Mara, filha única, amada por seus pais, namora Alfredo, uma gravidez não planejada coloca sua forte personalidade à prova. Alfredo propõe o aborto, Mara decide prosseguir. Alfredo vai para São Paulo em busca de emprego e desaparece. Seu pai, a expulsa de casa. Sua mãe recorre a Joaquim e Zilda. Mara da à luz Gabriel, seus anfitriões querem se apossar de seu filho. Mara luta por Gabriel, consegue um emprego de doméstica onde conhece Rosa, que a apelida de Pantera Negra, Mara perde seu pai, que foi intransigente até o final deixando de herança apenas um aviso: ela e o filho não deveriam participar do funeral. Mara perde sua mãe... Gabriel, agora moço, escolhe como profissão ser PM, no Rio de Janeiro os bandidos assassinam inúmeros policiais, Mara acaba concordando com a promessa de o segredo do filho fosse guardado a sete chaves... Gabriel conhece a jovem Lucy, se apaixonam perdidamente, Lucy também tem um segredo, ela é filha do comandante do tráfico no Morro do Aconchego, uma guerra entre os traficantes fazem com que o pai de Lucy fuja às pressas, Lucy não consegue deixar nenhum recado para Gabriel que decide subir o morro disfarçado à procura de Lucy e acaba refém dos traficantes... Mara perdera os pais, seu grande amor Alfredo está desaparecido há vinte anos, Gabriel, sua única riqueza está desaparecido. Será que o destino resolveu ser implacável com a Pantera Negra até o final? Será que o destino só lhe reserva angústias e aflições ou ela merece um pouco de felicidade?
Leer másMara retirou uma caneca de alumínio de uma das quatro bocas de seu belo fogão branco, derramando-a o restante da água que nela fervia sobre o pó de café que estava no coador sobre o bule na pia de granito da cozinha. Ficou olhando até que toda a água filtrou, deixando apenas uma borra de pó de café úmido dentro do coador. Tirou o coador de cima do bule, despejou o café em uma garrafa térmica até enchê-la e fechou-a com tampa. Ainda do bule, despejou um pouco em um copo de vidro e começou lentamente a degustá-lo em pequenos goles, olhando pelo vitrô aberto da cozinha, vendo apenas o muro que separava a edícula alugada da casa dos proprietários à frente, seus pensamentos iam muito, mas muito além daquele pequeno espaço físico entre ela e o muro. Não havia pressa; era manhã ensolarada de domingo, era seu abençoado dia de folga, uma merecida folga depois de uma semana cansativa de trabalho.
Há muitos anos Mara trabalhava como empregada doméstica. No mesmo emprego, para a mesma família, não era um trabalho bem remunerado, mas ela sentia-se agradecida, ela era uma mulher digna. Foi há muito tempo, ela tinha apenas dezoito anos, quando dona Zilda de quem ela era inquilina, também há muitos anos; Dona Zilda e seu esposo Sr. Joaquim, além de proprietários, eram como pais para Mara. Foi dona Zilda que a levou e a apresentou para aquele trabalho, depois de uma viagem de quarenta minutos por diversas ruas, contornando praças, parando em inúmeros pontos em um dos sacolejantes ônibus circulares.
Elas desceram no centro da cidade em meio a enormes edifícios com diversas lojas nos térreos. Um extenso viaduto elevado acompanhando toda a extensão de uma enorme avenida prendeu a atenção de Mara por alguns instantes; ouvia-se apenas o barulho do intenso trafego dos veículos lá em cima. Ela naquele momento sentia-se totalmente dependente de dona Zilda, naquela imensa selva de concreto com enormes edifícios. Dona Zilda, por sua vez, mostrava-se cada vez mais amável com ela, andando à frente pelas calçadas, desviando-se de inúmeros pedestres que vinham no sentido contrário com movimentos rápidos pela direita ou esquerda, sempre defendendo a si e sua estimada bolsa que estava sempre á frente do corpo, semelhante a uma esquiadora desviando-se dos obstáculos. Sempre falante, explicando a Mara o caminho, os detalhes, onde se deveria ter mais cuidado, os locais onde deveria se evitar passar para evitar assaltos e outros tipos de constrangimento. Mara a seguia o mais rápido possível, imitando suas mudanças bruscas de posição na calçada, evitando colidir-se com inúmeras barraquinhas, postes, camelôs e sacos de lixo que jaziam amontoados nas calçadas esperando alguém para recolhê-los; sempre procurando ouvir e memorizar tudo que Zilda a estava explicando. Ela sabia que sua vida a partir daquele momento dependeria – e muito – de memorizar aquelas explicações.
Depois de muitos quarteirões, Mara já estava extremamente ofegante; a sudorese se mostrava excessiva, os músculos de suas pernas latejavam, parecia que pegariam fogo a qualquer momento. Pensava nunca chegaremos a esse abençoado lugar, parece até mesmo o fim do mundo quando Zilda parou em uma esquina com um movimento brusco. Esperando o sinaleiro abrir para atravessarem a rua, ela olhou em direção ao próximo quarteirão, esticou um braço apontando com o indicador em riste e disse: “É lá, Mara”.
Mara olhou para onde ela apontava e, em meio a diversos edifícios uma única residência no estilo colonial, como um oásis cravado no meio de um imenso deserto, viu. Um gradil de ferro separava a propriedade da calçada, sendo sustentado de espaço em espaço por colunas de tijolos à vista, um portão social e um portão para entrada de veículos. A residência estava recuada do gradil uns seis metros, e entre ambos ficava um belo jardim com inúmeras qualidades de flores, serpenteadas por pequenos cor-redores de pedra em placas de arenito vermelho, deixando um aspecto de boas vindas. Era uma residência de dois andares na cor branca, com diversos planos assimétricos, emoldurada com belas cornijas. O telhado em diversas caídas deixava a casa esti-losa; na parte de cima uma enorme sacada com um peitoril de ferro, enquanto na parte de baixo havia uma enorme sala com uma vidraça desde o piso até o teto, um estreito corredor à es-querda entre a casa e o muro, e outro bem largo à direita com calçamento em placas de arenito vermelho, deixando o acesso dos veículos até o fundo da propriedade, onde havia uma edí-cula em dois andares com garagem e lavanderia no térreo e o quarto da empregada residente em cima.Zilda destrancou e empurrou o portão social, deixando a passagem livre. Depois que passaram, Zilda trancou-o nova-mente, sendo assistida de perto por Mara, e ambas entraram pelo corredor largo dos veículos. Mara olhou de soslaio e viu as enormes janelas de madeira com duas folhas brancas no segundo andar, indicando serem dos quartos, e, embaixo, viu outro enorme vitrô com características de pertencer à cozinha. Contornaram a casa e Mara olhava ao fundo o canil e os varais quando Zilda destrancou uma porta que dava para maior cozinha que Mara já havia visto em toda sua vida. Azulejada até o teto, com uma pia modelo ¨u¨ fixada nas paredes com portinhas
¶deslizantes que tocavam o piso, um enorme armário de madeira branco fixado nas paredes por cima da pia, uma porta á direita de acesso ao porão-adega, uma extensa mesa de madeira com seis cadeiras, uma geladeira e um freezer vertical, tudo na cor branca; outra porta de vidro deixando acesso à enorme copa que estava mobiliada com uma mesa de madeira rodeada por dez cadeiras, um enorme lustre de cristal preso no teto bem próximo à mesa, deixando a impressão que cairia a qualquer momento, outra porta de acesso à sala de visitas, um corredor de acesso ao escritório e uma escada de madeira tendo um corrimão sustentado por balaústras trabalhadas de acesso ao segundo andar, onde estavam os quartos.
Zilda pegou no armário duas xícaras de porcelana desenhadas e os pirex, colocando-os sobre a mesa da cozinha. Dispôs ali também uma garrafa térmica com café que a empregada residente já havia preparado e uma jarra de leite, bem como uma cesta de vime com pãezinhos e um pote com margarina retirada da geladeira, dizendo:
- Senta, Mara, vamos tomar café, que o dia vai ser bem movimentado, talvez não haja tempo para almoçar!
Já estavam bem adiantadas no café quando se ouviu o ruído da porta de acesso a copa sendo empurrada. Logo em seguida, entrou na cozinha uma mulher de uns trinta e cinco anos. Sua pele era morena clara e ela vestia um uniforme azul e branco com um chapeuzinho branco na cabeça, completando o uniforme; tinha uma bandeja de madeira com copos vazios e sujos, guardanapos amassados, segurada com as duas mãos. Parou por um instante, olhando as duas à mesa, e então disse:
– Bom dia, Zilda! É esta a moça?
– Bom dia, Rosa! É, sim! – Respondeu Zilda.
Rosa deixou a bandeja pousar sobre a mesa e ficou olhando de frente, sem tirar os olhos de Mara. Abaixou-se até debruçar o corpo sobre a mesa e aproximou o rosto o máximo possível do de Mara, e, bem séria, disse:
– Esses seus cabelos negros escorridos, as sobrancelhas expressas quase se unindo, os olhos negros bem fundos e seu rosto redondo, me deixa impressão de estar diante de uma pantera negra! Eu vou chamá-la de pantera negra! – Deu um sorriso largo e continuou – Não se assuste, é assim mesmo, para as empregadas domésticas falta apenas um grau para loucas e meio para médicas, você ficará assim também! Franqueou a Mara outro belo sorriso.
Mara já estava sentindo-se desconfortável, mas logo percebeu que Rosa na verdade só estava brincando. Ela era uma figuraça, logo se tornariam amigas íntimas.
Já estavam se levantando quando ouviram a porta da copa sendo empurrada novamente. Viraram-se para olhar e viram entrar na cozinha uma mulher na casa dos cinquenta anos, ainda muito bela, alta, a pele branca semelhante à porcelana, os olhos turquesa, os cabelos louros em desalinho, o roupão felpudo Branco de mangas longas com um cordão amarrado na cintura e pantufas nos pés, tudo isto, indicando que ela acabara de acordar, deu alguns passos sentou-se a cabeceira da mesa, limpou a garganta depois disse:
– Bom dia, Zilda! – É essa a moça?
– Bom dia, dona Maria! – É, sim!
– Bom dia, Menina! Qual é o seu nome? – Indagou dona Maria, olhando diretamente para Mara.
– Mara!
– Muito bem Mara, seja bem-vinda, esta é a nossa família!
– Há tempos que a Zilda me pedia para ser substituída, mas eu não gosto de ficar trocando de empregada constante mente – Veja a Zilda e a Rosa , estão aqui há mais de quinze anos! Então ficamos assim, Zilda vai te ensinar como é a limpeza de toda a casa, exceto a cozinha, por que as refeições e a limpeza da cozinha é trabalho da Rosa. Depois que você aprender certinho o trabalho, a Zilda virá apenas dois dias na semana para lavar e passar as roupas. Combinado?
Mara estava se sentindo extremamente pequena diante daquela mulher, não só pela estatura, mas pelo jeito leve, solto, dinâmico da patroa. Mara viu que ela estava olhando atenta para seu rosto, por certo esperando a sua resposta. Procurou algumas palavras, mas parecia que seu dicionário fora roubado, então com muito esforço conseguiu balançar a cabeça afirmativamente e dizer:
– Tudo bem! – As palavras saíram piegas. Dona Maria então tomou a dianteira, dizendo:
– Zilda, o Alberto já está saindo do quarto, e vocês podem começar, porque o dia hoje vai ser pequeno para tanto trabalho!
Já se passaram vinte anos, trabalhando na mesma casa, fazendo o mesmo serviço, o mesmo trajeto. Dona Maria e seu Alfredo agora estavam bem velhinhos e parecia serem parte da sua família. Rosa nunca a chamou pelo nome, sempre a chamava de pantera negra. Agora Rosa falava constantemente em se aposentar.
Alfredo deu um passo, ainda com o olhar no chão:– Gabriel, me desculpe por tê-los abandonado, eu fui a São Paulo procurar emprego, além de não conseguir o trabalho eu fui roubado, fiquei sem dinheiro e documentos, acabei ficando na rua como mendigo, sem poder voltar. Eu sei que fui totalmente errado, só gostaria que você me perdoasse.Alfredo mal conseguiu terminar as palavras e começou a chorar, as lágrimas lhe escorrendo pelo rosto.Gabriel tomou a palavra:– Não precisa se desculpar, pelo que vejo você não foi culpado, foi um acidente! Mara terminou a vista a Gabriel percebendo que ele estava bem melhor, e com toda certeza ele iria para casa logo, o que encheu seu coração de alegria. Como de costume deixouo necessário, despediu-se e seguiu pelo corredor em direção à portaria do hospital, cumprimentando guardas, enfermeiras, as recepcionistas. Depois de alguns quarteirões, alcançou o ponto de ônibus, não esperou muito e já apareceu o circular com destino ao bairro Novo Horizonte. Ela embarcou, e, depois de passar a catraca e pagar a passagem ao cobrador, escolheu um assento à janela, e desligou-se do mundo. Seus pensamentos eram lembranças dos últimos dias, o prazer de ter seu filho são e salvo de volta. Depois de uns quarenta minutos no circular em movimento, mais parecendo um barco sendo balançado pelas ondas do mar, o ponto de descida de Mara se aproximava. Ela Capitulo 36
Chegando à portaria do hospital, ela se identificou e forneceu o nome de seu filho, solicitando o direito de visitá-lo. Depois que a recepcionista anotou seus dados, forneceu-lhe um cartão de visita para ser fixado no peito e lhe orientou como chegar ao quarto. Terminado o elevador ela entrou em um longo corredor, virou à direita e à esquerda, perguntou a algumas enfermeiras que passavam e foi novamente orientada até que chegou a um amplo quarto onde estava uma única cama e Gabriel deitado sobre ela. Mara correu até seu filho e o abraçou, por um longo tempo se ouvia apenas o soluço, e via-se ela enxugando as lágrimas, por várias vezes, ela ficava apenas olhando para o rosto de Gabriel até que a emoção foi passando. Ela comentou sobre o cabelo comprido e a espessa barba, mas ele prometeu que assim que pudesse se livraria dos dois. Conversaram por um longo tempo até que alguém apareceu avisando que a visita estava terminando. Depo
Lucy virou as costas, saiu passando pela porta pisando duro e seguiu pelo corredor em direção à saída do hospital, sendo seguida em passos largos por Nice. Betão permaneceu no mesmo lugar e ouviu Gabriel em uma chupanga como se fosse um animal feroz ferido.– Merda, merda, merda, droga seria melhor não ter se esforçado tanto e ter morrido lá! O silêncio que se instalou foi estarrecedor, Betão resolveu entrar no quarto para ver o que estava acontecendo, e viu Gabriel quase sentado na cama, com o travesseiro nas costas, encostado à cabeceira da cama, o enorme cabelo em total desalinho, as lágrimas escorrendo pelo rosto umedecendo a espessa barba. Betão o cumprimentou: – Oi, e aí, tudo bem?
Lucy deitou-se apesar de ser alta madrugada não conseguiu dormir. Betão estava acarretado de problemas para resolver, seu tempo estava escasso, mas ele desejava ter uma conversa seria com Gabriel, gostaria de saber quais a verdadeiras intenções, porque dependendo de Lucy ele percebeu que ela estava totalmente apaixonada. Quando Nice e Lucy estavam prontas para sair em direção ao hospital, Betão anunciou que as seguiria em seu automóvel, e depois seguiria para os seus compromissos. Chegando ao hospital, como era particular, eles apenas receberam crachás de identificação, entraram no elevador, seguiram, tendo Lucy à frente. Nice, segurando o braço de Betão, orientava Lucy, ora dizendo à direita, ora dizendo à esquerda. Depois de um extenso corredor, Betão alertou a Lucy que seria o quarto trinta e três, quando chegaram à porta do quarto estava semiaberta e ouviram vozes vinda do interior. Assim que olharam para dentro avistaram do
Padrinho viu que havia potencial em Lucy e ensinou com prazer tudo sobre artes marciais, tiro ao alvo, manejo de armas brancas, além de ensiná-la também sobre montanhismo. Agora, passados cerca de dez anos, ele estava sentado no mesmo salão de ginástica, olhando a jovem que um dia lhe devolveu a razão de viver, arrumando seus apetrechos para ir se suicidar.– Qual é o plano? – Insistiu padrinho. – Eu, eu estou pensando em dar uma fugidinha para escalar umas montanhas, sabe, pra espraiar um pouco a cabeça! – Lucy! Exclamou padrinho, arrastando o nome, em um gesto indicando que ele sabia perfeitamente o que
Último capítulo