POV Rafaella Ferraro
O tempo tem um jeito cruel de nos ensinar a ouvir os silêncios. Eles chegam sem aviso, se espalham feito névoa e ocupam os espaços onde antes existiam palavras doces. As cartas de Salvattore já não vinham com a mesma frequência. E quando vinham, pareciam escritas com a ponta dos dedos, não com o coração. Sem “dolcezza”. Sem saudade. Sem desejo.
Algo estava errado.
Tentei ignorar. Me enganei dizendo que ele estava ocupado, que a máfia exigia mais dele, que talvez estivesse cansado. Mas a intuição tem um jeito afiado de cutucar até a carne doer. E a minha já sangrava.
A formatura chegou como um alívio e uma sentença. Último ano concluído. Dever cumprido. Era o que eu precisava para voltar — e enfrentar o que meu coração já temia. Meus avós se emocionaram ao me ver de beca. Vovó chorou a cerimônia inteira. E no meio do salão, para minha surpresa, estavam eles: Erich, Matteo, Chiara... e ele. Salvattore Bianchi.
Meu peito disparou.
Ele estava lindo, como sempre. O ter