Foram dois dias sem dormir. Unirian andava pela casa como um espectro — olhos vermelhos, mas secos. A ausência de Dante era um eco constante em cada parede. Cada camisa que ainda exalava seu cheiro. Cada canto onde ele estivera. Mas ela se recusava a aceitar. Algo dentro dela gritava: ele não se foi. Até que, numa manhã nublada, a campainha tocou. Dois homens da polícia estavam à porta, e traziam consigo o peso de uma verdade amarga. — Senhora Marchesi —um dos oficiais disse, com voz baixa. — Encontramos um corpo. Não está em boas condições, mas... alguns itens estavam com ele. Precisamos que a senhora o reconheça. Petrov e Ricci se colocaram imediatamente ao lado dela. — Ela não precisa passar por isso.— Ricci disse, firme. — Mas eu quero.— Unirian respondeu, sua voz firme, mesmo que sua alma tremesse. O ambiente era gélido. Não apenas pelo frio dos azulejos, mas pelo peso da morte que impregnava o lugar. O lençol branco foi puxado. O rosto... era quase irreconhecível. As qu
Unirian olhou para o filho, depois para a casa, como se estivesse se despedindo de um santuário. E então, com os olhos cheios, murmurou:— Se é o que ele mandaria vocês fazerem... vamos.A mansão Marchesi na Rússia era como uma fortaleza. Aliados poderosos, como Sokolov, Morozov e Vasiliev, já sabiam da chegada de Unirian. Mesmo com os Romanov por perto, o Clã de Dante ainda era a força dominante, e todos juraram fidelidade à família Marchesi... e agora, à viúva silenciosa que carregava o nome dele.Quando chegaram à mansão, Unirian desceu do carro com Villano nos braços. O frio russo tocava sua pele, mas havia um estranho conforto no ar — a presença de Dante parecia impregnar as paredes daquele lugar também.Jay caminhou ao lado dela, e Ricci e Petrov se posicionaram como guardiões silenciosos, atentos a qualquer movimento suspeito.E antes de entrar, Unirian parou, olhou para o céu nublado e sussurrou:— Eu vim porque acredito que você ainda está respirando em algum lugar, Dante. E
O clima na mansão Marchesi, situada agora nas frias terras russas, parecia congelar ainda mais com a chegada inesperada de Dmitri Romanov, o temido herdeiro da família rival, trajado com seu típico sobretudo escuro e um sorriso cortante como lâmina.Os portões não se abriram com gentileza. Ricci e Petrov estavam postados à frente como muralhas vivas, os rostos frios e preparados para barrar a entrada.— Você perdeu o caminho, Romanov?— Petrov falou, seco, com a mão pousada sobre a arma no coldre.— Apenas uma visita cortês,— respondeu Dmitri, com um tom debochado. — Queria oferecer meus pêsames à jovem viúva... pessoalmente.Antes que eles negassem de novo, Unirian surgiu atrás deles, vestida com um casaco longo de lã negra, os cabelos soltos e o olhar gélido.— Deixem-no entrar.— sua voz saiu firme, sem hesitação.Ricci e Petrov hesitaram por um segundo, mas recuaram com relutância. Sokolov, que observava de um canto mais sombrio, ergueu o queixo, atento ao movimento.No grande salão
Maravilhoso! Vamos mergulhar nesse momento cheio de ternura, companheirismo e esperança, com a sombra persistente da obsessão de Dmitri crescendo ao fundo.O sol da manhã atravessava os grandes vitrais da sala principal da mansão, projetando desenhos de luz sobre os tapetes persas e os móveis escuros. O riso de Villano preencheu o espaço, interrompendo a conversa leve entre Sokolov, Morozov, Ricci e Petrov.Unirian estava sentada no sofá com uma xícara de chá, vestindo um robe azul claro e com o cabelo preso de maneira simples, mas graciosa. Seus olhos sempre atentos ao filho, mesmo em meio a tantas vozes.— Ele está ficando mais esperto que o pai.— brincou Sokolov, tomando um gole de vodca logo após o café da manhã, como todo bom russo. — Mais rápido também.Petrov riu baixo.— Mais fofo, com certeza. — respondeu, mas manteve os olhos discretamente vasculhando o entorno. Como sempre.Foi quando Morozov arregalou os olhos e apontou:— Ei… ele está…Todos os olhares se voltaram e viram
Por um breve momento, seus olhos estremeceram. Uma dor aguda, estranha, atravessou seu peito — como se o coração gritasse por algo que o cérebro não reconhecia. Ele levou a mão ao lado esquerdo do peito, sem entender. Respirou fundo, sentindo um peso. Um vazio desconfortável. — Eu... não sei por que, mas... isso... tudo isso me causa uma sensação ruim. Como se... faltasse algo. Unirian chorava em silêncio agora. O rosto vermelho, os olhos marejados. — Faltam pedaços de você. E eles estão comigo. Dmitri assistia de longe, tenso, com um leve sorriso de canto. Aquela dor no peito de Dante era o efeito da memória esquecida — ou, talvez, da verdade tentando encontrar o caminho de volta. Petrov entregou Villano a Ricci e caminhou até Unirian, apoiando a mão no ombro dela, a protegendo. Ricci murmurou ao filho: — Ele vai lembrar, pequeno. Ele só precisa de tempo... ou do cheiro certo. Unirian se virou de costas, sem forças. Dante ficou parado, olhando a família que não cons
— Mostrar quem realmente sou. Não só para o Dante… mas para quem pensa que pode nos arrancar o que construímos. Eu vou tocar naquela festa. E se Caterine estiver certa de que ele é dela… eu vou fazer ele lembrar, nota por nota, quem ele era. Quem nós somos.Ricci franziu a testa.— Você vai transformar o palco em uma arma.— Sim.— ela respondeu sem hesitar, olhando para o filho em seus braços. — Eles se esqueceram… de que fui eu quem o salvou, muito antes de me tornar esposa dele. Fui eu quem fez o coração dele voltar a bater. E vou fazer isso de novo, nem que precise atravessar o inferno.Petrov assentiu com respeito. Pela primeira vez, ele viu em Unirian não só a esposa de Dante, mas uma verdadeira força do clã.— Então vamos armar tudo. A próxima apresentação será inesquecível… E se Caterine acha que venceu, vai desejar nunca ter tocado nesse jogo.No casamento de Dante e Caterine, Unirian, usou um vestido provocante com fenda que revelou a arma que estava em sua cocha. Era apenas
Após o tumultuado evento no altar, Dante, tomado por uma mistura de raiva e confusão, decide confrontar Unirian. Ele a encontra e, sem dar espaço para explicações, exige que ela o acompanhe até a mansão onde vive com seu avô. — Como você pode fazer uma coisa dessas? — perguntou Unirian triste. — Não… não quero ouvir a tua voz— Dante não estava. Disposto a ouvir, pois de alguma forma a voz dela mexia com ele, de uma forma estranha que nem mesmo ele conseguia explicar. Ricci e Petrov, preocupados com a segurança de Unirian e do bebê, decidem acompanhá-los.Ao chegarem à imponente mansão, Dante conduz Unirian até um dos quartos e, sem dizer uma palavra, tranca a porta. Unirian, surpresa e indignada, bate na porta, exigindo explicações. Do outro lado, Dante responde com voz firme:— Você ultrapassou todos os limites. Agora, vamos resolver isso do meu jeito.Ricci e Petrov, do lado de fora, trocam olhares apreensivos, conscientes de que a situação está longe de ser resolvida.Unirian ba
Dante observava Unirian de longe, sentado no jardim com Caterine ao seu lado. Ela ria alto, exageradamente, e ele fingia se entreter. Suas mãos repousavam próximas demais à dela. Era óbvio. Ele queria provocar uma reação.Mas Unirian, sentada à sombra com Villano no colo, manteve o olhar calmo. Ela acariciava os cabelos do filho, fingindo não notar nada. Por dentro, seu peito queimava — a dor latejava como uma ferida antiga aberta novamente.Ela se levantou com elegância, sem dizer uma única palavra, e voltou para o quarto. Nem olhou para trás.Com o menino já dormindo nos braços, Unirian depositou-o suavemente no berço. Foi até a cômoda, onde repousavam os papéis do divórcio. Ainda ali, como uma sentença não cumprida.Ela sentou-se na poltrona e pegou os documentos. Seus olhos escorriam pelas linhas como quem lê o fim de uma história que nunca quis terminar. Ela pensou em assinar. Só para libertá-lo. E se libertar também.Mas antes que pudesse decidir, a porta se abriu com um cliqu