O despertador tocou às 7h03.
Clara não pulou da cama, mas também não se encolheu como antes.
Virou-se devagar e deu de cara com Noah no batente da porta, segurando duas canecas de café.
— Roubei seu açúcar mascavo. Espero que não seja motivo de separação.
— Só se amanhã você fizer as torradas.
— Negociável — respondeu ele, entregando a caneca com a alça lascada. A preferida dela. Sempre foi.
— Como você sabia que eu gostava dessa?
— Porque você sempre pegava essa.
Mesmo quando não lembrava.
Clara deu um gole, sentindo o gosto forte e morno do início dos dias bons.
— Posso te confessar uma coisa?
— Sempre.
— Não quero que você me trate como se eu estivesse quebrada.
Eu não tô.
Só tô… diferente.
Noah sorriu com os olhos.
— Eu sei.
E, pra ser sincero, gosto dessa versão.
— Mesmo sem memória total?
— Sobretudo por isso.
Você tá mais corajosa agora.
E menos ansiosa em ser a mesma.
Clara sorriu, com uma ponta de provocação:
— Acha que posso pintar algo digno hoje?
— Acha que eu posso operar