Ela me fuzila com o olhar.
- Por um acaso você está falando de mim?! - seu tom fica mais alto e estridente. - Ué! Se a carapuça serviu…. Pedro ri alto, fazendo tanto eu quanto ela se virar em sua direção. - Agora entendo a preocupação da sua mãe, irmãzinha. - diz ele sem desviar o olhar da estrada. - Você parece ser horrível fazendo amizade. Reviro os olhos e me acalmo um pouco, mas logo respondo: - É que eu escolho bem minhas amizades. - Cruzei os braços e evitei olhar para ela. “É melhor ter qualidade do que quantidade, mas acho que essas pessoas populares não entendem muito isso.” Pensei. A garota bufou ao meu lado. - Não é como se eu fosse ser sua amiga mesmo. - ela passou a mão em seus ombros, deslizando suas mechas loiras para trás. - E eu nem quero. - respondi, espelhando seus movimentos. Me viro para a janela do carro e sinto um olhar sobre mim. É Rafael me olhando pelo retrovisor externo do carro. Nossos olhos se encontraram, mas logo ele desviou. “Como um cara tão bonito e bom aguenta uma mulher chata dessas?” Me perguntei, mas relacionamento sempre foi algo difícil de entender para mim. Qual a certeza que as pessoas tem de que o amor sempre vai durar? Sinto que a maioria depois de alguns anos só estão juntos por puro comodismo. - É uma pena que vocês duas não tenha simpatizado uma com a outra, porque infelizmente vão se ver constantemente. - ele olha pelo retrovisor em direção a nós duas. - Afinal, eu sempre levo meus melhores amigos a minha casa e agora minha querida irmã vai estar lá. - Não pretendo ficar te incomodando assim, ficarei feliz em estar no meu quarto. - digo a ele em voz baixa. - Mas eu não. - ele respondeu me olhando fixamente pelo retrovisor. - com tantas coisas para te mostrar… irmãzinha… você acha mesmo que eu vou te deixar em paz? Imagino que ninguém tenha notado o tom de voz que ele usou comigo, mas meu corpo sim, já que se arrepiou inteiro. Suspiro e olho em direção ao retrovisor externo, caindo sobre os olhares de Rafael novamente. Sorrio para ele, que continua com cara de poker face, então desistindo de querer me comunicar com qualquer um daqueles três, pego meu celular e começo a ver qualquer coisa. É o que eu sempre faço em momentos constrangedores assim. Meu celular, meu salvador. Logo chegamos em casa, Rafael e a garota se foi em direção a casa dele. E eu e Pedro entramos juntos em casa. Começo a subir as escadas para chegar a meu quarto rapidamente, mas antes de abrir a porta Pedro me alcança. Ele segura meu braço me girando em sua direção. Novamente seu perfume me invade. - Eu realmente não ligo se você presta atenção ou não no meu melhor amigo. Mas antes de você ser de qualquer pessoa, você vai ser minha. Entendeu? - é essa foi a primeira vez que senti sua pele em contato com a minha. Sua mão segurando meu pulso com certa brutalidade, mas não o suficiente a ponto de me machucar. O encarei dessa vez com mais coragem que antes, talvez ele fosse só um cachorro que late muito. Cão que late, não morde! - Tão controlador. - falei tentando tirar sua mão dos meus pulsos, sem sucesso - De acordo com a psicologia, uma pessoa assim ou tem muito medo de ser rejeitado e ficar sozinho ou tem tanta insegurança sobre si mesmo que precisa fazer o outro se sentir pior. E então, qual das duas opções é o seu caso? Ele grunhiu baixo, irritado com meu comentário. E então, ele abre a porta do seu quarto me empurrando para dentro e logo a fecha nos trancando lá dentro. Sós. Começo a me arrepender imediatamente de ter o provocado, já que o medo começa a correr em minhas veias, me deixando cada vez mais paralisada. - Quer ver o tanto que me acho inferior? Posso te mostrar isso na cama! - disse ele novamente me cercando e ainda segurando meu pulso. - Não, obrigada! - respondo, mas impulsivamente falo também: - Mas para ser tão insistente com alguém que não te quer, você deve realmente ter auto estima baixa mesmo. - Auto estima baixa? - ele ri sem humor - interessante ouvir isso de quem fica ofegante toda vez que me tem por perto. Ele se aproxima mais, dessa vez se aproximando dos meus peitos. - Eu quase consigo ouvir seus batimentos daqui. - diz ele olhando em meus olhos, com um sorriso provocativo. - Isso não significa nada ou talvez seja meu corpo dizendo para sair de perto de um sociopata. - respondo trêmula e com a respiração ofegante. Pedro toca de leve meu pescoço com seu dedo indicador, deslizando sobre minha jugular, me fazendo arfar. - Se isso não significa nada, por que está toda arrepiada então? Por que está tão ofegante assim? - ele inclina seu rosto em direção ao meu, quase tocando meus lábios. - hein, princesa? - De medo. - respondo em seco, mordendo meus lábios. - Medo? - ele passa seu dedo de leve pelos meus lábios e depois desliza ele sobre meu rosto, suavemente. “Quente.” Penso. Assim é seu toque sobre minha pele. Ele me olha e eu o encaro de volta, e então novamente ele vem em direção a meu rosto, aproximando sua boca da minha. Fecho meus olhos, permanecendo imóvel, mas nada acontece. Abre os olhos e o vejo rir. - Eu vou parar por agora, mas para quem não quer nada, você pareceu bem interessada, não acha?Virou certo costume Pedro me levar juntos com seus amigos a escola. O que me fazia ficar irritada logo cedo e quem não ficaria ao ver uma garota com cara de emburrada para mim sempre que nós vemos e Pedro com as provocações dele sempre que está sozinho comigo. Aliás, descobri que ela se chama Anna. Um nome tão bonito, para uma pessoa tão bonita, mas tão megera como ela. Acho que não combina. Rafael trocava algumas palavras comigo durante a aula apenas, mas não quando estávamos com eles. A sala está tão silenciosa que o único ruído que se escuta é o ranger do giz de cera no quadro negro. Com pouco tempo aqui, percebi que o professor de história adora escrever e ele escreve e escreve e não para mais. A mão chega a doer. Em um momento impulsivo bato minha cabeça no livro em cima da minha mesa como forma de tentar me acordar. “Mas um minuto dessa tortura e eu durmo!” Pensei, ainda com a cabeça sobre os livros. Escuto uma risada baixa ao meu lado e me viro em sua direção. É
“Me sinto culpado em querer saber” essa frase deu voltas e voltas o dia todo pela minha cabeça, me deixando confusa. Só o vi por 5 dias e já sinto coisas que nunca senti antes, nem sei explicar o que é, mas de certa forma me sinto culpada também. - Por que ele tem que ter namorada? - me pergunto atirando um urso de pelúcia no teto e ao cair, o uso para tapar minha boca e solto um grito que estava entalado em minha garganta. Sempre odiei pessoas que traem ou que sabendo que o outro namora, o faz trair. Para mim, ambos são igualmente culpados, sujos e desprezíveis. Então não consigo entender porque Rafael me chama tanta atenção assim. Eu nem mesmo aceitava ser amiga de homens que namoram, então por que sinto tanta vontade de estar perto dele? Deslizo meus braços pela cama de casal do meu quarto, enquanto encaro fixamente o teto imaginando o rosto do meu vizinho de mesa. - Como posso descrever o que sinto? - me pergunto a mim mesma ainda olhando para o teto. De alguma for
Me desperto novamente me sentindo mais descansada e ainda sem abrir os olhos, deslizo minhas mãos pela minha cama. Me lembro de Pedro dormindo ao meu lado e abro meus olhos rapidamente o procurando, mas ele já não está mais aqui. Respiro aliviada, apesar de um pouco surpresa. Olho ao meu redor procurando algo que ele possa ter deixado, mas não há nada. Nenhuma carta. Nenhuma mensagem. Nada. Me estiro na cama e faço o que sei fazer de melhor. Olhar para o nada e pensar em tudo. Observo meu teto enquanto pensamentos sobre meus antigos amigos surgem em minha cabeça. “O que será que eles estão fazendo agora?” Penso e logo desvio o olhar para a porta que dá a sacada, observando o dia lindo que parece estar lá fora. Quase todo sábado meus amigos e eu costumávamos ir de bicicleta até a cachoeira da cidade. As vezes ela estava cheia de pessoas e as vezes era só nós e mais algum outro grupo. “Será que eles estão lá? O dia está perfeito para algo assim!” Assim que o pensamento desapar
Pedro aproveitou que mais uma vez os adultos da casa estarão fora e chamou seus amigos para uma resenha. Os três estão na piscina aproveitando o calor da água durante a noite. Rindo, se divertindo, como parecem fazer sempre. Os observo da sacada sem ser vista. A dinâmica entre eles é de certa forma interessante. “Como pode Pedro ter tanta química com a namorada do seu melhor amigo? Eu consigo notar daqui, será que Rafael não vê isso?” penso analisando eles. Rafael está sentado na beira da piscina com uma lata de cerveja na mão, enquanto Anna e Pedro brincam um com o outro no meio dela. Ela tem um corpo de dar inveja. Barriga sequinha, muito peito e muita bunda, apesar do tamanho diminuto. - Por acaso seria eu a vilã da história? - pergunto a mim mesma ao imaginar como o mundo é injusto. Apesar de ser alta, eu não sou corpuda. Ao que parece eu cresci para cima, mas meus peitos e minha bunda esqueceram que também deveriam crescer. - Pelo menos eu tenho uma bela cintura! - elogio
Rafael solta uma risada sincera ao escutar o que eu disse ao Pedro. - Eu não sei por que você se sentiu tão ofendida… - Pedro cutuca a ponta do meu nariz de novo - Eu não disse que você é feia! Já cansada deles, saio da piscina. Afinal, já me sentia um pouco tonta pela bebida. Ignoro todos os comentários dos 3 e caminho em direção a cozinha. “Preciso de um copo de água!” Penso notando a visão um pouco borrosa. “Como poderia ele olhar para mim quando sua namorada é tão melhor que eu? Ela é baixinha, tem corpão, cabelos longos e é loira. Parece o combo perfeito para a maioria dos homens. Idiotas!” Me queixo em pensamentos. Encho um copo de água e me sento na cadeira, apoiando ele na mesa, sem me preocupar em acender a luz do ambiente. - Aí minha cabeça.. - coloco minha mão sobre minha testa fazendo movimentos circulares com dois dedos meus. Escuto passos em minha direção, mas não desvio o olhar do meu copo. - Que foi? Já está bêbeda com 3 latas de cerveja? - é Pedro.
Nunca chorei tanto em minha vida como chorei ontem. Acordei com os olhos todos inchados pela humilhação que passei. Não senti vontade de me levantar para aproveitar o domingo assim que fiquei grande parte do dia no meu quarto. Hora jogada na cama, hora sentada lendo algo na minha mesa de estudos. Se tem uma coisa que amo ler, são histórias de romance. - Nunca entendi porque as pessoas aceitam ser humilhadas por quem mais amam - falei a mim mesma ao ler outra história de romance desse tipo - Não há dinheiro nesse mundo que me faça aceitar tamanha humilhação desse jeito. Deixo o livro de lado e me jogo em minha cama. “Só estou passando por esse tipo de situação porque ainda não posso viver como adulta, mas pelo menos não amo o Pedro.” Pensei comigo ao me comparar com as protagonistas das histórias que leio, me sentindo orgulhosa por estar um pouco melhor que elas, pelo menos. - As vezes a gente acha que não existem pessoas que aceitaria isso, mas pelo visto existem sim… R
Olho para Rafael sentado a meu lado, rabiscando algo em seu caderno e deixo minha mente vagar pelo fim de semana que tive. O fim de semana, como sempre, passou voando e claro que depois do selinho que Pedro me deu, eu saí correndo para o banheiro, escovar meus dentes. Não é que eu tenha gostado, ou odiado, na verdade, é indiferente, mas por algum motivo eu fiquei mais consciente sobre minha higiene pessoal. Depois do contato dos nossos lábios ele não tentou mais nada, inclusive nem cheguei a ver ele mais pelo resto do dia. O que, de certa forma, foi um alívio, apesar de me lembrar bem da sensação e do cheiro do seu hálito até agora. - Por que está me olhando tanto? - comenta Rafael ainda com a atenção em seu caderno. Seus cabelos ondulados se movimentam suavemente com a brisa que entra pela janela. - As vezes eu só foco em um ponto e fico pensando em coisas aleatórias, você nunca fez isso? - pergunto para ele, seu rosto se vira para mim. Noto que ele está um pouco para b
Ao final da aula nosso grupo se juntou rapidinho para salvar o contato de todos e criamos um grupo para a gente, apesar de que ninguém mandou nada a ninguém. Finalmente caminho até a saída com Rafael, indo para o carro do Pedro, como de costume. Ele e Anna já estão parados do lado de fora, apenas esperando por nós, conversando entre eles e rindo. Anna empurra ele um pouco, usando sua mão contra o peitoral dele e ele segura sua mão, revidando com cosquinhas em sua cintura. Assim que eles nos veem, Anna sai de perto dele e vai em direção a Rafael. Rafael caminha em direção a ela também, lhe dá um abraço e um beijo apaixonado, diz que sentiu saudade e ela também retribui falando coisas fofas para ele. Anna passa suas mãos pelo cabelo dele, tocando suas mechas onduladas de forma gentil e amorosa. - Parece que você está cada dia mais lindo, meu amor!- e então me olhando acrescenta - Tenho que tomar cuidado para não surgir pessoas querendo roubar você de mim. Reviro os olhos para