A casa parecia mais silenciosa desde que Miguel embarcara para Lisboa.
Gabriela sabia que era temporário, que ele voltaria para o nascimento do bebê e que se falavam todos os dias por vídeo. Ainda assim, a ausência física doía em pequenos detalhes: na xícara que ele costumava usar, no violão encostado ao canto, nas risadas no final do dia.
Manu também sentia. Mas sua forma de lidar foi surpreendente.
— Vou escrever cartas para ele, mãe. Toda semana. Assim como escrevo pro Daniel.
— Que tal fazermos disso um ritual? Toda sexta-feira, as “Cartas de Quem Ama”?
— Sim! E você também escreve?
Gabriela sorriu.
— Eu também.
E assim começaram.
Na primeira sexta, Gabriela sentou-se com um chá e um caderno novo.
"Miguel,
a casa continua a mesma, mas há um espaço onde só cabem as tuas piadas ruins e teu café aguado.
O bebê mexeu hoje cedo. Acho que já sente saudade também.
Manu fala de você como quem descreve uma estrela no céu: brilhante, mas distante.
Volta logo. Ou nos manda um pedaço de Lisbo