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Capítulo 2: A salvadora

Kael segurava Andrômeda no colo. Sentia seus braços falharem, mas ficou ali, parado, sentindo o cheiro de lírio que ela amava. Kael tentava se controlar. Focava no som da risada dela, mas, a cada instante, seu peito se enchia mais de fúria. Ele não aceitava que, por uma competição estúpida entre dois deuses velhos, arrogantes e gananciosos, nunca mais veria sua amada.

Seus olhos brilhavam em carmesim pela segunda vez na vida. A primeira foi quando descobriu que sua mãe havia sido morta num ataque aos níveis inferiores do inferno — e que sua irmã também morrera lá. Ele tinha cinco anos, mas mesmo assim matou treze demônios com um poder que, mais tarde, chamou de neve negra — um toque daquela neve na pele de qualquer ser vivo o mataria antes que abrisse a boca outra vez.

Tentáculos negros surgiam do chão como garras. Kael estava tomado pelo ódio. Andrômeda queria proteger todos, se sacrificava para isso... e, no fim, morreu. Morreu defendendo quem a matou.

Kael levitou, ainda segurando o corpo de Andrômeda nos braços. O cheiro de metal no ar era sangue puro, derramado pela batalha. Uma onda de energia pulsava, descontrolada, criando um círculo negro ao redor dos dois. Kael sentia a dor de um humano, mas naquele momento, não se importava. Morrer com Andrômeda era a única coisa que restava — pois, sem ela, o mundo perdia a cor.

Uma leve tempestade de energia se formava ao redor deles, prestes a explodir...

Quando Ágata apareceu. Sua presença era como um véu de névoa — suave, mas sufocante.

— Não creio que queira me machucar, Kael — sussurrou, enquanto as sombras se enrolavam em seu corpo.

Kael não tentou resistir, mas seu próprio poder o traiu, atacando a figura à sua frente sem hesitar. Ele sentiu seu corpo falhar, como se algo o impedisse de agir.

— Distorção.

Foi a última coisa que Kael ouviu a mulher dizer, antes que ela erguesse a mão e estalasse os dedos. O ar, antes rarefeito, ficou mais leve. Kael sentiu seu corpo flutuar, e uma dor aguda o fez se contorcer. Ainda estava consciente quando ela dobrou seu corpo ao meio, como se quisesse partir ele em dois. E ela queria. A dor agonizante o fez perceber isso.

O som foi distorcido pelo véu sombrio que o envolvia.

E então… tudo se apagou.

Doze dias se passaram até que Kael finalmente abriu os olhos. Seu corpo estava pesado, e sua visão demorava a se acostumar com a luz fraca que atravessava a janela estreita. O cheiro de ervas amargas pairava no ar, misturado ao aroma de cera queimada.

— Sente-se melhor? — A voz feminina soou suave, mas fria.

Kael virou a cabeça com dificuldade e encontrou uma mulher ao lado da cama, depositando uma bandeja com frascos e unguentos sobre o criado-mudo. Ele se sobressaltou, mas conteve a reação.

— Quem é você? — Kael recuou instintivamente.

Ela sorriu, inclinando-se levemente na direção dele. Seus dedos pairaram sobre a faixa que cobria o ferimento em seu ventre.

— Tenho muitas respostas, mas nenhuma convincente o suficiente para não parecer uma ameaça — disse, em um tom divertido, mas com um brilho calculista no olhar. — Mas não se preocupe. Quando o encontrei, você já estava morto. Se quisesse que morresse, bastava deixá-lo onde estava.

Kael se recostou contra os travesseiros, permitindo que ela tocasse na bandagem. Seus dedos eram frios, precisos.

— Seu nome?

— Me chamam de Ágata.

Ele permaneceu em silêncio por um instante, avaliando-a.

— Por que fez isso?

— Isso o quê?

— Salvou minha vida? — perguntou, apertando de leve o curativo. A dor era suportável, mas real.

Ágata segurou um dos frascos contra a luz, observando o líquido espesso em seu interior. Não o olhou ao responder:

— Eu diria que foi empatia... mas recebi pra isso.

Kael franziu o cenho.

— É uma longa história, mas... — Ágata tentou dizer, mas foi interrompida.

— Andrômeda... a mulher que estava comigo — Kael interrompeu, segurando o pulso dela com firmeza, os olhos sombrios.

— Antes que me conte seja lá o quê, vamos diminuir a conversa. Eu enterrei o corpo dela na margem do rio. Quando se recuperar, posso levá-lo até lá. Agora, fique parado. Eu não sou médica, sou maga.

Kael hesitou, então murmurou:

— Obrigado.

Ágata soltou um suspiro exagerado.

— Tudo bem, põe na conta. Depois você me paga.

— Ela era bonita. O que passou pela cabeça dela para se apaixonar por alguém feio como você? — O tom zombeteiro aplacava o peso no quarto, mas Kael apenas sorriu, sombrio.

Ele sabia exatamente por que se apaixonara por Andrômeda. O que não sabia era por que ela havia se apaixonado por ele.

— Devia ter perguntado isso a ela — murmurou, olhando para o nada.

Ágata terminou de ajeitar as bandagens e se levantou.

— Mais alguns dias e partimos.

— Partimos? — Kael perguntou, surpreso. Ele mal conhecia essa mulher. Quem ela pensa que é pra lhe dar ordens?

— Sim — ela respondeu sem expressão, colocando um frasco no criado-mudo.

— Para onde? — Kael falou, com os olhos fixos nela.

— No jantar conversamos melhor. Agora, descanse.

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