Patrícia, uma talentosa bailarina, vê sua vida desmoronar quando um relacionamento tóxico a afasta do palco e um trauma devastador a coloca em um profundo luto. Determinada a reconstruir sua vida, ela encontra apoio em Ester, sua melhor amiga, que a convida a abrir um estúdio de dança. Entre pinceladas de tinta e passos de balé, Patrícia luta para redescobrir sua paixão pela dança e a força que acreditava ter perdido. Paralelamente, Lucas, um empresário de tecnologia bem-sucedido, enfrenta o vazio deixado pela perda repentina de sua noiva, Milena. Ele tenta seguir em frente, mas os ecos do passado ainda o perseguem, tornando difícil enxergar um futuro sem a mulher que tanto amou. Convencido por seu melhor amigo Miguel a sair de sua zona de conforto, Lucas aceita o convite para a inauguração do estúdio de dança, sem imaginar que esse evento mudará sua vida. Quando Patrícia e Lucas se reencontram, suas dores profundas criam um laço silencioso. Ambos tentam manter distância, temendo que as cicatrizes do passado impeçam qualquer chance de felicidade. No entanto, a força da amizade, os desafios do presente e a delicadeza dos novos sentimentos que surgem os empurram a confrontar suas inseguranças e a acreditar, ainda que aos poucos, no poder do recomeço. Entre passos de balé e memórias guardadas, Patrícia e Lucas precisam aprender que o amor verdadeiro não apaga o passado, mas ilumina o caminho para um novo amanhã.
Leer másLucas sentia o mundo ruir ao seu redor. A notícia havia sido devastadora, arrancando dele qualquer resquício de esperança. Sua noiva, seu futuro, seu amor havia partido de forma brutal e repentina em um acidente de carro. No corredor do hospital, os sons dos monitores e passos apressados soavam distantes, abafados pelo peso do luto que o sufocava. As paredes pareciam se fechar ao redor, como se quisessem esmagá-lo.
Ele não conseguia encarar os pais ou os sogros, que também choravam em silêncio. O vazio em seus olhos espelhava o próprio vazio que sentia. “Com licença”, murmurou, sem realmente esperar uma resposta. Precisava sair dali, encontrar ar para respirar, mesmo que por um instante. No elevador, Lucas apoiou a testa contra a parede metálica, a superfície gelada um breve alívio para o calor sufocante da dor que o consumia. Quando as portas estavam prestes a se fechar, uma mulher entrou apressadamente. Ela evitava contato visual, enxugando discretamente as lágrimas que escorriam pelo rosto. Sua expressão estava marcada pelo cansaço, pela perda. Patrícia havia recebido alta naquele mesmo dia, mas a sensação de alívio não existia. Depois de perder o bebê que carregava, fruto de um relacionamento que estava desmoronando, sentia-se à deriva. Não tinha para onde ir, nem forças para encarar a realidade que a esperava fora do hospital. O silêncio no elevador era pesado, mas nenhum dos dois tinha energia para preenchê-lo. O destino os guiava para o mesmo local: o terraço do hospital, onde o vento frio parecia ser o único refúgio para almas tão quebradas. Lucas chegou primeiro, parando no meio do espaço vazio, o olhar perdido no horizonte cinzento. Respirou fundo, tentando afastar a sensação sufocante que o apertava por dentro. O vento batia em seu rosto, mas não trazia consolo. Patrícia entrou em seguida, hesitante. Seus passos eram leves, como se temesse interromper algo. Ela olhou em volta, percebendo a solidão do local, e caminhou até o parapeito. O olhar dela estava fixo no chão lá embaixo. Por alguns minutos, permaneceu imóvel, como se travasse uma batalha interna. Lucas, mesmo absorto em sua própria dor, notou a postura dela. Não era difícil reconhecer aquele tipo de desespero. Ele viu a forma como as mãos dela agarravam a borda do parapeito e como o corpo parecia inclinar-se ligeiramente para frente. Algo dentro dele, talvez um resquício de humanidade em meio ao sofrimento, o fez agir. — Está frio hoje, não está?— perguntou ele, sua voz baixa, mas firme. Patrícia parou. Sua respiração estava rápida, e as palavras dele pareciam tê-la arrancado de um transe. Lentamente, virou-se para encará-lo. Seus olhos estavam vermelhos, as lágrimas ainda escorrendo, mas havia surpresa em sua expressão. — É…— respondeu ela, quase em um sussurro, sem saber como reagir. Lucas deu um passo para mais perto, mas manteve uma distância respeitosa. — Eu não sei o que você está sentindo agora. Mas sei que dói. Mais do que qualquer coisa. Patrícia piscou, tentando processar as palavras dele. Ela queria responder, mas sua garganta parecia travada. Ele não a conhecia, e ainda assim, havia algo na maneira como falava que soava… verdadeiro. — Você veio até aqui para respirar, não para desistir,— continuou ele, com delicadeza. — Eu sei que parece impossível agora, mas o ar ajuda. Mesmo que seja só por alguns segundos. Ela soltou um riso curto, amargo. — Você acha que o ar vai mudar alguma coisa? — Não vai,— ele admitiu, com um meio sorriso que não alcançou seus olhos. — Mas é um começo. E às vezes, o começo é tudo o que temos. Patrícia passou as mãos pelo rosto, tentando limpar as lágrimas que insistiam em cair. — Perdi meu bebê. Ele era tudo o que eu tinha… e agora, nem isso. Lucas sentiu o coração apertar. Ele não sabia o que dizer. O peso do luto era único para cada pessoa, mas havia algo universal naquela dor. — Eu perdi minha noiva hoje. Um acidente. Eu estava pensando… pensando que nada mais faria sentido. E então, vi você aqui. Ela o olhou, o choque evidente em sua expressão. — Você também… — Sim.— Ele respirou fundo, tentando controlar a emoção em sua voz. — Acho que, de certa forma, o destino colocou nós dois aqui. Talvez para lembrarmos que, mesmo na pior das dores, não estamos sozinhos. Por um momento, o silêncio reinou novamente. Mas desta vez, não parecia tão sufocante. Patrícia olhou para o horizonte, sentindo o vento acariciar seu rosto. Lucas, ao seu lado, fazia o mesmo. — Obrigada, — ela disse, depois de algum tempo. Sua voz era baixa, mas carregava sinceridade. — Por quê? — Por ter me feito parar. Por ter dito alguma coisa. Lucas deu de ombros. — Às vezes, tudo o que precisamos é de alguém que perceba. Mesmo que não possa consertar nada.[Patricia]Os dias que se passaram foram como um túnel escuro e sem fim. Eu caminhava por corredores longos, infinitos, mas nunca encontrava uma saída. Eu gritava, pedia ajuda, mas minha voz parecia não existir. Era como se estivesse presa entre dois mundos, incapaz de voltar, incapaz de seguir em frente.Até que, aos poucos, algo mudou.Um som distante, quase um sussurro, rompeu o silêncio sufocante. No início, era apenas um eco, uma vibração vaga no vazio... mas então as palavras começaram a fazer sentido.— Filha, sua apresentação foi um sucesso. — A voz suave e conhecida me envolveu como um abraço. — Saiu nos jornais da cidade. Aqui, escute... duas grandes apostas do balé realizaram a primeira apresentação...Minha mãe.Mamãe.Fiz força para responder, mas minha boca estava seca, minha garganta parecia feita de areia. Meu corpo não obedecia, como se eu estivesse amarrada a um peso invisível. Com um esforço imenso, consegui murmurar:— Mamãe... onde estou?O som da cadeira sendo ar
[Marcus]Meu sangue ferveu, tornando-se puro ácido ao ver aquela maldita mulher tentando fazer o impensável com a Patrícia.Minha Patrícia.Minha visão escureceu por um instante, e a única coisa que impediu que eu a matasse ali mesmo foi o fato de que eu precisava dela viva para outras finalidades. Lara era apenas um peão nesse jogo, um peão estúpido que quase estragou tudo.Mas agora, eu estava sozinho com a Paty.Me aproximei da cama, observando seu corpo frágil cercado por tubos e máquinas que mantinham sua respiração. Ela parecia tão pequena, tão vulnerável...E, mesmo assim, ainda era a mulher mais bonita que eu já vi.Meu primeiro impulso foi arrancar todos aqueles fios e tomá-la para mim. Beijá-la. Possuí-la. O sabor de seus lábios era a melhor sensação do mundo, e o fato de estar tão perto dela sem poder tocá-la do jeito que queria me consumia por dentro.Respirei fundo, tentando me conter.Ajeitei-me na cadeira ao lado da cama e segurei sua mão delicada entre as minhas. Seu t
[Lara]O corredor do hospital estava silencioso, iluminado apenas pela luz fria e artificial que ecoava nas paredes brancas. Me aproximei de Lucas, que estava sentado em uma das cadeiras de plástico, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto escondido entre as mãos. Murmurei baixo, quase num sussurro, que iria até a cafeteria para respirar por alguns minutos. Ele nem sequer levantou a cabeça, apenas acenou com um gesto vago, distante. Ele estava longe, em outro lugar, em outro mundo. E eu precisava sair dali. Não suportava mais ficar cercada por todos eles, ouvindo o choro contido, os murmúrios sobre a vida de Patrícia, as preces sussurradas como se ela já estivesse condenada.Eu precisava de espaço. Eu precisava vê-la sozinha.Esperei alguns minutos, observando discretamente até que o corredor ficasse vazio. Então, com passos cautelosos, entrei na UTI. O ar gelado do quarto me envolveu, e a luz azulada dos monitores piscava em sincronia com os bipes incessantes das máquinas.
[Lucas]Quando entrei no quarto, vi Nathan segurando a mão de Patrícia. Um impulso imediato de raiva e ciúme me atravessou, tão intenso que quase me fez agir antes de pensar. Queria arrancar aquela mão dele, gritar que só eu deveria tocá-la, só eu deveria estar ali, ao lado dela. Mas respirei fundo, engoli o gosto amargo da inveja e me controlei. Não era o momento.Pigareei baixo, o som ecoando no silêncio do quarto, para chamar sua atenção.— O tempo de visita acabou.Nathan não me olhou. Apenas assentiu em silêncio, soltou a mão de Patrícia devagar, como se estivesse se despedindo de algo precioso, e se retirou. Observei enquanto ele saía, sua postura tensa, seus ombros levemente curvados, como se carregasse um peso invisível. A porta se fechou atrás dele, e só então me aproximei da cama.Lara ficou um pouco mais afastada, observando, mas naquele momento eu não me importava com o que ela sentia ou pensava. Todo o meu foco estava em Patrícia.Seu corpo parecia tão pequeno e frágil co
[Nathan]Os pais de Patrícia saíram do quarto em silêncio, carregando nos olhos um sofrimento que me atingiu como um soco no estômago. A mãe dela mal conseguia manter a cabeça erguida, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. O pai, mesmo tentando manter a postura firme, não conseguiu esconder a dor que transbordava de sua expressão. Quando passou por mim, pousou a mão no meu ombro em um gesto silencioso, quase um pedido mudo de que eu cuidasse dela. Eu acenei com a cabeça, sem palavras, porque nenhuma delas parecia suficiente naquele momento.Esperei alguns segundos antes de entrar no quarto, tentando me preparar para o que veria. Mas nada, absolutamente nada, poderia ter me preparado para aquilo.Patrícia parecia tão pequena naquela cama, tão frágil, tão diferente da mulher cheia de vida e força que eu conhecia. O bip ritmado dos aparelhos preenchia o silêncio opressor do quarto, e cada som era um lembrete cruel de que ela estava ali, lutando por sua vida. Eu fechei a porta at
[Mãe]Ver minha filha ali, deitada naquela cama de hospital, cercada por máquinas que mantinham seu corpo funcionando, era como enfrentar uma impotência que eu nunca havia conhecido. Como mãe, sempre me vi como uma protetora, alguém que faria de tudo para mantê-la longe de qualquer perigo. Mas ali, naquele quarto silencioso e iluminado pela luz fria dos monitores, tudo o que eu podia fazer era segurar sua mão e esperar. Esperar por um sinal, por um milagre, por qualquer coisa que me dissesse que ela ainda estava comigo.As palavras "E se…?" ecoavam na minha mente, insistentes, como uma melodia que não conseguia parar de tocar. E se eu não tivesse aceitado aquele convite para o jantar? E se eu tivesse insistido para que ela ficasse na mesa, em vez de ir ao banheiro? E se eu tivesse feito algo diferente, dito algo diferente? Talvez ela não estivesse ali, naquela cama, lutando entre a vida e a morte. Cada "e se" era como uma faca girando no meu peito, cortando um pedaço de mim a cada pen
Último capítulo