O outono deixava as ruas de Lisboa cobertas de folhas douradas, e Gabriela caminhava com Lara no sling preso ao peito, sentindo o sol suave bater no rosto.
Lara dormia tranquila. Era seu primeiro passeio de carrinho pelas ruas portuguesas, e Gabriela aproveitava cada segundo. Os cafés, os livros nas vitrines, o som do bonde ao longe.
Mesmo com pouco sono, olheiras e um coque desajeitado, ela se sentia plena.
Manu estava na escola e Miguel havia saído para uma reunião. Era uma manhã só dela. E, pela primeira vez desde o parto, ela sentia uma vontade imensa de escrever.
Ao passar por uma papelaria, entrou sem pensar duas vezes.
Comprou um caderno novo, capa azul escura, páginas amareladas. E voltou devagar pra casa, como quem carrega um tesouro.
À tarde, enquanto Lara cochilava e Manu pintava um cartaz para a escola, Gabriela sentou-se na varanda.
O caderno aberto.
A caneta pronta.
Respirou fundo.
E escreveu a primeira frase:
“Não sou mais a mulher que escrevia para curar.
Agora escrevo