Os dias se passaram, e meu corpo piorava a cada dia. Eu estava cada vez mais sonolenta, e as dores eram mais frequentes.
Susana quis me levar embora, mas eu não quis. Só queria ficar sozinha e passar meus últimos dias em paz.
Mas Cláudia não estava disposta a me deixar em paz. Ela vivia me mandando mensagens.
Às vezes eram fotos das viagens que ela fazia com Samuel, outras vezes fotografias dos dois juntos em algum hotel de luxo. Algumas vezes, até fotos dele dormindo.
Ao olhar aquelas imagens tão íntimas, nada dentro de mim se movia. Até que, um dia, ela me enviou uma foto diferente. Era da casa velha onde eu e Samuel moramos.
Antes que eu pudesse perguntar o que aquilo significava, recebi outra mensagem dela: — [Presente.]
Entrei em pânico na hora e liguei para o Samuel.
Ninguém atendeu.
Com o coração apertado, forcei meu corpo debilitado a sair de casa. Peguei um táxi e fui direto para a casa velha.
Aquela foi a primeira casa que tivemos depois de sairmos do porão. Ali, acompanhamos o crescimento da empresa, e vivemos muitos momentos felizes. Mesmo depois que Samuel me deu uma casa melhor, eu nunca tive coragem de vender essa. Porque ali estavam guardadas as nossas memórias, ou, pelo menos, as minhas. Claramente só eu me lembro delas agora. Mas eram as últimas lembranças que eu queria preservar.
Cheguei às pressas, e me deparei com a porta escancarada. Vários operários de reforma entrando e saindo. O lugar estava uma bagunça, um completo caos.
Entrei em colapso na hora. Gritei pedindo que parassem, mas ninguém me deu ouvidos. Desesperada, comecei a ligar para o Samuel sem parar. Depois de mais de dez ligações, ele finalmente atendeu.
— Sim. A casa está sendo reformada — Respondeu com frieza. — A Cláudia quer morar aí.
Samuel chegou na casa velha perto da uma hora da tarde. Os operários já tinham ido embora. Eu esperei ele por cinco horas. Mas isso já não importava.
— Por que você está reformando a casa? Você sabe o quanto esse lugar significa pra mim. — Questionei, com a voz trêmula.
Ele sabia muito bem. Sabia quantas lembranças boas vivemos ali. Sabia que, em todas as noites que brigávamos, eu vinha para cá sozinha, para relembrar e esperar que ele voltasse para me curar. Ele sabia de tudo, e mesmo assim, fez exatamente o que sabia que ia me machucar. Tudo porque "ela queria".
Samuel não respondeu. Em vez disso, o som de saltos altos ecoou no corredor.
Era Cláudia.
— Sra. Gabriela, não culpe o Sr. Samuel. A culpa é minha. — Disse com um tom tímido. — A empresa tem estado tão ocupada. Eu queria morar em um lugar mais perto do escritório. O Samuel disse que tinha essa casa que, apesar de velha, dava para reformar. Eu não fazia ideia de que ela era assim tão importante para você. Mas fique tranquila, vou mandar os operários desfazerem tudo agora mesmo.
Com um ar de falsa inocência, ela pisou na sala.
— Ah... Já destruíram tudo? — Murmurou com um suspiro e um leve sorriso se formou nos cantos de seus lábios.
Foi de propósito.
Cerrei os punhos de raiva.
— É só uma casa velha. Vai querer bater nela também?! — Samuel se colocou entre nós.
— Casa velha? Então, na sua visão, a casa é velha e eu também sou, não é? — Respondi.
Samuel puxou Cláudia para trás dele.
— A Cláudia está resolvendo coisas importantes. Para de fazer drama. — Continuou. — Já que você gosta tanto assim desse lugar, eu compro outro para você.
— Eu não quero outra! — Disse, com os olhos vermelhos. — Eu só quero essa!
— Gabriela, não seja irracional. — Samuel franziu a testa.
— Samuel, não culpe sua esposa. A culpa é minha. — Disse Cláudia, segurando a mão dele. — Eu posso te indenizar...
— Vai me indenizar com o quê? — Gritei para ela. — Essa casa é minha! Sai daqui! — Empurrei-a com força.
Ela perdeu o equilíbrio, recuou alguns passos e bateu com a mão no canto da parede, deixando um arranhão. Ela franziu levemente as sobrancelhas e, Samuel, imediatamente preocupado, segurou sua mão.
— Gabriela, você está ficando cada vez mais louca! Você quer mesmo essa casa, não é? Pois fique sabendo que não vai tê-la de jeito nenhum! Eu comprei essa casa e eu faço o que eu quiser com ela! E mais, não se esqueça que quem está te sustentando agora sou eu.