O homem caiu aos pés do palco com um baque surdo, enquanto os gritos ecoavam pelo salão. Convidados recuavam, outros se aproximavam, curiosos, famintos por um escândalo. Luna desceu correndo, ajoelhando-se ao lado dele, os olhos fixos naquele rosto que parecia guardar todas as respostas que ela procurava.— Alguém chame um médico! — gritou Leonel, empurrando os curiosos. — Agora!O homem, de olhos semicerrados, segurou o pulso de Luna com força surpreendente.— Procure por… Augusto Lemos… ele sabe… ele era… — sua voz falhou, a respiração irregular — …seu verdadeiro pai nunca soube…Luna congelou.— Como assim? O que você quer dizer? Quem é meu pai? — a pergunta saiu em desespero, mas o homem apagou.Rafael apareceu com dois seguranças, mandando afastarem a multidão. O corpo foi retirado rapidamente por paramédicos, mas o que restou no salão foi um silêncio pesado, denso como tempestade prestes a desabar.César Bragança, do alto da sacada, desceu lentamente os degraus, como um general
Luna acordou sobressaltada. A claridade que entrava pela janela da pousada invadia o quarto com agressividade, como se o mundo quisesse obrigá-la a levantar e continuar. A noite anterior havia sido intensa, e mesmo com os braços de Leonel envolvendo seu corpo durante o sono, ela não conseguira encontrar paz. As cartas, a foto, as revelações — tudo ainda estava latejando na mente como uma ferida aberta.Sentou-se na cama, puxando o lençol para cobrir o corpo. Leonel ainda dormia, virado de lado, os cabelos bagunçados e a expressão mais leve do que ela jamais havia visto. Pela primeira vez, Luna o viu vulnerável, humano.Ela se levantou, enrolada no lençol, e foi até a escrivaninha onde deixara a pasta de documentos. Sentou-se e começou a reler uma das cartas:"Isa, minha querida,Se você estiver lendo isso, é porque não consegui protegê-la. Me disseram que estão atrás de mim, que vão calar minha voz. Mas se há algo que me conforta, é saber que você nunca esteve sozinha. Seu amor, e ago
Luna apertava a bandeja contra o peito, tentando ignorar o som irritante dos saltos e risos fingidos que ecoavam no salão luxuoso do Hotel Elite. As mãos suadas denunciavam sua ansiedade, mas ela mantinha o sorriso treinado nos lábios.A festa de lançamento de uma linha de relógios exclusivos atraía a elite da cidade. Ela não pertencia àquele lugar. Sabia disso desde o momento em que colocou os pés no salão e encarou os lustres de cristal que pareciam zombar de sua simplicidade.— Dois espumantes, por favor — pediu uma mulher loira, com joias que brilhavam mais do que a própria iluminação.Luna assentiu, entregando as taças com cuidado. Fingiu não ouvir o comentário maldoso logo em seguida.— Essas garçonetes deviam ter um curso de etiqueta antes de servir a gente.Virou-se e seguiu até o balcão, mordendo a língua. Só precisava do dinheiro. Um turno, só isso. Depois voltaria para o quartinho minúsculo que alugava em Vila Oeste e cuidaria de sua irmã mais nova.Foi quando o viu.Alto.
Luna andava rápido pela calçada molhada. A chuva fina voltava a cair, mas ela não se importava. O vento frio batia em seu rosto, enquanto sua mente repetia as palavras de Leonel."Isso ainda está longe de terminar."Ela deveria ignorar. Deveria esquecer. Mas não conseguia. Havia algo no jeito dele — no olhar firme, no sorriso inclinado — que desarmava suas defesas.No pequeno quarto de pensão, Luna encontrou sua irmã, Lívia, dormindo enrolada em um cobertor fino. A visão foi um soco no peito. Ela tirou os sapatos silenciosamente, sentou-se na beira da cama e respirou fundo.Leonel Bragança não fazia parte da realidade delas. Era apenas um capricho do destino, uma distração que ela não podia se permitir.Na manhã seguinte, Leonel estava em sua sala de reuniões no 38º andar da Bragança Corporation. Mas sua mente não estava no relatório de investimentos que seu diretor financeiro apresentava.Estava nela.Luna.O nome ecoava como um feitiço. Ele era um homem prático, objetivo, controlado
Os dias seguintes foram um jogo silencioso entre desejo e prudência. Luna tentou ignorar as mensagens educadas, mas insistentes, que Leonel mandava. Flores começaram a chegar no restaurante. Bilhetes discretos, mas carregados de tensão."Não aceito um 'não' antes de um café comigo. – L.""Estou te esperando. Só você pode me tirar do tédio."Ela odiava admitir, mas lia cada palavra mais de uma vez.Naquela sexta-feira, a noite estava abafada. O restaurante lotado, clientes exigentes, garçons correndo de um lado para o outro. Luna tentava se concentrar no trabalho, mas tudo parecia fora de ritmo. Até que ele apareceu.Em carne, osso e terno impecável.Leonel entrou no salão como se fosse dono do mundo — e talvez fosse. Todos o notaram. Todos sussurraram.Luna congelou. A bandeja quase escorregou de suas mãos.Ele caminhou até ela com aquele olhar que a despia por dentro.— Luna.— O que você está fazendo aqui? — sussurrou ela, entre dentes.— Tentando provar que eu não brinco.— Eu esto
Luna acordou com o toque suave dos lençóis de algodão egípcio contra sua pele nua. A luz da manhã invadia o quarto luxuoso através das cortinas parcialmente abertas. O silêncio era confortável, quente, íntimo.Por um instante, ela pensou que tinha sonhado. Que tudo não passava de um delírio da sua mente exausta. Mas o perfume dele ainda estava em seu corpo. E o calor de sua presença ainda queimava sob sua pele.Ela se virou devagar. Leonel estava ali, recostado na poltrona de frente para a janela, com uma xícara de café na mão e os olhos nela. Sem dizer nada. Apenas observando.— Você está me encarando — murmurou ela, puxando o lençol para cobrir os seios.— É impossível não olhar — respondeu ele, a voz grave como a noite anterior. — Você é mais do que eu imaginei.Luna sorriu, meio tímida, meio provocante.— Você imagina muita coisa, não é?Ele se levantou, caminhando até ela. Estava apenas com a calça de pijama, o peito nu revelando a força contida de um corpo treinado e desejável.
Luna acordou antes do sol nascer. Não por vontade, mas por instinto. Um aperto no peito. Um pressentimento estranho.Leonel ainda dormia, o braço repousando sobre sua cintura, o corpo nu coberto apenas pelo lençol de linho. Ela o observou por longos segundos. Era lindo. Forte. Seguro. E totalmente fora do seu mundo.Ela deslizou da cama sem acordá-lo, recolhendo silenciosamente as roupas espalhadas pelo chão. Precisava respirar. Pensar.Estava se envolvendo. Estava se perdendo.Na pensão, Lívia a esperava com cara de poucos amigos.— Onde você estava, Luna?— Eu… precisei sair.— De novo com aquele homem? — perguntou a adolescente, cruzando os braços. — Você mal o conhece!— E você desde quando se tornou minha mãe? — retrucou Luna, cansada demais para discutir.— Eu só não quero te ver se machucando.Luna parou. Olhou para a irmã.— Eu também não quero. Mas, Lívia… pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto viva.Na manhã seguinte, Luna voltou ao trabalho no restaurante. Estava dis
Luna sentia o peso dos olhares como se fossem pedras sobre sua pele. Estavam todos ali: empresários, herdeiros, socialites. O champanhe era caro, o riso forçado, e as palavras carregadas de veneno disfarçado em cortesia.Leonel não soltava sua cintura nem por um segundo. Talvez para protegê-la. Talvez para exibi-la. Ela não sabia o que a incomodava mais.— Relaxa — sussurrou ele, roçando os lábios em sua orelha. — Eles não te conhecem. E morrem de medo do que não podem controlar.— Eu não tenho medo deles — mentiu ela.— E isso te torna mais poderosa do que imagina.Isabel se aproximava, como uma sombra perfumada. Luna a viu sorrir antes mesmo de abrir os lábios.— Leonel... que surpresa ver você aqui com... — ela fingiu pensar — uma companhia tão... alternativa.Luna respondeu antes que ele pudesse:— “Alternativa” é a palavra que vocês ricos usam quando querem dizer “inferior”, mas têm medo de parecerem cruéis?Isabel piscou, surpresa. Leonel esboçou um sorriso satisfeito.— Eu só e