A ideia

Parte 7...

Valentina

— Oi? Como é que é? – Silas levantou.

— Espera, eu vou contar. Senta aí – ela o fez sentar de novo.

— Fala logo mesmo, antes que eu surte total.

— Se você surtar mais, a gente vai ter que te internar agora é no hospício – Bianca cruzou os braços. O sinal de chamada do almoço tocou — E vai ter que ser rápido. A gente tem que ir para o refeitório.

— Agora não vai dar pra contar com detalhes, mas hoje à noite, a gente vai sair de fininho depois que o pessoal for se recolher para os quartos e vamos até a casa do Jay.

Silas bateu palminhas, animado.

— O que você está aprontando, Kira? – apertei os dedos.

— Algo que vai te livrar dessa sacanagem que seu pai fez com você, amiga. Ele casou uma criança.

— Ela não casou ainda – Silas disse.

— Cala a boca! – as duas falaram ao mesmo tempo.

Eu respirei fundo. Continuo com vontade de chorar e agora mais perdida.

— Kira, isso é mais uma loucura sua. Esse seu ficante aí vai ajudar a Valentina como?

— Não interessa que ele é meu ficante. Você está muito ligado nesse rótulo, Silas.

— Tá, mas como ele vai me ajudar?

— O Jay conhece muita gente e como você disse que esse funcionário de seu pai, ainda vai adiantar a sua formatura, nós temos tempo.

— Tempo pra quê, criatura? – uni as mãos na frente do rosto, como uma prece — Eu não entendi nada ainda.

— O Jay sabe como sumir gente e sem deixar rastros, é isso.

Eu arregalei os olhos.

— E o que ele faz?

— Não se preocupe, não é nada de ilegal, mas ele tem um grupo de conhecidos que transportam pessoas de um lado para outro. E nossa ideia é te levar pra França.

— Kira... – tentei interromper e ela me cortou.

— Me ouve... O Jay vai fazer uma entrega para um museu na França e a gente pode aproveitar isso e tirar você daqui. Já temos quase tudo planejado e vai te dar tempo para escapar de seu pai – ela falava animada — De lá, você vai pra outro lugar. Seu pai não vai te achar, Valentina.

Senti meu estômago apertar, como se eu tivesse engolido algo ruim ou estivesse com muita fome. Foi uma sensação estranha.

— Kira, essa ideia não tem pé e nem cabeça. Como eu vou fazer isso, criatura? – fiquei boquiaberta — O que você está sugerindo, é que eu faça uma fuga internacional! – abri os braços, olhando de um para outro — Não dá!

— Mas é claro que dá – ela cruzou os braços.

— Eu concordo que isso é uma loucura – Bianca passou a mão na testa — Só de pensar eu já fico com tontura.

— Eu acho que é chique – Silas balançou os ombros — É muito filme de ação.

— Você e suas ideias – Bianca torceu a boca.

— Gente, se liga... – Kira começou a andar de um lado para outro, fazendo gestos — A gente está falando de salvar a Valentina de um destino péssimo.

— Tecnicamente, a gente não sabe se é péssimo – Bianca ergueu o dedo como se estivesse em sala de aula — Não conhecemos o noivo.

— Mas e daí? – Kira parou — Você quer se casar com esse homem?

— Eu não! – segurei o rosto entre as mãos.

— Então pronto, você tem que cair fora antes que não dê mais tempo e quando abrir os olhos, vai estar andando pela igreja de vestido branco, com a vida acabada antes de começar.

— Ai, credo... Não toca o terror, Kira – Bianca me abraçou — Você quer que ela fique mais nervosa ainda?

— Eu estou só sendo realista.

O sinal tocou de novo, mais alto dessa vez, como se estivesse gritando junto com o meu coração. Kira pegou minha mão e apertou firme.

— Pensa nisso, Val... Porque quando a hora chegar, não vai ter meio – termo. Ou você atravessa a porta do fundo e cai no mundo, ou fica pra sempre.

— Isso é verdade, amiga – Silas se ajoelhou em minha frente — Você não pode aceitar isso.

— E eu vou fazer o quê, gente?

— Vamos pesquisar quem ele é – Silas continuou — Vamos descobrir o que der sobre esse cara pra quem seu pai te entregou.

— Não sei se quero mesmo saber quem ele é – minha voz saiu baixa.

— Quer sim! – Kira bateu o pé no chão — E você vai saber quem é o seu inimigo.

— Inimigo é um pouco pesado, não é, não? – Bianca apertou o olho.

— Se ela não o quer, ele a quer por um acordo, então sim... Ele é o inimigo – Kira ergueu o queixo.

— Olha, não vamos deixar a Val mais preocupada do que ela está – Bianca foi até a porta — Vamos para o almoço e vamos render essa conversa. Precisamos ter uma saída e logo.

— Vão vocês na frente, eu vou daqui a pouco.

— Amiga... Não fica assim – Silas alisou meu joelho — A gente vai te tirar dessa.

Eu dei um sorriso apertado, tentando parecer otimista, mas não estou muito. É só fachada.

Os três queriam me ajudar, eu sei, mas isso é muito complicado. Mais complicado do que qualquer fuga noturna que eu já fiz.

Kira me deu um beijo rápido na bochecha e saiu. Mesmo sem querer, ela deixou um rastro de pavor e adrenalina dentro de mim. Os três saíram para o almoço e eu fiquei pensando no que fazer.

Depois de uns quinze minutos, me levantei, ajeitei a roupa e saí do quarto. O tempo estava correndo e contra mim.

Estou com medo, mas ainda tenho dentro de mim um pouco de esperança de que isso não vai acontecer. Eu vou pedir para falar com meu pai. Talvez se ele me ouvir, acabe mudando de ideia.

Apesar de que, nesse mundo em que eu nasci e meu pai venera, promessas assim não quebradas. Eu sei pouco, mas o pouco que sei, me dá certeza de que meu pai espera que eu apenas cumpra minha parte sem nem mesmo reclamar.

Só aceite. Assim como um peru que vai para o forno no dia de Natal.

Ele só esqueceu de que eu não fiz acordo nenhum e muito menos sou pacífica como o peru.

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