Protegida pelo marido da minha irmã gêmea
Protegida pelo marido da minha irmã gêmea
Por: Elis Black
Capítulo 1 - Reconhecimento

Liz pressionou suavemente o discreto botão na porta de sua limusine. O vidro fumê desceu devagar, e um sopro de ar quente, pesado e úmido como um suspiro cansado da cidade, invadiu o carro. Ela não se incomodou. Seus lábios se curvaram num sorriso enviesado, uma máscara de ironia e desprezo. Era quase inacreditável: a mulher lá fora — tão deslocada, tão patética — era sua irmã. Sua irmã gêmea.

Baixou os olhos para o dossiê repousando em seu colo: um amontoado de fotografias e anotações meticulosas que o detetive particular reunira. E ainda assim, por mais que a lógica a advertisse, algo dentro dela — talvez a vaidade, talvez a incredulidade — recusava-se a aceitar. Sim, os traços eram inegáveis: os mesmos olhos, o mesmo tom escuro nos cabelos. Mas enquanto Liz ostentava fios lisos e domados, a mulher à sua frente exibia cachos indomáveis, como se houvesse saído de um quadro esquecido do século XIX.

E o traje! Liz quase riu alto: blusa e saia longas, pesadas, sufocando-a sob aquele calor brutal. Parecia que o tempo a abandonara — ou talvez fosse ela quem se recusara a seguir adiante. Como alguém jovem, bela e esguia podia esconder-se sob tamanha austeridade? Nem mesmo as fotografias haviam preparado Liz para o choque. Era como ver um espelho rachado refletir uma versão insólita de si mesma.

Liz ajeitou-se no assento, saboreando uma pontinha de superioridade. Ela, que se disciplinava com dietas rigorosas e duas horas diárias de academia, via agora que sua irmã era ainda mais delgada, como se o próprio corpo se negasse ao prazer. Liz sorriu para si mesma. Mantinha as aparências, claro, para o marido... mas sobretudo para Dante. Ah, Dante, aquele demônio tão reverenciado pelas mulheres. Com Liz, contudo, ele se tornava um cordeirinho. Ela aprendera bem os seus truques — lições secretas vindas de Dunga, seu irmão de criação, seu cúmplice de tantas outras artimanhas. Sentiria falta deles... mas agora, havia uma última peça no jogo, e ela precisava mover-se rápido.

Respirou fundo, reuniu sua coragem e abriu a porta do carro. Os óculos escuros esconderam seus olhos calculistas enquanto cruzava o pátio da escola, onde sua irmã, sem a menor ideia do destino que se desenhava à sua volta, conversava com um grupo de adolescentes.

— Professora Alis? — chamou Liz, forçando uma doçura que não lhe era natural.

— Sim, posso ajudá-la? — respondeu a mulher, os olhos curiosos. Um detalhe chamou a atenção de Liz: uma pequena cicatriz na têmpora direita. "Nada que uma boa maquiagem não resolva", pensou, calculista.

— Com certeza poderá — disse Liz, com um sorriso enviesado. — Há algo que preciso discutir em particular...

— Claro, acompanhe-me até minha sala.

Conforme caminhavam, Liz ouviu uma garota sussurrar animada: "Ela é a cara da professora!" Liz reprimiu uma gargalhada. Jovem esperta. Sua irmã, em sua inocência pastoral, nem sequer percebera — talvez por causa dos óculos, que ocultavam metade de seu rosto. Mas os contornos dos lábios e o queixo firme eram marcas impossíveis de esconder.

A sala era um atentado aos sentidos refinados de Liz: paredes forradas de cartazes, desenhos, fotografias... vestígios do entusiasmo juvenil que tanto desprezava. "Que vida miserável", pensou com repulsa. Ela, que detestava crianças com fervor, sentia-se como uma leoa num curral de ovelhas.

— Sente-se, por favor — disse Alis, oferecendo uma cadeira simples.

Liz hesitou por um segundo, antes de acomodar-se com evidente desconforto.

— Em que posso ajudá-la? Você é mãe de algum aluno?

Liz quase se engasgou de indignação.

— Deus me livre! — exclamou, abrupta. — Estou aqui por... um motivo mais pessoal.

Alis franziu o cenho, e Liz viu-se refletida naquele gesto — uma lembrança viva, um eco esquecido de si mesma.

— Achei que me reconheceria, irmã... — sussurrou Liz, retirando devagar os óculos e revelando a face que era igual a de sua irmã. 

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