Acordar era mais fácil agora.
Os pensamentos vinham em blocos pequenos, ainda embaralhados às vezes, mas com menos peso.
O corpo não demorava tanto para reagir. Os pés tocavam o chão como se buscassem firmar raízes novas.
Clara desceu as escadas da casa em Beacon com uma manta sobre os ombros e o cabelo preso com um lápis de cor.
Na cozinha, André mexia o café com a tranquilidade de quem sabia que tudo ficaria bem — mesmo quando não sabia como.
— Tem pão na torradeira — disse ele. — E chá de hibisco na térmica. Porque sim.
Ela sorriu.
Pegou uma caneca e se encostou no batente da porta, observando o movimento matinal da casa.
— Sol já saiu?
— Foi correr no parque. Disse que precisava pensar em silêncio e que você tava ocupada sendo arte.
Clara riu.
Esse tipo de frase fazia sentido agora.
Ou, talvez, sempre tivesse feito.
No ateliê, ela ligou uma playlist instrumental, abriu o caderno verde-musgo e voltou a desenhar.
Nada grandioso.
Só rabiscos.
Pedaços de coisas.
Uma folha caindo.
Um b