Selene
A noite desceu sobre a fortaleza com a paciência de quem já viu muitos reinos caírem e se erguerem. Eu esperava, sentada no escuro do meu quarto, sentindo o cheiro da cera fria das velas e o peso do tecido grosso da capa sobre os ombros.
A cada estalo da madeira, meu corpo lembrava do altar, do sangue, do “isca” sussurrado em volta, lembrava, também, das mãos que me sustentaram depois, o sol e a noite disputando lugar em mim. Eu respirei fundo. Aquilo não era fuga, era missão.
A maçaneta girou com delicadeza. Iara entrou como sempre entra, sem anunciar, como se a própria casa estivesse a favor dela. Trazia uma lamparina apagada, uma bolsa de couro curtido e a expressão de quem mordeu as próprias preocupações para não me passar o gosto.
— Agora. — sussurrou, fechando a porta com o quadril — Turno trocado, corredor limpo. O capitão Halvar “desencostou” dois guardas por engano. Temos uma janela de meia hora.
— Obrigada. — respondi, prendendo a adaga na coxa — Se alguém perguntar,