Dante

Eu sabia, desde o segundo em que minha boca encostou na dela, que tinha cruzado a linha. Não uma linha fina, fácil de voltar. Era uma daquelas grossas, pintadas no asfalto, que gritam pare mesmo quando você passa por cima.

Mas quando Evelyn me beijou de volta, quando a mão dela subiu pela minha nuca e me puxou mais, eu percebi que já estava do outro lado e não tinha a menor vontade de voltar.

Mesmo assim, quando o beijo terminou — e terminou porque eu precisei respirar, não porque quis — senti o mundo afunilar de novo. Realidade, responsabilidade, tutela, meu nome, o dela, a casa inteira em cima de nós… tudo veio como um soco atrasado.

Ela olhou pra mim com aquela expressão que me desmonta: confusa, vulnerável e decidida ao mesmo tempo. Como se pedisse explicações que eu não sabia dar. Como se estivesse pronta pra mais, enquanto eu estava pronto pra ruir.

Eu toquei o rosto dela só mais uma vez, como quem memoriza um erro que não quer esquecer.

— Vamos — murmurei, f