Clara passou a tarde inteira no ateliê, mas sem pintar.
Dessa vez, as tintas ficaram quietas, os pincéis descansando em potes de vidro.
Sobre a mesa, espalhados em fileiras ordenadas, estavam os bilhetes — mais de oitenta deles — prontos para virar capítulos.
Cada bilhete era um sopro.
Uma história em si.
Mas juntos… eram um mapa.
Ela colava post-its nas bordas dos manuscritos:
“esse antes do quadro da espiral”,
“esse pode abrir o capítulo da queda”,
“esse é só pra quando o leitor estiver pronto”.
No computador, a tela exibia:
INTERVALO – o que sobrou quando tudo parou
por Clara Rivera
E logo abaixo, a epígrafe:
“Você não precisa lembrar tudo.
Precisa só continuar.”
Ela escreveu.
Parou.
Respirou.
Depois, pegou um dos bilhetes antigos — um dos primeiros de Noah — e colou na contracapa.
“Você ainda é o que me faz voltar sem medo.”
Mais tarde, foi até a editora.
O escritório era moderno, com prateleiras de livros recém-lançados e plantas em vasos de barro.
A editora — uma mulher elegante