Naquele dia, Helder nunca mais voltou para casa.
Vanessa e Bruna, em silêncio, concordaram em não mencionar mais o nome dele.
O aniversário de Bruna se aproximava, e Vanessa, junto com Bruna, preparou os convites para levar à escola e entregar aos colegas.
Bruna contou animada que todos os colegas convidados haviam confirmado presença.
Dois dias antes do aniversário, Vanessa encontrou Helder e Lurdes na escola.
Mário estava entre eles, de cabeça baixa, chorando.
Helder e Lurdes tentavam consolá-lo.
Mário havia cometido um erro, e Helder, como responsável, fora chamado à escola.
Vanessa achou aquela cena irônica: Helder nunca se importara com Bruna.
No entanto, esforçava-se para desempenhar o papel de bom pai para o filho de outra pessoa.
Talvez fosse isso que chamam de "amar a casa junto com o dono".
Vanessa desviou o olhar e voltou-se para Bruna, que saía da sala de aula.
Ao passar por Helder, Bruna hesitou por um instante e cumprimentou-os:
— Tio, tia.
Helder percebeu e lançou-lhe um olhar.
— Srta. Vanessa, veio buscar a criança? — Lurdes avistou Vanessa e a cumprimentou animada.
Vanessa assentiu:
— Sim.
— Que inveja de você, sua filha tão comportada, diferente do meu filho, que só apronta. — Lurdes lamentou. — Ambos sem pai, mas como você conseguiu educar tão bem a sua filha?
Vanessa permaneceu calada, mas Bruna respondeu primeiro, olhando para Helder:
— Mas o pai dele está aqui, né? É só o pai dele cuidar direito.
Helder, constrangido, não ousou encarar Bruna.
— Querida, não diga isso, nós somos só amigos... — Lurdes ficou envergonhada.
Bruna ficou com os olhos marejados, não queria ouvir mais, então se despediu deles:
— Tio, tchau. Tia, tchau.
Bruna segurou a mão de Vanessa e foram embora.
Vanessa sentiu o olhar de Helder sobre ela, mesmo quando já estavam longe, ele ainda a observava.
Helder, esta é sua última chance.
Naquela noite, Helder voltou para casa.
Bruna estava de mau humor, e Vanessa ficou desenhando com ela. Quando ouviram o barulho da porta, ambas olharam para lá ao mesmo tempo.
— Tio.
— Você voltou.
As duas o cumprimentaram espontaneamente.
Helder assentiu friamente e entregou uma caixa de presente para Bruna.
— É para mim? — Bruna ficou surpresa, era a segunda vez que recebia um presente de Helder.
— Sim.
— Obrigada, tio.
Bruna, animada, não conseguiu esperar e abriu o presente.
Dentro, um carrinho de Lego montado.
Vanessa franziu o cenho. Ela já tinha visto aquele carrinho no Instagram de Lurdes: era um dos muitos presentes que Helder dera a Mário.
Um presente rejeitado por Mário.
— Eduque melhor sua filha, para que ela fale menos bobagens. — Helder repreendeu Vanessa. — Se não tiver nada para fazer, evite ficar perto da Lurdes.
Ele tinha voltado apenas para adverti-la.
Temia que ela dissesse algo inconveniente a Lurdes.
Vanessa sorriu friamente:
— Está bem.
— Mais alguma coisa? — Vanessa perguntou, vendo que Helder não se mexia.
Helder olhou para ela:
— Troque Bruna de escola. Qualquer uma que quiser, eu arranjo a matrícula.
O coração de Vanessa deu um salto.
Ele queria cortar o mal pela raiz?
Doía-lhe o peito. Ela olhou para Bruna, que estava de cabeça baixa, com lágrimas caindo sobre o carrinho.
— Está bem. — Vanessa sabia que recusar seria inútil.
Helder, tendo conseguido o que queria, se preparou para sair.
De repente, Bruna se levantou e correu até ele.
— Tio, depois de amanhã é meu aniversário. Você pode passar comigo? Só desta vez, só uma vez.
Bruna reuniu toda a coragem, as lágrimas ainda visíveis no rosto.
Vanessa, com o coração apertado, desviou o olhar, sem ter coragem de encarar Bruna.
Helder permaneceu em silêncio.
Bruna manteve a cabeça erguida, esperando pela resposta dele.