Sozinha

Capítulo 5

Riley Collins

O sorriso morreu no meu rosto assim que entrei no quarto e vi Luca ali. De costas, tirando os sapatos, como se aquela fosse apenas a casa dele — e não o cativeiro onde ele me mantinha.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, ainda parada na porta.

Ele levantou o olhar com toda a tranquilidade do mundo, afrouxando mais a gravata como se fosse me ignorar.

— Achei que tinha deixado claro — disse, enfim. — Somos casados agora. Marido e mulher dormem no mesmo quarto. Tenho o meu, caso me canse de você e queira uma das minhas amantes. Mas por enquanto vou ficar bem aqui.

Soltei uma risada seca.

— Casados? Isso aqui é um contrato, Luca. Assinado sob chantagem e muitas armas. Você me apontou uma delas, me trancou nessa casa, lembra?

Ele deu de ombros.

— Mesmo assim, é meu nome que está na certidão, não é? E essa cama é grande o suficiente pros dois.

Dei dois passos pra dentro, cruzando os braços.

— Eu durmo no chão — tentei puxar uma coberta.

Ele riu. Um riso baixo, debochado. Depois se aproximou com calma, como uma ameaça prestes a se materializar. Fiquei imóvel, mas meu coração disparou quando puxou a coberta da minha mão.

Luca chegou perto. Perto demais. Até meu corpo encostar na parede. Uma das mãos dele subiu, parando do lado da minha cabeça. A outra estava no bolso, casual. Seu cheiro me tirou a atenção de tudo. Esse homem cheira bem demais.

— Vai me bater se eu chegar mais perto? — ele sussurrou, o rosto tão próximo que pude sentir sua respiração quente na minha pele. Olhar sua boca bonita e pele com barba recém feita. Ele não é novo, deve ter uns quarenta anos — Ou vai pedir por mais quando eu estiver de novo dentro de você?

Minha boca secou. Eu odiava aquilo. A forma como ele me dominava só com o olhar. O corpo dele tão perto. O cheiro de cigarro caro, couro e alguma maldita colônia que parecia feita pra me desarmar.

— Te achei gostosa pra caralho lá embaixo. Apesar do capuz horrível e o péssimo gosto pra roupa. Sua boceta é apertadinha. Talvez eu beije sua boca... — sussurrou bem perto. Meus dedos encostaram na parede.

Pior de tudo? Parte de mim... queria. Queria que ele me beijasse. Que quebrasse esse jogo cruel. Que me deixasse sentir qualquer coisa que não fosse medo. Ainda mais depois de tudo que passamos hoje.

Mas então ele riu. Riu e recuou um pouco, olhando pra mim como quem vê algo patético.

— Relaxa, docinho. Hoje não tô a fim.

Minhas mãos se fecharam involuntariamente. Respirei fundo.

— Se quiser minha atenção, vai ter que se esforçar mais. Minhas amantes se vestem melhor. Você parece uma freira em férias.

Senti o sangue ferver.

— Engraçado… pensei que você gostasse de mulheres submissas. Já que precisa forçar a noiva e roubar até o casamento do próprio irmão.

Ele travou. Os olhos mudaram.

— O que foi? Te ofendi? — continuei, o tom sarcástico — Mas relaxa, “chefe”. Hoje eu também não tô a fim.

Achei que ele fosse me empurrar. Me virar as costas. Mas, ao invés disso, ele avançou. Com um movimento rápido, agarrou meu pulso e me puxou. E antes que eu pudesse reagir, arrancou meu casaco com brutalidade.

— Luca! — gritei, tentando me afastar, mas ele já puxava o zíper da minha calça. Cego de raiva.

— Você me provoca como homem e depois quer negar o programa? Pois agora faço questão.

— NÃO! — gritei alto, com toda minha força. Meu coração batia tão forte que doía. — Eu não quero! Pare!

Ele congelou. Por um segundo, apenas me encarou. Sua mandíbula trincada, o olhar fulminante.

— Não — repeti, firme. — Você não pode decidir quando toca em mim.

Houve um silêncio tenso. Um duelo entre dois mundos que nunca deveriam ter se cruzado.

Luca respirou fundo, controlando a raiva. Pegou meu casaco jogado na cadeira e jogou contra mim.

— Vista-se.

— Vai sair? — perguntei, ainda tremendo.

— Não. Mas vamos deixar pra amanhã. — Ele virou de costas. — Não se preocupe, docinho. Eu pago bem quando tenho interesse. É só saber me provocar. Usar as roupas certas e... Pode ter certeza, vai querer voltar a abrir as pernas pra mim. Posso pagar algumas notas de cem.

— Você é um idiota. Não vou me vender pra você.

— Só se vendeu porque pensou que fosse ele, né? — segurou meu rosto com força. — Ouse sequer pensar naquele merda e vai me conhecer de verdade. Se eu imaginar que "sonhou" com Jackson, eu acabo com você Riley.

— Não se preocupe. Odeio os dois por igual. Tanto faz que seja você ou ele. Sinto o mesmo. Passei um ano presa por culpa dele e me casei sob a mira de uma arma. Você não faz ideia do que isso causou em mim.

Ele parou por um instante. Me olhou dos pés a cabeça e depois me ignorou.

— Boa noite Riley. Sua conversa me deu sono. — continuou a arrancar suas roupas e ficou só de cueca, deitando na cama. Tem um porte lindo. Abdômen definido, que enquanto anda, não consigo desviar o olhar.

Fiquei ali parada, o peito arfando, o casaco nos braços, e a calça parcialmente rasgada aos meus pés.

Eu devia sentir medo.

Só que o que sentia… era ódio.

E dentro de mim, queimava um desejo estranho de olhar mais para Luca só de cueca, desejar que ele me abraçasse, me beijasse e dissesse que ficaria tudo bem. Só que infelizmente ele não era esse homem... e eu não tinha mais ninguém que fizesse isso por mim.

Tudo bem. Eu farei tudo sozinha.

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