A caixa chegou numa manhã fria, com cheiro de café fresco e céu cinza pelas janelas.
Estava marcada com a etiqueta da gráfica e os dizeres “Frágil – conteúdo vivo”.
Clara sorriu ao ler.
— Eles nem imaginam o quanto — murmurou, passando os dedos pela fita adesiva.
Ela chamou Noah, que veio da cozinha com uma fatia de pão na boca e os olhos curiosos.
— É ele?
Ela assentiu.
Juntos, abriram a caixa com cuidado.
E ali estavam eles:
os primeiros exemplares de INTERVALO — capa macia ao toque, papel opaco, lombada firme.
A capa era uma fotografia da tela espiralada, suavemente desfocada, como se o leitor já estivesse entrando no espaço entre as camadas.
O título vinha em letras baixas, sem gritar.
Só convidando.
INTERVALO
o que ficou quando tudo parou
Clara pegou um exemplar com as duas mãos.
Segurou como se segurasse um corpo recém-nascido.
— Ele tem peso.
— Porque carrega você — disse Noah, com um carinho quase reverente na voz.
Ela folheou até o final.
Leu os bilhetes em voz baixa.
Tocou o