Natalie observava Alejandro enquanto ele pegava o celular e encerrava a ligação. Sua expressão estava endurecida, sem traços de fraqueza. Mesmo com os ferimentos visíveis, ele parecia manter o controle absoluto da situação, e aquilo provocava nela um sentimento difícil de nomear — talvez uma ponta de admiração, mas também um medo crescente. Alejandro era intenso, mais do que qualquer paciente que já havia tratado.
A cada movimento dele, crescia a sensação de que ele estava pronto para se levantar da cama e ir embora. Natalie sabia que ele não estava ali por acaso, mas o que mais a incomodava era sua determinação, como se nada fosse mais importante do que escapar daquele lugar. Algo dentro dela gritava que ele estava envolvido em algo muito maior do que uma simples emergência médica. — Senhor Alejandro, o senhor não pode sair assim. Seu corpo ainda está se recuperando e precisa de mais cuidados — disse ela, tentando manter a calma, embora sua voz tremesse levemente. Alejandro, no entanto, parecia indiferente às suas palavras. Seu olhar frio e impassível deixava claro que não se deixava afetar por nada. Ele estava focado em sair dali, e Natalie começava a perceber que ele faria exatamente isso, não importava o que ela dissesse. — Eu não preciso de cuidados. Preciso sair desse hospital — respondeu ele com uma firmeza cortante, deixando claro que não estava pedindo, mas impondo sua vontade. Aquela postura agressiva fez Natalie recuar um passo, mesmo contra sua vontade. Queria manter o controle, mas ele a intimidava, mesmo ferido. E ela não podia negar isso. — Eu entendo que queira sair, mas o senhor precisa se cuidar primeiro — insistiu, talvez pela última vez. Mas Alejandro estava determinado. Sua frustração era quase palpável, e ele já não parecia disposto a escutar. — Eu não estou perguntando, doutora. Estou te dizendo — disparou ele, com uma arrogância que a atingiu como um golpe. Natalie ficou em silêncio, sem saber o que dizer. Ele estava além da sua ajuda, além do que ela poderia oferecer, e isso a irritava mais do que gostaria de admitir. Alejandro não se importava com suas palavras. Só queria sair. Mesmo sabendo que ele estava agindo errado, que não deveria deixar o hospital naquele estado, ela sentia que não seria capaz de impedi-lo. Ele era forte, implacável. — Vou avisar aos enfermeiros que o senhor deseja sair — disse ela, relutante. Não havia mais argumentos. Sabia que ele não a ouviria. Virou-se e saiu, ainda sentindo a tensão no ar. Alejandro era uma presença avassaladora, e aquilo a deixava inquieta. Algo dentro dela dizia que estava se envolvendo em algo muito mais perigoso do que imaginava. De volta à estação de enfermagem, Natalie se movia no piloto automático. Mas sua mente estava distante. O que poderia fazer? Como ajudar alguém que não queria ser ajudado? Parou por um instante, hesitante. Uma raiva inesperada começou a crescer dentro dela. Como ele podia ser tão arrogante, tão indiferente ao próprio risco? Ele estava ferido e, ainda assim, agia como se nada pudesse atingi-lo. Ela sabia que Alejandro tinha contatos. Sabia que ele não estava ali por acidente — e talvez fosse mais perigoso do que estava disposta a admitir. Mas ele só queria sair, e ela não podia impedir. Respirando fundo, pegou o telefone e ligou para a enfermeira responsável, pedindo que preparassem a documentação para a saída dele. — Está certo, doutora — respondeu a enfermeira, com pouco entusiasmo, provavelmente acostumada a pacientes como Alejandro — mais preocupados em ir embora do que em se cuidar. — Vamos preparar tudo. Ele pode ir, mas é por sua conta e risco. Natalie desligou o telefone e olhou para a porta da sala, sentindo o peso da situação. A ideia de que Alejandro estava envolvido em algo maior a consumia, mas ela sabia que não podia ir além. Já havia ultrapassado seus limites. A escolha agora era dele. De volta ao quarto, respirou fundo antes de entrar. Quando a porta se abriu, ele a olhou com a mesma expressão impassível, como se já soubesse exatamente o que ela diria. — Está pronto para ir? — perguntou, mantendo a calma com esforço. Sabia que ele não queria ouvir mais advertências médicas ou conselhos. Ele só queria sair, e ela precisava aceitar isso. Alejandro não respondeu de imediato. Apenas a observou, o olhar intenso, penetrante. Parecia esperar que ela dissesse algo mais, algo que o fizesse mudar de ideia. Mas ela sabia que isso não aconteceria. Por fim, ele se inclinou para a frente. Seus movimentos eram precisos, apesar do cansaço. Não parecia se importar com a dor. — Não preciso de mais tempo aqui. Vão vir me buscar em breve — disse com uma calma carregada de ameaça, uma tensão que não era apenas física, mas algo mais profundo. Natalie o fitou em silêncio. Não havia mais nada a dizer. — Faça o que quiser — respondeu, a frustração misturada à raiva. A decisão já estava tomada, e nada mudaria isso. Quando ele se levantou da cama com uma força impressionante, sem mostrar sinais de fraqueza, ela sentiu um aperto no peito. Alejandro estava indo embora — e ela não podia fazer nada para impedir.