Capítulo 6

Âmbar.

Sinto minha respiração acelerar, o peito apertar. Uma crise de ansiedade está vindo, eu sei. Tento me levantar e ir ao banheiro. A água fria escorre pelas minhas mãos enquanto lavo o rosto, forçando-me a respirar. Encaro o espelho, mas não gosto do que vejo. Minha mãe está certa: sou feia. Gorda. Um erro.

Entro no quarto e me tranco lá, jogo-me na cama e deixo as lágrimas caírem. É sempre assim, diariamente: humilhações e mais humilhações. Meus pais não perdem a chance de me lembrar de que fui uma filha não planejada, o "erro" deles. Minha irmã sempre ri de mim, e meus irmãos fingem que nada acontece, ignorando a forma como meus pais me tratam.

Meus pais já tinham três filhos quando nasci, e nossa família sempre foi pobre, o que tornava as coisas bem complicadas financeiramente. Só meu pai trabalhava, como contador, em uma empresa pequena no centro da cidade. Minha mãe cuidava da casa e dos filhos, e descontava toda a frustração em mim.

Sou a caçula de quatro irmãos: Adam e Ash são gêmeos (não idênticos) e têm 21 anos; Aysha é a do meio, com 18; e eu tenho 16. Não tenho primos nem amigos. Sou solitária em minha dor e sempre aguento tudo calada. Nunca consigo me impor diante deles, e isso me destrói cada dia mais. Moramos em Portland, Oregon, no noroeste dos Estados Unidos. Não tenho avós vivos, apenas uma tia por parte de mãe que mora em Nova Jersey, mas não temos muito contato. Minha vida toda eu me odiei por ser gorda, nunca me achei bonita, e minha mãe sempre fez questão de reforçar isso. Sou muito branca, ruiva, tenho os cabelos longos, olhos azuis e algumas sardas no rosto, além de ser gorda, é claro.

Sou a mais diferente da família: eles têm cabelos pretos e são magros. Sou a única ruiva, a "diferente". Minha irmã Aysha é uma das mulheres mais belas que já vi. Ela é esbelta, tem olhos de um azul bem forte, é alta, com cabelos loiros, lisos e bem longos. Sua beleza chama a atenção por onde passa, e ela poderia facilmente ser uma modelo famosa se quisesse. Meus irmãos são altos, fortes, com cabelos pretos e olhos castanhos como os do papai. Só minha mãe tem olhos azuis, que eu e minha irmã herdamos.

Tento respirar fundo e me acalmar, pois uma crise de ansiedade está prestes a começar. Forço-me a sair da cama e vou até o banheiro. Lavar o rosto e colocar as mãos sob a água fria sempre me ajuda. Depois de alguns minutos, já me sinto melhor e resolvo sair do quarto. Minha barriga dói de fome e eu me sinto fraca.

Abro a porta devagar e olho ao redor para garantir que não há ninguém em casa, pois preciso comer. Minha mãe saiu para o supermercado, meus irmãos foram para a oficina que abriram e minha irmã sempre vai para a casa da amiga para fofocar sobre suas futilidades. Com a casa vazia, essa é a oportunidade perfeita para matar a minha fome. Saio do quarto de fininho e vou até a cozinha. É uma vergonha ter que "roubar" comida na minha própria casa, mas não há outro jeito. Pego uma travessa e coloco bolo, biscoitos, frutas, uma caixinha de suco e um pote de sorvete de chocolate. Volto para o quarto e como tudo de uma vez.

Assim que termino, sinto uma culpa enorme e corro para o banheiro. Debruço-me sobre o vaso, coloco o dedo na garganta e forço o vômito. As palavras da minha mãe ecoam na minha mente, a voz dela me dizendo o quanto sou feia e nojenta. As risadas da minha irmã também ecoam, como se ela estivesse ao meu lado, me chamando de ridícula. Ouço a voz da minha mãe na minha cabeça, repetindo o quanto sou nojenta. O quanto sou um fardo.

Lamentável, não consegue ser forte, não consegue vencer a fome e assim conseguir ter um corpo bonito e ganhar o amor de todos à sua volta.

Fraca. É isso que sou. Fraca, uma vergonha.

Depois de colocar toda a comida para fora, sinto-me suja. As lágrimas banham meu rosto, e eu só quero desaparecer. Não aguento mais isso; só queria ser normal e amada. Levanto-me e olho meu reflexo no espelho, que parece rir de mim e da minha fraqueza. Lavo a boca e tiro a roupa para tomar banho, tentando deixar a água levar toda a dor da minha alma. Coloco a cabeça sob o chuveiro e deixo as lágrimas caírem livres, me bato, xingo-me e, depois, deslizo até o chão, abraçando minhas pernas e desejando sumir.

Minutos depois, já estou tremendo de frio, com os dedos enrugados. É hora de sair e, mais uma vez, enfrentar o mundo. Desligo o chuveiro, enrolo-me na toalha e volto para o quarto. Troco de roupa e levo a tigela com o restante da comida para a cozinha, lavo tudo e guardo. Pego minha mochila e sigo para a escola, outro lugar onde sou constantemente humilhada. Ao atravessar a rua, estou distraída, perdida em pensamentos, ouvindo minhas músicas favoritas nos fones de ouvido, e não percebo um carro se aproximando. Ele freia em cima de mim, quase me atropelando. Levo um susto e acabo indo ao chão e ralando o joelho no processo.

Fico confusa e sem reação por alguns minutos. Só saio do torpor quando ouço a voz grave do motorista que quase me atropelou, bem próxima a mim. Olho para ele e percebo o quanto ele é lindo: alto, branco, forte, com ombros largos que se destacam sob a camisa de algodão branca. Cabelos pretos e lisos, olhos de um azul tão intenso que me fazem perder o fôlego. Nunca vi um homem tão bonito como o que está à minha frente. Com certeza, estou parecendo uma boba e uma desastrada por não prestar atenção e quase causar um atropelamento.

— Você está bem? — Fico um pouco desconcertada, mas logo volto à realidade.

— Estou bem, foi só um susto. — Asseguro, embora ele não pareça acreditar.

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