Cap.5

Cap.5

Selene saiu do quarto cambaleando, ainda com o gosto metálico da droga na boca e as pernas pesadas, como se alguém tivesse enchido seus músculos de chumbo. A barra do vestido estava amassada em sua mão nervosa; ela puxava o tecido como se o gesto pudesse remontar a dignidade que a noite lhe roubara.

O corredor cheirava a álcool e perfume barato. A cabeça latejava, mas havia um único pensamento martelando entre as têmporas: escapar. Ela mal percebeu os dois homens que a observavam escondidos.

Mas, do lado de fora, a rua não era o refúgio que imaginara. Carros pretos se alinhavam como predadores à espreita naquele beco deserto, com paredes de prédios se estendendo ao redor.

Homens conversavam em grupos curtos, cigarros acesos, olhares duros.

A boate, que de noite poderia parecer apenas mais um clube qualquer, revelava agora sua verdadeira face — lugar de negócios sujos e decisões que custavam sangue.

Selene continuou seguindo e quase tropeçou no primeiro degrau. O beco estava úmido, o ar denso de fumaça e medo.

Ela andou rápido, tentando não parecer uma presa, mas cada passo denunciava o pânico que pulsava sob a pele.

Os saltos de cristal batiam no asfalto como estalos de alerta enquanto ela tropeçava, incapaz de andar com confiança.

Cada sombra parecia observá-la. Cada ruído, um prenúncio.

De repente, três homens surgiram de trás de um carro. Jaquetas escuras, dentes amarelados e olhos que riam com crueldade.

— Olha só o brinquedinho do chefe — um deles zombou. — Ele tem bom gosto, viu?

Selene recuou. A respiração falhou. Tentou correr, mas uma mão áspera segurou seu braço com força. Outro bloqueou a saída.

— Vamos ver se o brinquedinho resiste… — sussurrou ele, o hálito cheirando a álcool e poder.

— O chefe de vocês me liberou! Ele mesmo me deixou sair, por favor! — ela suplicou, tentando se afastar, até um deles rir.

— Do que ela está falando? Ninguém sai livre uma vez que entra.

— É uma piada. Vamos levá-la.

O medo virou instinto.

Selene chutou, empurrou, mordeu. Encontrou uma pedra no chão e golpeou o rosto de um deles.

O sangue espirrou. O homem cambaleou e caiu, o baque ecoando pelo beco.

Foi o segundo de vantagem que ela precisava. Correu. Cambaleante, mas determinada. Mas foi capturada pelo outro, agora com ainda mais brutalidade.

Mais à frente, duas figuras observavam da sombra.

Adon, mãos nos bolsos, expressão fria; e ao lado dele, Axel, inquieto, mastigando o próprio tédio.

— Não é que encontramos ela? Pensei que ela correria pela própria vida.

Adon não respondeu. Apenas arqueou uma sobrancelha, o olhar fixo na cena.

— Claro que íamos encontrar — disse por fim, a voz calma, sem emoção. — Ainda mais com esses sapatinhos de cristal que ela mal sabe usar.

Axel soltou uma risada curta. Mas o som morreu rápido, como se o próprio ar tivesse entendido que algo estava prestes a acontecer.

Selene estava encurralada de novo. Um dos homens a empurrou contra a parede, o corpo dela chocando-se com a superfície fria. O medo subiu como um ácido.

Ela mal teve tempo de reagir. A dor lancinante e a força do impacto a deixaram atordoada. O homem ergueu o braço para bater e ela se encolheu.

E o disparo veio.

Seco. Cortante.

O homem caiu para a frente, morto antes de entender o que aconteceu.

Os outros dois congelaram, as pupilas dilatadas. O silêncio seguinte pareceu gritar.

Selene levou a mão ao ouvido. O som ecoava por dentro da cabeça, embaralhando tudo — o medo, o som, a dor.

Tentou entender de onde veio o barulho, mas, antes que o raciocínio se formasse, outro disparo ecoou.

O mundo girou.

E, antes que a consciência a deixasse por completo, Selene ouviu passos se aproximando.

Então tudo ficou escuro. Ela caiu de joelhos, um zumbido insuportável entupindo os ouvidos. Podia ver vultos, mas sua vista embaçada impedia que distinguisse quem estava ali.

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