As Primeiras Rachaduras 2.
A manhã seguinte amanhece com um sol forte, apesar do frio cortante que envolve a cidade como um lençol molhado. Ava desperta com um gosto amargo na boca, como se durante a noite tivesse mastigado lembranças que preferia esquecer.
Sonhou com Taylor, com gritos abafados e portas batendo, com o medo espesso da mulher que já foi e que não existe mais.
Ao acordar, sentiu o corpo suado, o bebê agitado, e um medo surdo de que tudo o que vem construindo estivesse por um fio.
Desceu as escadas devagar, os pés descalços fazendo barulho no assoalho de madeira. Na cozinha, colocou água para ferver, cortou frutas, passou o café. Movimentos simples, metódicos.
Como se pudesse organizar os pensamentos com gestos pequenos e repetidos.
Helena surgiu logo depois, ainda com os cabelos bagunçados e o olhar sonolento. Bocejou, pegando uma caneca.
— Você acordou antes das galinhas. Tá tudo bem?
Ava deu de ombros.
— Tenho consulta com a médica da clínica hoje cedo, dep