Selene
Passei o entardecer inteiro tentando esquecer o calor do dia, o peso de Damian sobre minha pele, as marcas que o sol deixou no meu corpo como pequenas brasas.
Banhei-me, deitei, respirei fundo, contei os batimentos até perder a conta. Não adiantou. A cada vez que fechava os olhos, via duas bocas, dois pares de olhos, dois reinos estendidos dentro de mim como um mapa impossível.
A noite caiu sem delicadeza. Primeiro veio o silvo do vento nas frestas, depois, o ranger das tochas sendo acesas nos corredores. Em seguida, o silêncio particular que só pertence à fortaleza quando a lua a governa, um silêncio cheio de coisas não ditas.
A maçaneta girou.
Não houve batida. Não houve anúncio. Apenas a porta abrindo e a sombra ocupando o quarto como se fosse dela desde sempre. Damon.
— Você entra sem convite. — sussurrei, sem me levantar. Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
— A noite não pede licença. — ele respondeu, fechando a porta atrás de si com um clique quase gentil. O qu