Mundo ficciónIniciar sesiónApós dias exaustivos arrumando minhas coisas no castelo dos meus pais, a sensação de vazio que me acompanha há meses parece aumentar exponencialmente, tornando-se quase insuportável. O lugar onde cresci, antes tão familiar e acolhedor, agora me sufoca implacavelmente com lembranças pesadas de uma vida que não existe mais, que foi brutalmente arrancada de mim. Pego a última bolsa pesada e a coloco cuidadosamente ao lado da porta de madeira maciça, mesmo diante dos protestos insistentes das servas que tentam me ajudar. Minha mãe entra silenciosamente no quarto, seu rosto visivelmente marcado pela dor profunda que compartilha comigo, mas que tenta esconder desesperadamente por trás de uma máscara de coragem.
— Filha... — sua voz é suave e trêmula, mas carrega o peso esmagador de todas as emoções não ditas que pairam densamente entre nós.
Eu me viro lentamente, encontrando seu olhar carregado de sentimento. A saudade e a compreensão estão ali, transparentes e cruas, um consolo precioso em meio ao caos absoluto da minha mente atormentada.
— Sei que não é fácil, Anya. Nada disso é. — Ela respira fundo, como se tentasse reunir forças. — Mas acredito sinceramente que essa nova fase pode trazer algo de bom, talvez uma nova perspectiva para você. — Ela tenta sorrir encorajadoramente, mas falha miseravelmente, e sinto sua dor se refletindo cruelmente na minha própria expressão.
Sei perfeitamente que, quando eu me for daqui, ela ficará completamente sozinha com meu pai insensível e Helena cruel. Essa consciência me aperta o coração.
— É difícil imaginar algo bom vindo disso, mãe — murmuro com voz fraca e embargada, baixando os olhos para as minhas mãos trêmulas e frias. — Mas preciso ao menos tentar seguir em frente pelo bem do povo que depende dessa aliança e fazer o meu papel como princesa. Não é isso que o rei Jeremy quer de mim? Que eu seja útil?
Ela se aproxima rapidamente e segura minhas mãos geladas com firmeza reconfortante, me fazendo sentar com ela na cama macia. O toque é quente e acolhedor, um lembrete poderoso de que, apesar de absolutamente tudo, ainda tenho alguém que me ama verdadeiramente ao meu lado.
— Não importa o que aconteça lá, estarei sempre aqui para você, querida. Sempre. — Sua voz quebra levemente na última palavra, e vejo seus olhos marejarem.
Antes que eu possa responder ou abraçá-la, Helena aparece abruptamente na porta, olhando para as minhas coisas cuidadosamente arrumadas com uma expressão evidente de desgosto e desdém. Sua presença sempre faz o ambiente pesar incrivelmente, tornando o ar denso e sufocante, e hoje definitivamente não é diferente. É como se ela trouxesse consigo uma nuvem de negatividade.
— Que cena tocante e patética — diz ela com sarcasmo cruel, olhando para as unhas com fingido desinteresse, com aquele ar de desdém que sempre me irrita profundamente. — Mas será que já não está na hora de parar de lamentar eternamente e seguir em frente de verdade? Já faz um ano inteiro que ele se foi, está mais do que na hora de acordar para a realidade e parar de se fazer de coitadinha.
Eu não respondo, apenas encaro fixamente o chão de pedra fria enquanto minha mãe solta um suspiro longo e frustrado. Helena nunca perdeu uma única oportunidade de me alfinetar cruelmente, mas hoje simplesmente não tenho energia alguma para discutir ou rebater suas provocações.
— Anya, querida, você realmente precisa superar isso de uma vez — continua ela, implacável e venenosa. — Afinal, Victor não volta mais, está morto e enterrado, e agora você está indo para ser mulher de seu cunhado. Na verdade, está indo para ser mais uma infeliz e ser uma simples moeda de troca para alimentar pessoas que você nem sequer conhece. — Ela solta uma risada maldosa e aguda. — Foi literalmente trocada por um prato de comida para o povo faminto.
Engulo em seco com dificuldade, ignorando as palavras cruéis e venenosas que cortam como lâminas afiadas. Minha mãe, percebendo imediatamente minha reação dolorosa, levanta-se decidida e olha diretamente para Helena com firmeza e autoridade.
— Isso não é assunto seu, Helena. Por favor, saia daqui agora! — Sua voz é firme e cortante. — A Anya foi escolhida pessoalmente pelo próprio rei Kholyn como esposa para o príncipe Orion. Isso é uma honra.
Com um revirar dramático de olhos, Helena dá de ombros com indiferença e se retira finalmente, mas não sem antes lançar um último olhar sarcástico e cruel na minha direção, como se quisesse gravar sua maldade em mim para sempre.
Logo depois, uma carruagem luxuosa e imponente chega pontualmente para me levar de volta ao condado distante de Aldirin, ao majestoso castelo do rei Kholyn. Meu coração está pesado como chumbo ao me despedir, mas uma parte profunda de mim sabe que preciso desesperadamente dessa mudança radical, mesmo que seja dolorosa.
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A carruagem avança pela estrada de pedras irregulares, e meu coração acelera quando avisto ao longe a ponte que se estende majestosamente sobre as águas escuras do mar. É uma construção imponente de pedra clara, quase branca, com arcos elaborados que se curvam graciosamente sobre as ondas. Pilares robustos emergem das profundezas marinhas, sustentando a passagem com firmeza milenar. Balaústres ornamentados ladeiam toda a extensão da ponte, esculpidos com padrões entrelaçados de folhagens e criaturas marinhas — golfinhos, tritões e ondas estilizadas que parecem dançar na pedra.
Nos pontos mais altos da ponte, de cada lado da passagem, erguem-se colunas encimadas por estátuas de guerreiros com espadas erguidas, guardiões eternos que vigiam tanto o mar quanto a terra. Tochas de ferro forjado pontuam o trajeto, posicionadas a intervalos regulares, suas chamas dançando ao vento salgado da noite. A brisa marinha traz o cheiro intenso de sal e algas, enquanto as ondas batem ritmicamente contra os pilares lá embaixo, criando uma sinfonia melancólica.
Quando cruzamos a ponte, o castelo finalmente se revela por completo na outra margem, e minha respiração falha. Erguido sobre um promontório rochoso que domina o litoral, o Castelo de Aldirin é uma fortaleza magnífica e intimidadora. Suas torres de pedra cinza-escura se elevam contra o céu noturno como lanças apontadas para as estrelas, algumas coroadas por telhados cônicos de ardósia que brilham vagamente sob a luz da lua. Bandeiras com o brasão real — leões dourados sobre fundo vermelho — tremulam no alto das torres, estalando ao vento.
As muralhas externas são grossas e antigas, construídas para resistir a séculos de batalhas e tempestades. Ameias recortam o topo dos muros, onde posso distinguir as silhuetas dos guardas em ronda. Janelas estreitas pontuam as torres como olhos vigilantes, algumas iluminadas pela luz suave de velas que cintilam na escuridão. Ao redor do castelo, jardins murados se estendem em terraços; mesmo à noite, posso perceber as formas ordenadas de arbustos aparados e canteiros de flores que exalam perfume delicado no ar noturno.
O portão principal é uma estrutura imensa de madeira reforçada com ferro, ladeado por torres de vigia. Acima dele, o brasão real está entalhado em pedra, ladeado por tochas que iluminam a entrada com luz alaranjada e dançante. Olho para aquela construção colossal e sinto-me pequena, insignificante, engolida pela magnitude do que está por vir.
Quando o grupo de servos da família real de Aldirin chega para me receber formalmente, sou surpreendida pela calorosa e genuína recepção. O castelo majestoso, com suas torres altaneiras e imponentes e jardins meticulosamente floridos, parece um verdadeiro oásis de serenidade e elegância refinada. Os empregados uniformizados, com sorrisos amáveis e sinceros, me ajudam gentilmente a descer da carruagem e me conduzem respeitosamente para dentro da imponente estrutura de pedra antiga.







