Evelyn
Tia Betty estava estranha desde que atendeu a porta, que já fazia quase duas horas. Não era o tipo de nervosismo barulhento, de quem derruba coisas e fala demais. Era o outro. O silencioso. O jeito de quem fica atento à porta como se ela fosse morder a qualquer momento. Os ombros mais rígidos, o olhar que escapava da conversa a cada ruído vindo da rua. Um estado de alerta que não combinava com aquele fim de tarde inocente, cheio de cheiro de pão quente e vento frio de interior.
Eu tentei fingir que não percebi, mas era quase impossível manter alguma serenidade.
— Tia, o que há? Tem algo errado?
Ela olhou para mim por alguns segundos, como se tentasse decidir se falava algo ou não.
— Dante esteve aqui. Era ele na porta quando atendi.
— Ele esteve aqui? — perguntei, encostando no batente da cozinha. — Como ele me encontrou?
— Não sei, querida. Só sei que ele... veio.
— O que ele disse?
Ela demorou um segundo além do normal para responder.
— Que queria fal