Noah chegou à galeria de Gus antes do meio-dia.
Era sua folga no hospital — uma terça-feira em que o mundo parecia se mover mais devagar do lado de fora, mas dentro dele ainda era tudo um pouco urgente.
A porta da galeria estava entreaberta, e o sino tilintou com a brisa leve de outono.
Gus apareceu detrás de uma estrutura de madeira, com um pincel numa das mãos e a mesma elegância desalinhada de sempre.
— Achei que era só o vento, mas era você.
— Vim ver a exposição de novo — disse Noah, com um sorriso cansado. — A tela dela não me larga.
Gus colocou o pincel de lado.
— As janelas?
Noah assentiu, olhando para a parede central, onde o quadro de Clara estava pendurado.
Quatro janelas pintadas com silêncio.
Um banco.
Um bilhete voando.
— Ela não explicou a pintura — disse Gus, como quem conta um segredo em voz baixa. — Só deixou aqui, com as mãos ainda sujas de tinta e um olhar que parecia ter acabado de voltar de algum lugar onde a gente nunca foi.
— E os visitantes?
— Alguns param. Fi