Mundo de ficçãoIniciar sessãoAdon surgiu da sombra, caminhando com calma, a pistola ainda fumegante em uma das mãos. Os olhos escuros, impassíveis, varreram o cenário como quem observa um quadro já previsto. Cada passo parecia pesar o suficiente para silenciar o caos.
Selene estava caída no chão, o corpo curvado, as mãos trêmulas tentando proteger o rosto. O vestido estava sujo e agora rasgado, com a alça partida. Os dois homens restantes hesitaram por um segundo — o tempo exato que Adon precisou para atirar.
Dois disparos.
Dois corpos caindo. Nenhum respiro fora de lugar.A precisão era quase bela, se não fosse monstruosa.
Em seguida, ele baixou a arma com a mesma serenidade de quem termina um brinde, e por um instante o beco inteiro pareceu se curvar ao silêncio dele.
Axel se aproximou segundos depois, após assistir à cena que já lhe era comum.
— Sempre tão dramático — comentou, abrindo um sorriso que não alcançou os olhos.
Adon não respondeu. Apenas girou o pulso, resfriando o cano da arma, e então olhou para ela.
Selene estava sentada, encostada na parede, suja, respirando em soluços. Tentava entender o que acontecia, os sons ao redor reduzidos a um zumbido surdo, as mãos tremendo contra o rosto.
Quando Adon sinalizou com a cabeça, Axel obedeceu sem perguntas. Aproximou-se e a ergueu pelos braços com um gesto rápido, cobrindo seus olhos com a mão. Selene tentou resistir, mas suas forças a traíam.
— Vamos — murmurou ele, arrastando-a para fora do beco.
O cheiro de pólvora ficou para trás, e o som do mundo real começou a voltar em fragmentos: buzinas, passos apressados, o rumor distante da cidade. Axel a soltou assim que se afastaram do beco, enquanto Adon limpava as mãos, como se apagasse o que tinha acabado de fazer.
— Pronto, sã e salva — Axel disse ao soltá-la de forma deliberada, limpando as mãos.
Ela caiu de joelhos no asfalto úmido, respirando com dificuldade.
A mente dela tentava organizar os fragmentos: o som dos tiros, os corpos caindo, a voz fria que dava ordens.
— O quê? Ela ainda tá atordoada? Nem apanhou tanto assim…
— Senhor… Adon? — ela perguntou, apertando os olhos com força, tentando situar a visão enquanto os ouvidos zumbiam.
Quando levantou o rosto, finalmente o reconheceu.
Adon estava parado a poucos metros, observando-a com aquele olhar que misturava curiosidade e desprezo. As mãos enfiadas nos bolsos do terno, a expressão calma demais para o inferno que acabara de causar.
— Você… — a voz de Selene saiu rouca, trêmula.
Ele a interrompeu antes que ela conseguisse formular a frase.
— Você lutou bem no início — disse, impassível. — Até ser jogada na parede. Parece que a gata escaldada não é tão frouxa assim, não é? — debochou.
Selene piscou, confusa.
— Você viu tudo? Desde o início?
— Sim.
O choque atravessou o corpo dela como uma descarga.
— E ficou só olhando?! Eles quase me mataram!
Adon levantou uma sobrancelha, indiferente.
— E eu com isso? — a frieza nas palavras era um golpe. — Eu nem sei quem você é. Só te salvei porque o seu corpo me pertence. Mas se eles quisessem levar a sua cabeça, eu teria deixado.
Ela o encarou, o medo agora misturado à raiva.
— Você é tão podre quanto eles — cuspiu as palavras.
Um meio sorriso cruzou o rosto dele, lento, perigoso.
— E você nem imagina o quanto.
O silêncio que veio depois foi quase sufocante. Selene tentou se levantar, mas as pernas falharam. O corpo ainda tremia, e a cabeça pesava demais. Adon a observou por um instante — um olhar rápido, mas suficiente para que algo nele se movesse, imperceptível.
Quando ela ficou de pé e as pernas cederam, ele a segurou pela cintura, mantendo-a erguida.
— Me solta! O que vai fazer? Me arrastar como eles fizeram? Me deixa em paz! — ela esbravejou, empurrando-o.
— Eu te salvei. Se eu quisesse te fazer alguma coisa, você ainda estaria dentro daquele beco. Mas olho pra você e só me dá pena.
— Não preciso da sua pena! — ela o empurrou, e ele a soltou, apenas observando enquanto ela cambaleava e se sentava novamente no asfalto, a cabeça oscilando. Ela analisou o próprio vestido, a alça quebrada, o corpo vulnerável demais.
Sem dizer nada, ele tirou o blazer e o jogou sobre ela.
— Vista isso. Está me dando enjoo te ver assim.
O tecido caiu sobre seus ombros trêmulos. Selene o puxou para si, cobrindo o corpo. E, de repente, o rosto ficou molhado pelas lágrimas que agora caíam sem controle.
Adon permaneceu parado, observando-a com os olhos frios de quem avalia um objeto que, por algum motivo, o incomoda mais do que deveria.
— Por que está chorando agora? — perguntou, a voz baixa, quase impaciente, até que os olhos dela encontraram os seus… não como alguém magoada.
Mas como alguém que finalmente percebeu o tipo de homem diante de si.







