SAVANNAHEstou sentada na sala da casa principal com Beth e Rose. Beth tenta explicar-me, pela terceira vez, como se faz tricô, mas aquilo não me entra na cabeça. Ela tem uma paciência infinita, mas eu só consigo rir-me das minhas tentativas desastrosas.De repente, a porta abre-se e entra Suze, uma vizinha e amiga de infância do Ryder, com a pequena Willow pela mão. Suze parece envergonhada, mas há uma aflição no seu olhar que não me escapa. Rose levanta-se logo, com aquele instinto maternal que lhe é tão natural.– Suze, querida, está tudo bem? – pergunta Rose, aproximando-se.Suze pede desculpa, a voz trémula.– Desculpem aparecer assim, mas aconteceu um acidente no trabalho com o meu marido. Preciso de ir até ao hospital.Beth e eu trocamos um olhar preocupado.– Mas está tudo bem? – pergunto, já a imaginar o pior.– Ele cortou a mão com uma serra. Parece que atingiu um nervo e talvez precise de uma pequena cirurgia. Eu… não tenho com quem deixar a Willow esta noite, os meus pais
RYDERAcordo antes do sol nascer, como sempre. Há muitos anos que não preciso de despertador – o meu cérebro já está programado para o ritmo do rancho. O silêncio da manhã é cortado apenas pela respiração tranquila de Willow, que dorme enroscada ao meu lado, com o rosto sereno de quem ainda sonha. Savannah está do outro lado, também adormecida, com o cabelo espalhado na almofada. Bear levanta a cabeça mal me mexo, os olhos atentos e fiéis.Fico ali uns segundos, a observar aquela cena. Não consigo evitar que a minha mente viaje para um lugar que há muito desejo: uma família. Quero casar, ser pai, ver os meus filhos crescerem, ensiná-los tudo sobre a vida e o rancho, tal como o meu pai fez comigo. Quero amar, respeitar e devorar a minha mulher, como via o meu pai fazer com a minha mãe. Com a Chloe, isso nunca foi possível. Depois de ela me ter abandonado, deixei de acreditar no amor, no casamento, numa família. Mas desde que Savannah entrou na minha vida, essa vontade voltou a crescer
RYDERHoje, o peso no peito é diferente. O sol mal nasceu e já sinto a tensão no ar. Suze está de volta ao rancho. Quando a vejo a subir a varanda da casa principal, as olheiras profundas e o olhar vazio partem-me o coração. Suze foi minha amiga de infância, crescemos juntos, e ver alguém tão forte assim, quebrada, é duro de suportar.Aproximo-me dela sem hesitar e abraço-a com força.– Podes contar comigo para tudo, Suze. Não estás sozinha.Toda a minha família faz o mesmo. Rose abraça-a, Beth segura-lhe a mão, os meus irmãos alinham-se à volta dela, cada um a tentar oferecer um pouco de conforto. Ficamos ali, na varanda, em silêncio, a rodeá-la com o nosso apoio.Dentro de casa, Savannah está com a Harper a tentar distrair a Willow. A pequena é inteligente, percebe que algo se passa, mas achamos que deve ser a mãe a dar-lhe a notícia. Savannah não dormiu nada desde que lhe contei a fatalidade. Sei que ficou profundamente abalada por Willow, talvez até se tenha revisto nela. Também n
SAVANNAHDói-me a alma e o coração de ver Willow assim, agarrada à mãe, e Suze tão perdida no seu próprio sofrimento. Sinto uma dor avassaladora, mas quero ser forte por elas as duas. Willow adormeceu no colo da mãe no sofá, as bochechas ainda húmidas das lágrimas. Estamos ali em silêncio há muito tempo, cada um perdido nos seus pensamentos e na sua tristeza.Rose é a primeira a quebrar o silêncio, falando baixinho para não acordar Willow.– Temos de comer qualquer coisa. Fiz chá e biscoitos para todos.Suze levanta-se com cuidado, tentando não acordar a filha. Ryder aproxima-se e cobre Willow com uma manta, com uma delicadeza que me emociona. Observo-o e penso para mim mesma como um dia, ele vai ser um pai maravilhoso.Quando me preparo para me levantar, sinto uma tontura. O mundo gira um pouco e, antes que possa cair, Ryder agarra-me pelo braço.– Estás bem, Savannah?– Só tive uma tontura – murmuro, tentando sorrir.– É normal. Estás fraca. Desde ontem que não comes nada. Agora vai
SAVANNAHChegou o dia do funeral de Raul, o pai de Willow. O ambiente é pesado, carregado de tristeza e silêncio. Familiares, amigos e vizinhos juntam-se no cemitério, todos de olhar baixo, cada um a tentar encontrar palavras para consolar Suze e a pequena Willow. O céu está nublado, como se até o tempo respeitasse o luto.Observo Willow, tão triste e cabisbaixa ao lado da mãe. De mão dada com Suze, caminha como se fosse uma adulta, o rosto sério, os olhos inchados de tanto chorar. O meu coração aperta-se ao ver aquela menina a enfrentar uma dor tão grande.No final da cerimónia, aproximo-me delas. Willow olha para mim, os olhos vermelhos, e sem dizer nada, atira-se para os meus braços. Abraço-a com força, tentando transmitir-lhe algum conforto. Suze agradece em voz baixa:– Obrigada por terem vindo. Por tudo.– Não há nada que agradecer, Suze. Estamos aqui para o que precisares.Não há muito a dizer nestes momentos. Então, tiro uma pequena caixa azul de veludo do bolso e estendo-a a
RYDERQuinta-feira chega com um gosto amargo. Depois da morte de Raul, o marido da Suze, sinto que o rancho inteiro ficou mais pesado. Acordo cedo, como sempre, e deixo Savannah dormir. Vejo-a cada vez mais esgotada, mais calada, mais distante. Não quero pressioná-la. Sei que, quando estiver pronta, vai desabafar comigo. Por agora, dou-lhe espaço.Faço as minhas tarefas no rancho, o sol já não queima como antes – Outubro está à porta. Bear acompanha-me, sempre fiel, a correr atrás de mim entre os currais e os campos. Tento concentrar-me no trabalho, mas a cabeça não para.Quando chega a hora do almoço, dirijo-me à casa principal, já a imaginar o cheiro da comida quente da minha mãe. Hoje, sei que ela, Savannah, Harper e a minha avó Beth vão até ao brechó da Lucille para ver vestidos para a Gala Beneficente. Por isso, demos o dia à Savannah.Entro assobiando uma música, de bom humor, e digo alegremente:– Boa tarde!Lavo as mãos e, quando me viro para me sentar, noto que todos estão co
SAVANNAHOs dias passam depois daquela confusão e continuo a dormir na casa principal. Todos, no dia seguinte, disseram o quanto estavam preocupados comigo. Peço desculpa, admito que talvez tenha sido um movimento demasiado dramático da minha parte desaparecer assim, sem avisar ninguém e só deixar um bilhete misterioso para trás. O telemóvel esqueci-me, só reparei quando já lá estava.Eu e o Ryder ignoramo-nos. No dia seguinte, ele tentou falar comigo, mas acabou em discussão.- Só queria perceber porque não me disseste nada, Savannah. - O tom dele era tenso, mas mais magoado do que zangado.- Porque não confias em mim! - rebato, já com a voz a tremer. - Sempre que te conto algo importante, acabas por duvidar de mim, por me magoar.- Não é verdade! - Ele ergue a voz. - Só fiquei assustado! Não sabia onde estavas, não atendias o telefone, pensei que te tinha acontecido alguma coisa!- E por isso achaste que eu estava com outro homem? - atiro, ferida. - És ridículo, Ryder. Não quero fal
Narrado por Ryder SawyerEu nunca gostei muito de igrejas.Não que eu não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Minha mãe sempre dizia que a fé era o que segurava um homem de pé quando tudo o mais falhava. E eu entendia isso. Mas igrejas me davam uma sensação estranha. Um silêncio pesado demais, como se o mundo estivesse esperando alguma coisa de mim.Mas naquele dia, eu estava ali.De terno preto, a barba recém-aparada, o nó da gravata apertando minha garganta. Com as mãos fechadas, os dedos roçando no tecido grosso das calças. Esperando.A capela era pequena, feita de madeira rústica, com vigas expostas no teto e janelas que deixavam a luz quente da tarde entrar. Rosas brancas e girassóis decoravam o altar, entrelaçados com fitas creme que minha mãe insistiu que ficariam bonitas. O cheiro de lavanda e madeira polida enchia o ar.Mas nada disso importava.O que importava era que ela ainda não tinha chegado.Passei os olhos pela capela, tentando me distrair. Tentando encontrar algum ros