Acordo

Capítulo 4

Riley Collins

Passei o resto do dia trancada no quarto, encarando o teto como se ele pudesse me dar uma resposta. Meus pensamentos giravam em círculos viciosos: Emma, Luca, e o que eu faria agora sendo prisioneira naquela casa absurda.

Pedir não bastaria. Gritar? Menos ainda. Luca era um tipo de homem que só ouvia quando era provocado — ou desafiado.

Se eu quisesse alguma coisa dele, teria que jogar com as cartas dele.

Seduzir Luca Black? Só de pensar nisso, meu coração acelerava. Era como tentar domar uma fera selvagem. Mas… era minha única chance. Se eu ganhasse a atenção dele, talvez conseguisse o que realmente importava: acesso à Emma.

No fim da tarde, bateram à porta. Uma mulher entrou empurrando uma arara de roupas com tanto cuidado que parecia carregar joias.

— O chefe pediu que essas peças fossem entregues à senhora. Estão separadas por dia da semana. — Ela falou baixo, sem me encarar diretamente.

Típico. O "chefe" mandando roupa como se fosse meu dono.

Me aproximei, analisando os vestidos nos cabides dourados, os conjuntos sociais. Eram lindos, caros, elegantes, mas frios. Todos sem decote, sem fenda, sem nenhuma ousadia.

“Claro… ele quer uma esposa de vitrine, não de cama.” Sorri, amarga.

Abri uma das gavetas da cômoda e então congelei. No meio dos tecidos organizados estava uma peça de lingerie preta, rendada e minúscula.

— Mas que diabos é isso? — sussurrei, erguendo a peça no ar com as pontas dos dedos.

Fiquei ali tentando entender onde aquela tira começava ou terminava. E foi quando a porta rangeu atrás de mim.

— Já tentando me seduzir? — A voz grave e debochada dele cortou o ar.

Travei. Meu corpo inteiro ficou tenso, os ombros enrijeceram e eu ainda segurava aquela maldita lingerie no ar.

— Pensei que seria mais astuta — ele continuou, com desprezo. — Isso não te ajuda em nada. Odeio esse tipo de mulher.

Tive que pensar rápido. Joguei a peça em cima da cama e me virei, fingindo tédio.

— E do que você gosta, então, “chefe”? — rebati, sem recuar. — Porque, pelo que li na sua lista de regras, você não gosta de absolutamente nada. Ah, e a lingerie... nem é minha. Alguém deve ter deixado aqui. Aliás, eu também odeio. Coisa vulgar.

Ele se aproximou com aqueles passos calmos e ameaçadores. Os olhos frios se fixaram nos meus. A mandíbula dele parecia de concreto.

— É de uma amante antiga — disse, seco.

— Parabéns pra ela — respondi, virando de costas e guardando a peça como quem devolve lixo. — Usar isso deveria valer um troféu.

— O que você pretende, Riley?

Me virei devagar.

— Eu só preciso ver minha irmã. Mais nada… por enquanto.

Ele ficou em silêncio, me estudando. A tensão entre nós era quase palpável. Podia ouvir minha própria respiração, mais acelerada do que eu gostaria.

— Sei que não tenho nada pra te oferecer além do que você já comprou nesse casamento absurdo — continuei, engolindo o orgulho. — Mas se tiver um pingo de humanidade aí dentro, me deixa vê-la. Só uma visita.

Ele deu um passo pra trás, deu de ombros com descaso.

— Não tenho tempo pra isso. Reuniões, contratos, as vezes estou matando homens, ou tentando não morrer... — murmurou com indiferença. — Mas quem sabe… se você implorar, eu mude de ideia.

Meus punhos se fecharam. A raiva subiu como fogo, mas a imagem de Emma entubada me forçou a engolir tudo.

— Eu faço qualquer coisa.

Os olhos dele brilharam. Era o que ele queria. Ver até onde eu iria.

— Qualquer coisa, é? Então ótimo. Quero que catalogue, limpe e reorganize todo o arquivo da casa. Cinco salas. Décadas de papelada. Ninguém ousa mexer lá desde meu pai. Resolva isso até amanhã à noite.

Dei um passo pra trás, chocada.

— Isso é impossível!

— Pensei que estávamos testando “qualquer coisa”, não? — Ele sorriu de lado, já se afastando. — Surpreenda-me.

Respirei fundo, como se pudesse puxar coragem pelo ar.

— Combinado. Mas não volte atrás com a sua palavra...

Ele se virou de volta, se aproximou devagar. Segurou meu queixo entre os dedos, me forçando a encará-lo. Eu odiava esse gesto.

— Aqui quem manda sou eu, docinho. Eu decido até se você levanta da cama ou se fica deitada. Se abre as pernas ou fecha. Mas… pra sua sorte, sou um homem de palavra. Faça o que mandei e ganha um pedido. Só um.

Ele inclinou o rosto, querendo me beijar. Mas virei a cabeça. E ele odiava rejeição.

Sem dizer mais nada, virou as costas e saiu. Eu não sabia o que isso iria me custar.

---

Horas depois, eu ainda estava na biblioteca central, coberta de poeira até os joelhos. Separava pilhas, abria fichários mofados e rabiscava uma lousa improvisada com marcador vermelho.

Organizei por cor, data e urgência. Encontrei contratos irregulares, registros duplicados, até uma assinatura falsificada do pai dele.

Eu estava focada, tentando não pensar nele, porque não tinha até amanhã, queria ver Emma bem cedo. Foi quando ouvi passos firmes e me virei devagar.

Luca estava parado na porta.

— Encontrei um sistema de arquivamento que nem os seus seguranças conheciam — falei, sem desviar os olhos dos papéis. — Achei documentos estranhos. Inclusive um contrato assinado falsamente com o nome do seu pai.

Ele não respondeu de imediato.

— Você leu tudo isso?

— Ainda não. Mas já sei onde encontrar o que ninguém quer que seja visto. Me traga um notebook. Vou digitalizar tudo. Mas o que você me pediu… está feito.

Ele coçou a mandíbula. Ficou ali parado, me encarando com um olhar que oscilava entre dúvida e respeito.

— Vá ver sua irmã. Sete da manhã. Um carro vai te levar. Não tenho tempo pra isso.

Parei tudo. Me virei, encarei ele.

— Obrigada…

— Não me agradeça. Ainda não confio em você.

— Não precisa confiar. Só… mantenha Emma viva.

Ele hesitou. Me olhou por mais um segundo. Depois virou as costas e saiu.

Eu fiquei ali. Suada, exausta… mas vitoriosa. Pela primeira vez desde que entrei nessa casa, eu sorri. Não pra ele, porque estava proibida. Pra mim.

Porque eu tinha vencido a primeira rodada.

Mas, quando voltei pro quarto, meu sorriso morreu.

Luca estava lá, de costas, afrouxando a gravata e tirando os sapatos como se aquilo fosse normal.

Ah, não. O que ele pensa que vai fazer agora?

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