Fazia semanas que eu esperava ouvir aquelas palavras.
Quando a médica olhou para mim com um sorriso discreto e disse “pode começar a retomar suas atividades, mas com calma”, senti um peso sair do peito. Era como se o ar voltasse a circular dentro de mim — leve, livre, cheio de possibilidades.
Nos últimos dias, a cobertura tinha virado um casulo. Seguro, sim, mas também sufocante. Entre o sofá, a cama e a varanda, eu já sabia de cor o som do relógio e o caminho exato que a luz do sol fazia ao atravessar a sala. Até os livros sobre maternidade, que Ravi comprara com tanto cuidado, pareciam me olhar de volta com piedade. Eu precisava sair. Precisava sentir a cidade de novo.
Na manhã seguinte, Rosa apareceu no meu quarto com um brilho no olhar.
— Então… vamos fazer umas comprinhas, Manu? — perguntou, como quem anuncia uma aventura. — Ravi pediu que eu te levasse em algumas lojas.
Sorri, sentando-me na cama.
— Só se você vier comigo.
— Claro que vou. — Ela piscou. — Ravi já deixou tudo pro