Capítulo 38

Acordar era mais fácil agora.

Os pensamentos vinham em blocos pequenos, ainda embaralhados às vezes, mas com menos peso.

O corpo não demorava tanto para reagir. Os pés tocavam o chão como se buscassem firmar raízes novas.

Clara desceu as escadas da casa em Beacon com uma manta sobre os ombros e o cabelo preso com um lápis de cor.

Na cozinha, André mexia o café com a tranquilidade de quem sabia que tudo ficaria bem — mesmo quando não sabia como.

— Tem pão na torradeira — disse ele. — E chá de hibisco na térmica. Porque sim.

Ela sorriu.

Pegou uma caneca e se encostou no batente da porta, observando o movimento matinal da casa.

— Sol já saiu?

— Foi correr no parque. Disse que precisava pensar em silêncio e que você tava ocupada sendo arte.

Clara riu.

Esse tipo de frase fazia sentido agora.

Ou, talvez, sempre tivesse feito.

No ateliê, ela ligou uma playlist instrumental, abriu o caderno verde-musgo e voltou a desenhar.

Nada grandioso.

Só rabiscos.

Pedaços de coisas.

Uma folha caindo.

Um b
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