Luna apertava a bandeja contra o peito, tentando ignorar o som irritante dos saltos e risos fingidos que ecoavam no salão luxuoso do Hotel Elite. As mãos suadas denunciavam sua ansiedade, mas ela mantinha o sorriso treinado nos lábios.
A festa de lançamento de uma linha de relógios exclusivos atraía a elite da cidade. Ela não pertencia àquele lugar. Sabia disso desde o momento em que colocou os pés no salão e encarou os lustres de cristal que pareciam zombar de sua simplicidade. — Dois espumantes, por favor — pediu uma mulher loira, com joias que brilhavam mais do que a própria iluminação. Luna assentiu, entregando as taças com cuidado. Fingiu não ouvir o comentário maldoso logo em seguida. — Essas garçonetes deviam ter um curso de etiqueta antes de servir a gente. Virou-se e seguiu até o balcão, mordendo a língua. Só precisava do dinheiro. Um turno, só isso. Depois voltaria para o quartinho minúsculo que alugava em Vila Oeste e cuidaria de sua irmã mais nova. Foi quando o viu. Alto. Traje preto impecável. Cabelo castanho escuro penteado com precisão. Um leve sorriso nos lábios que não combinava com o olhar afiado e perigoso. Ele segurava uma taça de whisky e observava tudo como se não pertencesse àquele mundo — mesmo sendo o dono de tudo aquilo. Leonel Bragança. Luna engoliu seco. Já ouvira falar dele. Quem não ouvira? Presidente do Grupo Bragança, milionário desde os vinte e um anos, solteiro e... escandalosamente bonito. Ela desviou o olhar e voltou ao trabalho. Mas ele não desviou. Leonel a viu desde o momento em que ela entrou no salão. Não era a mais bonita da festa. Nem a mais sensual. Mas havia algo naquele olhar castanho, algo naquela forma contida de se mover, como se ela não quisesse ser notada — e justamente por isso, era impossível não nota. — Você. — A voz dele era grave, baixa e firme. Luna se virou devagar. — Senhor? — Está fugindo de mim? Ela franziu a testa. — Desculpe, eu... estou trabalhando. Ele deu um passo à frente, observando cada detalhe dela. — Você tem nome? Ela hesitou. — Luna. — Luna — repetiu ele, saboreando o som. — Nome bonito. Ela deu um passo para trás, incômoda com a atenção. — Eu preciso voltar ao serviço. — Claro. — Ele inclinou o rosto, como se gravasse o dela na memória. — Mas espero te ver de novo esta noite, Luna. Ela virou as costas rapidamente, sentindo o coração bater mais rápido do que o normal. “Não se envolva”, pensou. “Homens como ele não olham para mulheres como você. E se olham… é só por uma noite.” Mas naquele exato momento, algo dentro dela já começava a desmoronar. Mais tarde, quando todos se retiravam, Luna se aproximou do balcão para pegar o último pedido. O salão estava quase vazio, exceto por ele. Leonel estava sentado sozinho, com a gravata solta e o olhar perdido no horizonte iluminado da cidade. Quando viu Luna, ergueu uma sobrancelha. — Ainda aqui? — Terminei agora. Só vim buscar minha bolsa. — Posso te oferecer uma carona? Ela riu, sem humor. — Não, obrigada. Prefiro o ônibus. — À essa hora? Você mora longe? — Isso importa? Ele sorriu de lado. — Talvez. Ela se aproximou lentamente, cruzando os braços. — Olha, senhor Bragança... ou Leonel, sei lá, você é bonito, rico e claramente está acostumado a ter tudo o que quer. Mas eu não sou parte do seu cardápio da noite, se é isso que você pensa. Leonel encarou-a, surpreso. Depois, riu com gosto. — Finalmente, alguém que não abaixa a cabeça. Ela já se virava para ir embora quando ele se levantou e segurou suavemente seu pulso. — Eu não costumo me repetir. Mas com você, faria uma exceção. Ela sentiu o arrepio subir pela nuca. — Boa noite, senhor Bragança. — Boa noite, Luna. Mas não se engane... isso ainda está longe de terminar. Ela saiu, tentando ignorar o calor nas bochechas e o estranho aperto no peito. Não era o fim. Era apenas o começo.