Eliza
Eu sempre acreditei que o corpo fala antes da boca. E, nas últimas semanas, o corpo da minha neta vinha falando alto enquanto ela insistia em repetir que estava bem.
Naquela manhã, eu estava na cozinha, passando manteiga no pão, quando ouvi os passos dela descendo as escadas devagar demais para alguém da idade dela.
— Bom dia, vovó. — ela disse, puxando a cadeira.
— Bom dia, minha menina. — respondi, observando o rosto dela.
Antonella estava mais pálida, os olhos um pouco fundos. Pela terceira vez na semana, empurrou a xícara de café para longe.
— Hoje não. — murmurou. — O cheiro está forte demais.
Enchi a xícara de chá.
— E o enjoo de ontem na cozinha da Sweet Dreams? — perguntei.
Ela suspirou, sem me encarar.
— Já falei que foi só o cheiro do recheio, vovó. Foi um mal-estar simples. Estou bem.
“Estou bem.” Era a frase que ela mais dizia desde que chegou em Londres. E, na minha experiência, quando alguém repete tanto isso, é porque está tudo menos bem.
Não insisti. Deixei que c