As Primeiras Rachaduras
A manhã seguinte chega com um sol forte, mas não aquece. O frio parece colar na pele como um lençol molhado, incômodo, impossível de ignorar.
Ava acorda com a testa úmida de suor, o travesseiro virado de lado, os lençóis embolados ao redor do corpo. O gosto amargo na boca denuncia a insônia da noite anterior ou talvez o amargor de memórias que insistem em reaparecer quando o mundo silencia.
Sonhou com Taylor.
Com gritos abafados, portas batendo, e o silêncio opressor que vinha depois.
Aquele silêncio que carregava medo, o medo de não saber quando o próximo tapa viria, o próximo soco, a próxima humilhação.
Sentiu o bebê se mexendo, inquieto. Sentiu a si mesma, inquieta.
Na cozinha, já vestida, prepara café como quem tenta organizar o caos com gestos simples:
Esquentar água, passar o coador, contar colheres. Helena chega minutos depois, ainda de meias, os cabelos presos num coque frouxo e os olhos apertados de sono.
— Dormiu alguma coisa? Pergunta, boc