Lisboa estava iluminada naquela manhã.
A brisa leve de outubro entrava pelas janelas da nova casa, trazendo consigo o aroma doce das padarias ao redor. Gabriela se sentia em paz. Pela primeira vez em muito tempo, tudo parecia encaixado: o lar, o amor, a maternidade.
Ela caminhava devagar entre os cômodos, com a mão repousada sobre o ventre já grande. O bebê estava previsto para chegar dali a duas semanas. Mas ela sentia que algo estava diferente.
Manu estava na escola nova, feliz da vida com as “palavras engraçadas” do português europeu. Miguel trabalhava no home office, preparando apresentações para a conferência da ONU.
Gabriela decidiu tomar um banho, ouvir uma música suave e escrever um pouco.
Mas antes mesmo de alcançar o caderno, uma dor forte e inesperada atravessou seu corpo.
Ela se encolheu, segurando o encosto da poltrona.
A respiração falhou por um instante.
Minutos depois, outra dor. Mais intensa.
Ela olhou o relógio. As contrações estavam com cinco minutos de intervalo.
—