MAYA
As palavras da minha mãe cortaram mais fundo do que qualquer insulto de estranho. Elas vinham carregadas de uma história, de uma traição que era a base de toda a minha existência.
— É meu dever? — minha voz saiu trêmula, mas carregada de uma raiva que fervia há anos. — Meu dever? Você quer mesmo falar de dever, mãe?
Ela tentou falar, mas eu não dei espaço. Era como se uma barragem tivesse se rompido dentro de mim.
— Onde estava o seu dever quando eu tinha sete anos e você me deixou na casa da vovó e desapareceu por dez anos? Você disse que ia comprar cigarro e nunca mais voltou! Onde estava o seu dever quando a vovó morreu e você apareceu do nada, não para me confortar, mas para vender a casa onde eu cresci, o único lugar que eu tinha, e sumiu com todo o dinheiro?
Minha voz quebrou, as lágrimas agora escorrendo livremente, misturando-se à raiva.
— Você se lembra onde eu dormi na noite em que fui despejada, mãe? Porque eu me lembro. Foi no banco da praça, com medo de cada som na