes mesmo do seu nascimento. Ele ergueu a mão e tocou meu rosto. Gélido, mas inexplicavelmente... familiar. — E porque, Elara… você é minha. Acordei ofegante, com o grito preso na garganta. A pedra no colar bri
Acordei com a sensação de estar sendo observada.As pálpebras pesavam como se tivessem sido costuradas, e um gosto metálico tomava minha boca. Quando finalmente consegui abrir os olhos, percebi que não estava mais na floresta. Estava deitada sobre uma cama enorme, coberta por lençóis de linho escuro, em um quarto que definitivamente não pertencia à minha realidade.As paredes eram de pedra polida, cobertas por tapeçarias antigas. Havia uma lareira acesa, crepitando suavemente, lançando sombras dançantes por todo o cômodo. Um candelabro de ferro pendia do teto abobadado, tremeluzindo com chamas vivas. Era um quarto luxuoso, silencioso e... fechado.Levantei de súbito. A cabeça latejou com o movimento brusco, mas ignorei. Caminhei até a porta com passos hesitantes e tentei girar a maçaneta. Trancada. Testei mais duas vezes, com mais força, até bater o punho nela com frustração.— Alguém? — gritei. — Está me ouvindo?Nenhuma resposta. Só o eco da minha própria voz voltando como zombaria.