Selene
Voltei do bosque leste quando o céu já estava roxo. O cheiro de pinho grudado no meu cabelo, as botas pesadas de barro seco, a adaga de Halvar pesando na cintura, eu ainda ouvia, como eco, os assobios dos batedores marcando a trilha certa e o lamento das armadilhas falsas que desativei antes que alguém perdesse a perna.
Os dois caçadores tinham sido encontrados vivos, tontos de fumaça e medo, amarrados numa clareira que girava em círculo. Não era acaso: alguém testava a nossa leitura de pista.
Eu testava a mim.
Quando atravessei o arco do solar, Iara estendeu uma toalha para minhas mãos e um cálice de água fria. Bebi tudo de um gole, a garganta ardendo de pressa. A velha me olhou daquele jeito que mistura cuidado com avaliação.
— Voltou inteira. — comentou, sem pergunta.
— Inteira o bastante. — respondi — E com raiva suficiente para não cair de sono.
Ela riu de lado, ajeitando meus cabelos com uma escova firme.
— O Dia vai gostar de ouvir isso.
— O Dia já ouviu. — devolvi, lem