O cheiro de café fresco misturado ao de pão recém-saído sempre me trazia uma sensação estranha. Parte conforto, parte náusea. Talvez porque, ultimamente, quase tudo na minha vida tivesse esse mesmo contraste.

A manhã na cafeteria estava agitada. Era segunda-feira e, como sempre, os clientes entravam apressados, pedindo seus cafés para viagem e bolos embrulhados com pressa. A campainha da porta soava sem parar, acompanhada pelo tilintar das xícaras e o barulho constante do vapor da máquina de café expresso.

— Manu, mesa quatro quer dois cappuccinos e um croissant! — gritou Rose da cozinha, com a voz sempre alta, mas nunca ríspida.

— Já vou! — respondi, equilibrando uma bandeja enquanto sorria para um casal que acabara de se sentar.

Meus pés já reclamavam dentro dos tênis gastos, mas eu os ignorava. Meu corpo se acostumara ao ritmo pesado, mesmo grávida de quase seis meses. O avental escondia a curva cada vez mais evidente do meu ventre, mas eu sabia que logo não daria mais para disfarç