Letícia
Eu sempre achei que a vida ia me compensar por toda merda que jogou em cima de mim. Ainda tô esperando.
Meu apartamento é a prova viva disso… um quarto só, piso gasto, sofá que já devia estar aposentado, cortina fina que não bloqueia nem vento, quem dirá sol. A luz queimada da cozinha pisca quando quer, a televisão é velha, mas é o que me mantém minimamente distraída. E o pior de tudo não é o lugar em si.
É a queda.
Há um tempo eu trabalhava num dos andares mais bonitos da Bellini-Karvell. Salário alto, roupas caras, cartão corporativo. Hoje, estou sentada num sofá rasgado, com uma caneca lascada de café solúvel nas mãos, pensando em como perdi a chance de ser, pelo menos, amante de Alonzo Karvell.
Podia ter sido esposa. Podia ter sido qualquer coisa, menos a ex-funcionária humilhada.
— Droga… — murmuro, jogando o celular ao meu lado, na almofada murcha. A foto de perfil dele ainda aparece quando eu abro as redes sociais, mesmo depois de eu me obrigar a não perseguir mais a vi