Duas horas depois, Bruna abriu a porta e saiu.
Ela segurava um ursinho de pelúcia nos braços, com os olhos inchados como lâmpadas.
Esse ursinho de pelúcia era o único presente que Helder dera a Bruna.
Bruna o considerava um verdadeiro tesouro.
— Mamãe, eu não quero mais. — Bruna levantou o ursinho, forçando um sorriso, e o enfiou nas mãos de Vanessa. — O tio só tem mais duas chances.
— Está bem. — Vanessa não sabia como consolar a filha.
— Eu quero fazer uma festa de aniversário e convidar meus melhores amigos. Mamãe, pode ser?
Bruna ergueu o rosto, e Vanessa não teve coragem de recusar.
Nos anos anteriores, Bruna sempre comemorara o aniversário em casa, apenas com a companhia da mãe.
Helder nunca aparecera.
Também nunca se importara.
Vanessa concordou, sabendo que essa era mais uma chance que Bruna dava a Helder.
Bruna continuava tossindo, e Vanessa, preocupada com a saúde dela, pediu alguns dias de licença para a filha.
No fim de semana, Vanessa levou Bruna ao parque infantil e sentou-se ao lado, escolhendo o local da festa de aniversário para Bruna.
De repente, ouviu o choro de Bruna.
Ao levantar a cabeça, viu Mário brigando com ela por um brinquedo.
Mário era rude e mandão, insistia em tomar o brinquedo das mãos de Bruna. Como Bruna não quis entregar, ele a empurrou com força, derrubando-a.
Vanessa correu imediatamente e pegou Bruna nos braços.
— Peça desculpas! — Vanessa olhou severamente para Mário.
Mário virou o rosto e mentiu:
— Por que eu deveria pedir desculpas? Foi ela quem caiu sozinha!
— Eu vi com meus próprios olhos você empurrando minha filha. Você deve pedir desculpas a ela.
Mário demonstrou insatisfação, mas ao perceber alguém se aproximando atrás dele, sentou-se de repente no chão e começou a chorar alto.
— Mário. — Helder veio apressado, examinando o filho.
Toda a urgência e preocupação em seu olhar, ele nunca demonstrara por Bruna.
Vanessa soltou um sorriso amargo.
Mário segurou o braço do pai e se queixou:
— Papai, elas me maltrataram, pegaram meu brinquedo e ainda me bateram.
Helder, furioso, virou-se e, ao reconhecer Vanessa e Bruna, ficou surpreso por um instante.
Seu olhar passou da preocupação à frieza em apenas um segundo.
— O que aconteceu? — Ele indagou.
— Tio, foi ele quem me empurrou. — Bruna olhou para ele com expectativa. — Mamãe e eu não o maltratamos, mamãe só queria que ele me pedisse desculpas.
Ao ver Helder, Bruna parou de chorar, desejando por sua atenção.
— Hum. — Helder franziu a testa. — Você se machucou?
— Não. — Bruna balançou a cabeça, o canto da boca se elevando, achando que Helder estava preocupado com ela.
— Hum. — Helder acenou friamente com a cabeça e, segurando Mário, se preparou para ir embora.
O olhar de Bruna se apagou.
Uma tristeza indescritível tomou conta de Vanessa, a preferência de Helder era exagerada.
Helder podia não amá-las, mas não tinha o direito de ferir Bruna repetidamente.
— Pare. — Vanessa disse entre dentes, impedindo-os. — Ele precisa pedir desculpas.
Helder, insatisfeito com o que considerava provocação, ficou ainda mais frio.
— Não faça tempestade em copo d’água. — Ele advertiu. — Ele é só uma criança.
O coração de Vanessa afundou, mas ela não saiu do caminho.
— Sr. Helder, não existe coisa pequena quando se trata de crianças. Ele empurrou a minha filha, então deve pedir desculpas. Há câmeras na loja, se necessário, podemos conferir as imagens.
Pela primeira vez, ela disse "não" para Helder.
Helder ficou surpreso, com a insatisfação estampada no rosto cada vez mais evidente.
Vanessa não recuou.
Bruna já sofrera demais, e Vanessa precisava fazer justiça por ela.
Se Helder não se importava com os sentimentos de Bruna, ela se importava.
Ela não permitiria que Helder defendesse o filho de outra mulher para prejudicar Bruna.
— Eu peço desculpas por ele. — Helder, vendo que Mário não queria se desculpar, falou friamente. — Ele não fez por querer.
— Você... — O coração de Vanessa se apertou, ele realmente defendia o filho de Lurdes dessa forma.
— Não tem problema, eu já te perdoei. Mamãe, vamos embora. — Bruna puxou Vanessa, forçando um sorriso, mas lágrimas caíram assim que ela se virou.
Vanessa também ficou arrasada, sentindo o coração sendo torcido por uma mão invisível.
— Está bem.