Sem mais avisos, sem carta, sem despedida… ele partiu. Na mansão Marchesi, Ricci entrou no escritório de Dante com passos contidos, acompanhado de Petrov. — Ele foi — disse Ricci. — China. Sozinho. Dante levantou os olhos devagar. Ficou em silêncio por longos segundos, o olhar perdido no fogo da lareira à sua frente. Então, um leve sorriso surgiu. — Ele aprendeu comigo… que nem todo guerreiro anuncia sua partida. — Quer que vamos atrás dele? — perguntou Petrov, já pronto. — Não. — Dante respondeu firme. — Deixem-no ir. Ele está se tornando algo maior do que eu fui. E isso… me enche de orgulho. Na província de Henan, entre monges silenciosos e mestres lendários, Villano começava uma nova vida. Dias em jejum. Horas de dor. Noites de meditação profunda. Ele treinava com fogo nos músculos e propósito no peito. Porque no fundo… ele sabia. O mundo ainda não viu o verdadeiro herdeiro Marchesi. Nas montanhas ocultas de Henan, o silêncio cortava mais que qualquer espada. A cada manh
Durante anos, o nome Villano Marchesi havia sumido do mundo. Não havia registros. Nem digitais, nem visuais. Nenhuma pista, nenhum rastro. Para o mundo — inclusive para os inimigos do clã Marchesi — ele era apenas um mito, uma lembrança abafada. Um filho perdido. Mas para os aliados, para a família que ainda guardava seu lugar à mesa, ele era esperança. Um fio invisível de aço que unia gerações. E numa tarde de céu tempestuoso, esse fio voltou a vibrar. A mansão Marchesi em Moscou, agora mais segura do que nunca, vivia sob rotina controlada. Unirian, mais serena, mantinha o jardim florido, como se sempre esperasse algo. Dante, com olhos que já viram guerras e amores, mantinha o olhar voltado ao horizonte em silêncio. E então… ele chegou. Ninguém ouviu passos. Nenhuma câmera registrou. Foi Villano quem apareceu no fim do corredor, vestindo preto, com cabelos mais longos e barba por fazer, uma cicatriz fina sob o olho esquerdo. Seus olhos… carregavam o peso de dez mil
O elevador não era uma opção. Villano desceu os andares pelas escadas de serviço, silencioso como uma sombra. Seu coração, treinado para não sentir, batia diferente. Do lado de fora, ela voltava para o apartamento com as sacolas em mãos, cantarolando uma melodia que criava enquanto andava. Chamou por Letícia ao abrir a porta, mas o silêncio respondeu. Entrou devagar, sentindo o ar diferente — como se a casa estivesse... presa na respiração. Foi quando Villano entrou. Sem palavras, sem barulho. Apenas olhos nos olhos. Ele a viu pela mira. Agora a via a metros de distância. Cada detalhe do rosto, do cabelo bagunçado pelo vento, da respiração que ficou presa no peito. Ela recuou, assustada. — Quem é você? Onde está a Letícia?” Mas algo no olhar dele a impediu de gritar. Foi então que Villano ouviu. Sutil, quase imperceptível. O tic-tac de uma bomba armada. Instinto puro. — “Vem comigo—ele disse com firmeza. — “O quê?” Mas não houve tempo.
O sol já havia se inclinado, tingindo as paredes com tons alaranjados. Apenas o som do vento zunindo pelas frestas do apartamento abandonado. Villano estava sentado no chão, mexendo em peças de uma arma desmontada sobre o tapete puído. Ura, ainda amarrada à cadeira, balançava as pernas inquieta. Olhava para ele com um olhar firme, mesmo com a boca ainda amordaçada. Ela soltava uns sons abafados que Villano, após um tempo, decidiu ignorar. — “Mmmm… mmmmm!” Ele ergueu os olhos, respirou fundo. — “Você vai continuar com isso por quanto tempo?” Mais sons abafados. Ele se levantou com um suspiro cansado, foi até a mochila novamente e tirou um pedaço de pão, daqueles compactos de ração militar, e uma garrafinha de água. Se aproximou, tirou a mordaça devagar. Ura ofegou, finalmente podendo respirar fundo. — “Sério? Um pão seco e água? Eu quase morri hoje e você me dá isso?” Villano arqueou uma sobrancelha, entregando sem pressa. — “Não tá num hotel. Tá viva.” E
Ela tomou mais um gole da água. — Porque se for, vou fazer uma queixa. Isso aqui é abuso de autoridade. Manter alguém amarrada? Dar pão duro? Vai ter que responder por isso, viu? Villano soltou um suspiro longo, apoiando o peso do corpo numa parede. Os olhos afiados voltaram-se para ela. Em um gesto rápido, ele sacou a arma e apontou diretamente para o rosto de Ura. — Cala a boca.— disse ele, firme e sem um pingo de humor. Mas Ura apenas arqueou uma sobrancelha. — Ah, ótimo. Agora resolveu falar. — Ura.— ele murmurou pela primeira vez o nome dela. Quase como se estivesse testando o som. Ela sorriu, inclinando a cabeça com desafio. — É, isso mesmo. E eu vou lembrar disso quando escrever minha queixa. Nome do agressor: ‘Homem Misterioso Armado, não profissional, mal-humorado e sem habilidades culinárias’. Villano, que já havia matado homens por bem menos, ficou... paralisado. Uma ruga apareceu entre suas sobrancelhas. Ele não sabia se ria, se ameaçava de novo ou se apen
Ura, sentada num canto da cabana, observava-o. Ele parecia uma pintura: o corpo alto, firme, sempre atento, mas com algo em sua expressão que escapava do estereótipo perigoso. Talvez fosse o cansaço nos ombros ou a forma como mantinha os olhos quase sempre semicerrados, como quem pensa demais. — Você não é um policial tão ruim quanto parece — ela arriscou, tentando quebrar o silêncio. Villano não respondeu. Nem se virou. Ela suspirou e reclinou a cabeça na parede. — Tem alguma coisa aí pra me entreter? — perguntou, com um toque de leveza forçada. Ele finalmente a olhou. Após alguns segundos de silêncio, foi até sua mochila e tirou um pequeno bloco de papel e alguns lápis gastos. — Tenta não comer isso. — estendeu o material a ela com uma expressão impassível. Ura riu sozinha e pegou o que ele lhe dava. Ele não sabia... mas acabava de lhe entregar sua maior arma. E assim ela começou. Desenhava com traços leves, cuidadosos, olhando para ele apenas de relance para não cha
A luz da lareira crepita suavemente. Ura está deitada, encolhida no canto do sofá improvisado, com o cobertor até o queixo. Sua expressão está tensa — as cólicas voltaram. Villano a observa de longe, hesitante. — Está pior? — pergunta finalmente. — Argh… tá. Como se uma coisa estivesse me apertando por dentro. — ela diz entre os dentes. Villano fica em silêncio por alguns segundos, como se lutasse com algo dentro de si. Então, sem dizer mais nada, caminha até ela e agacha ao seu lado. Ele ergue o cobertor devagar, com cautela, e coloca a mão sobre o baixo ventre dela. Suas mãos grandes, frias de início, logo começam a aquecer. Ele massageia com cuidado, em movimentos circulares e lentos. Ura o observa, surpresa. Mas logo seus olhos vão se fechando, aliviados. — Onde você aprendeu isso...? — pergunta num sussurro. — Meu pai... fazia isso com minha mãe. Quando eu era pequeno. — responde, quase engolindo as palavras. — Então você lembra dela? Ele para por um segundo, a mã
Villano não respondeu. — Tudo bem, 007. Só queria saber se estou ao lado de um espião ou de um serial killer com senso de moda. Ainda sem tirar os olhos do espelho, ele falou com firmeza: — Estão nos seguindo. — O quê?! Villano girou o corpo e viu o SUV preto a uns 300 metros atrás, se aproximando com velocidade. Olhou para ela com intensidade. — Você sabe dirigir? Ura arregalou os olhos, segurando firme o volante. — O quê? Agora? Aqui? Com eles atrás? — balançou a cabeça desesperada. — Não sei nem estacionar direito! — Você não precisa estacionar. Só acelerar. — disse ele, já soltando o cinto. Com agilidade, os dois se moveram desajeitadamente dentro do carro em movimento. Ura se esgueirou para o banco do motorista, com as pernas tremendo, enquanto Villano se acomodava no banco do passageiro, puxando uma maleta negra do chão. Enquanto ela tomava o controle, tentando manter o carro na estrada, Villano começou a montar uma arma com calma cirúrgica. Cada peça s