Capítulo 4

Alejandro a observava em silêncio, mais atento do que gostaria de admitir. Cada movimento, cada gesto — tudo nela parecia calculado, mas ao mesmo tempo, havia uma leveza na forma como ela se movia, uma certa graça que o fazia questionar o quanto poderia realmente continuar indiferente. Não era algo que normalmente notava nas pessoas, mas com ela era impossível não perceber. Ela era bonita, havia uma suavidade em seu rosto que se misturava com a determinação que transparecia em seus olhos. Era intrigante. Mas Alejandro não podia se perder nisso, não agora.

A ideia de continuar observando os olhos dela, de se perder na tensão que ela trazia para o ambiente, só o desviaria do objetivo. O que Alejandro queria agora não era ficar ali, sendo analisado por ela — não queria se tornar mais uma questão a ser resolvida por aquela mulher. Ele precisava sair dali. Rapidamente. Antes que ela começasse a fazer perguntas que Alejandro não estava disposto a responder.

Permaneceu deitado, o corpo ainda meio tenso, a dor mais leve, mas a necessidade de se afastar daquele lugar mais urgente do que qualquer outra coisa. Olhou para ela mais uma vez, sem que ela percebesse. Cada movimento dela parecia uma pequena distração, algo que Alejandro sabia que poderia atrasá-lo ainda mais. Ela se aproximava de novo, mas agora, uma pergunta pairava em seus pensamentos. Alejandro não sabia onde estava o celular, mas sabia que era essencial tê-lo de volta. Era o contato com o mundo lá fora, o único meio de manter o controle da situação.

— Onde está o meu celular? — A pergunta saiu quase sem que pensasse. Sua voz soou mais grave do que pretendia, mas Alejandro precisava de uma resposta — e rápido. Precisava saber o que estava acontecendo, o que estava perdendo.

Ela o olhou por um momento, surpresa com a mudança no tom de voz, mas, como sempre, manteve o controle, como se estivesse tentando ler algo em sua expressão.

— Está com a minha assistente — respondeu ela, sem hesitar. — Eu ainda não entreguei, estava esperando... — Ela pareceu perceber que estava prestes a dizer algo que poderia gerar mais perguntas e se calou.

Alejandro assentiu, mas seu olhar não se desviou. O celular era uma necessidade agora, uma ferramenta crucial para entender o que estava acontecendo ao seu redor. Ele não queria mais perder tempo com a conversa. Mas, mesmo assim, algo nela ainda o fazia ficar ali, permitindo-se analisar tudo o que ela fazia, como se estivesse sendo puxado para dentro de algo que não conseguia controlar.

Ela começou a se afastar, como se fosse buscar o aparelho, e Alejandro respirou fundo. Por mais que tudo em si quisesse seguir em frente, sair daquela cama e retomar o controle, algo na forma como ela se movia, como tentava entender o que ele escondia, o fazia querer continuar observando.

Mas não era o momento. Alejandro não podia se deixar levar pela curiosidade ou pelo prazer de desafiá-la. Precisava sair, e só ela poderia lhe dar essa chave agora.

Ele a observou por um momento, os olhos fixos nela enquanto ela se afastava um pouco, talvez para dar algum tipo de explicação. Alejandro não queria mais isso, não queria mais conversas sobre seu estado ou qualquer outra coisa. Precisava do celular, e não havia tempo para mais nada.

A tensão crescente dentro de si só aumentava com a ideia de ficar mais tempo naquela cama. Alejandro sabia que, se não agisse logo, poderia perder a chance de escapar. Ela ainda estava perto o suficiente, então fez uma escolha rápida, direto ao ponto.

— Vai buscar o celular para mim. — A voz de Alejandro saiu baixa, mas firme, sem espaço para discussões. Sabia que estava sendo direto, mas a urgência o forçava a ser assim.

Ela parou, surpresa, mas rapidamente se recompôs. Alejandro não esperava que ela fosse questionar — e felizmente, não o fez. O silêncio entre eles cresceu, e por um instante, ele sentiu que ela avaliava a situação. Alejandro, por outro lado, não podia se dar ao luxo de mostrar fraqueza. Só conseguia pensar no celular e no quanto ele o tiraria da situação em que estava.

O olhar dela encontrou o de Alejandro, e ele sabia que ela estava se perguntando o que mais ele poderia estar planejando. Mas o que Alejandro precisava agora era simples: sair. E o celular era sua única maneira de fazer isso de forma eficiente.

— Rápido, por favor. — Acrescentou, mais uma vez deixando claro que não havia espaço para mais conversas. A decisão já estava tomada. Alejandro precisava do celular, e ela estava ali para fazer isso por ele.

A ideia de que ela, com sua postura calma e controlada, fosse agora se mover para ajudá-lo de alguma forma ainda o fazia questionar o quanto ela sabia, o quanto ela poderia observá-lo antes de perceber que algo estava muito fora de lugar.

Ela deu um passo em direção à porta, ainda o observando, mas agora ciente de que Alejandro estava implacável em sua demanda. Ele sabia que logo ela voltaria, e quando isso acontecesse, as coisas começariam a mudar.

Ela lhe entregou o celular com uma expressão que parecia misturar curiosidade e cautela. Seus olhos estavam fixos nele, como se tentasse decifrar o que se passava dentro de Alejandro. Ele sabia que ela sentia que havia algo mais, algo que ela ainda não conseguia entender. Mas, naquele momento, Alejandro não tinha tempo para alimentar suas perguntas. Cada segundo que passava ali era uma ameaça à sua liberdade.

Pegou o celular, a mão firme ao redor do aparelho, e com uma rapidez calculada, desbloqueou a tela. Cada segundo parecia ser crucial, e ele não poderia perder mais tempo. Deslizou os dedos pela tela até encontrar o número que sabia que precisava chamar. Seu instinto dizia que, enquanto ela estivesse fora da sala, teria que usar a oportunidade.

Olhou para a porta, a sombra dela ainda visível do outro lado, e então, finalmente, apertou a tecla para fazer a ligação. O som do telefone chamando ecoava suavemente na quietude do ambiente. A cada segundo que passava, o pensamento de Alejandro ficava mais nítido, mais focado na pessoa que precisava contatar.

A linha foi atendida e, ao ouvir a voz do outro lado, Alejandro não pôde deixar de respirar fundo, sentindo o peso de tudo que estava em jogo.

— É a hora — disse, com a voz firme e decidida. Não podia mais adiar as coisas. O que acontecesse depois daquela ligação, ele não teria controle, mas precisava fazer sua parte.

Ficou ali, ouvindo a resposta da pessoa do outro lado da linha, a mente funcionando a mil por hora. Alejandro precisava sair dali — e logo.

Houve um silêncio pesado do outro lado da linha, como se o homem estivesse absorvendo cada palavra com a seriedade que merecia. Finalmente, a resposta veio, mais tranquila, mas ainda com uma pitada de preocupação.

— Entendido, Alejandro. Vou providenciar imediatamente. Mas você tem que ficar calmo, ok? Não adianta sair feito um louco.

Alejandro riu, sem humor algum. Estava tudo, menos calmo. O simples fato de estar preso naquele hospital já o fazia sentir uma raiva crescente, como se estivesse sendo subestimado — e isso não era algo que ele tolerasse.

— Eu não pedi opinião. Só faça o que eu te mandei. Não estou interessado em conversas, só em ação. E, por favor, não me faça repetir.

O outro suspirou, e Alejandro soube que a conversa tinha terminado. A linha ficou muda por alguns segundos antes que ouvisse o clique da ligação sendo encerrada. Colocou o celular de volta na mesa de cabeceira, olhando a tela por um momento, como se esperasse que alguma resposta surgisse ali.

A dor em seu corpo estava constante, mas agora era apenas uma lembrança distante. O que realmente o consumia era a necessidade de voltar para a Colômbia. O hospital, a situação, tudo aquilo era um erro. Alejandro não pertencia àquele lugar. Não agora. E se alguém tentasse impedi-lo, teria que lidar com o fato de que ele não era alguém que se deixava parar facilmente.

Olhou para Natalie, que estava em silêncio, o observando, ainda sem saber o que se passava. Mas o que mais importava agora era sair dali. Estava começando a perceber que, por mais que ela fosse uma distração, Alejandro não tinha tempo para isso. Não podia se permitir ser fraco — e isso incluía ficar em um hospital mais do que o necessário.

Levantou-se lentamente da cama, ignorando os sinais de dor que tentavam se manifestar. O relógio estava correndo, e sua mente estava cheia de pensamentos, mas um se destacava sobre todos os outros: a única coisa que Alejandro precisava agora era partir.

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