Capítulo 3
Samuel abraçou Cláudia com força.

Abri a boca tentando dizer algo, mas nenhuma palavra saía. As lágrimas finalmente embaçaram minha visão, e percebi que já não conseguia enxergar o homem diante de mim como o jovem de dezoito anos que conheci.

Sem sequer me lançar outro olhar, Samuel abraçou Cláudia e saiu.

— Samuel, se eu estivesse à beira da morte, você ainda me trataria assim? — Perguntei.

— Se morrer fizer você sossegar, então vá em frente e morra logo de uma vez. — Ele disse sem olhar para trás.

Naquele instante, toda a minha força se esvaiu. Sentei-me no chão, completamente derrotada.

Então é isso. Ele realmente deseja a minha morte.

Depois daquele dia, Samuel nunca mais voltou para casa. Também não me importei. Preparei uma lista e comecei a organizar os preparativos para o meu funeral. Tirei minha foto de retrato póstumo e comprei minha última roupa da vida.

Alguns dias depois, o fotógrafo me ligou avisando que as fotos estavam prontas. Ao olhar para mim mesma naquele retrato, senti uma mistura de emoções.

Estava me preparando para voltar para casa quando, na esquina, dei de cara com Samuel e Cláudia.

— O que está fazendo aqui? Está me seguindo? — Ele perguntou.

Não quis discutir com ele. A dor no meu abdômen começava a apertar, eu só queria ir embora dali o mais rápido possível.

— Sr. Samuel, acho que a senhora veio tirar fotos. — Disse Cláudia, estendendo a mão para pegar o envelope. Recuei instintivamente.

— Parece que a senhora não quer que a gente veja. — Disse, com um tom fingidamente magoado, mas carregado de insinuações. — Tão misteriosa. Quem vê pode pensar que tem algum segredo. — Completou.

O rosto de Samuel mudou, e seus olhos recaíram sobre o porta-retratos que eu segurava.

— O que é isso, afinal? — Perguntou.

A dor se intensificava a cada segundo. Eu não queria discutir nem me envolver mais com eles, mas Samuel agarrou meu pulso. Seu olhar estava carregado de desgosto e desconfiança. Mas agora esse olhar já não me machuca mais.

— Nada. Não tem nada a ver com você. — Respondi, soltando meu braço. Mas Samuel agarrou uma das pontas do envelope.

No meio de todo empurra-empurra, o porta-retratos caiu no chão, e minha foto póstuma ficou exposta para todos.

— Ah! É preto e branco? — Exclamou Cláudia, fingindo surpresa, mas com um leve sorriso nos lábios.

Fitei resignada a foto no chão. Afinal, fui descoberta.

Será que agora ele vai se arrepender? Se arrepender de ter me tratado assim nos meus últimos dias de vida?

— Então esse é o segredo que você estava escondendo? — Perguntou Samuel com uma voz fria e indiferente. Seu rosto estava sombrio, sem o menor sinal de dor ou arrependimento. — O quê? Vai mesmo levar isso até o fim?

Aquele homem, que um dia se desesperava se eu pegasse um simples resfriado, agora achava que eu estava usando a morte como uma chantagem emocional. Mais triste ainda era o fato de que, até agora, eu ainda guardava um fio de esperança em relação a ele.

— Não posso? — Soltei uma risada. — Só queria ver você se arrepender.

— Então morra e vá para o inferno. — Ele disse, me empurrando e saindo, sem olhar para trás.

Não consegui mais me manter de pé e desabei no chão. As pessoas ao redor gritaram assustadas, e Cláudia se apressou em me ajudar a levantar.

— Está vendo? — Ela segurou meu braço, aproximou-se do meu ouvido e sussurrou. — Nem morrendo você vai conseguir. Ele não te ama mais.

Com minhas últimas forças, empurrei o braço dela para longe.

Por acaso, essa cena foi flagrada por Samuel.

— Cláudia, deixa ela. — Disse friamente. — Isso é só mais um dos truques dela. Já que ela gosta tanto de atuar, deixa ela encenar até o fim.

Consegui voltar para casa com a ajuda dos estranhos que estavam de passagem. Tomei um analgésico, e a dor no abdômen foi diminuindo aos poucos. Me sentia exausta física e emocionalmente, então me deitei no sofá.

Tapei os olhos com a mão, enquanto a voz do Samuel ecoava sem parar nos meus ouvidos:

— Então morra.

Lembrei do inverno de alguns anos atrás em que estive gravemente doente, a ponto do hospital emitir vários avisos de risco de morte. Na época, nós não tínhamos dinheiro, então Samuel saiu pedindo ajuda a todos os parentes e amigos.

Ele foi humilhado, desprezado. Eu me sentia culpada, não queria ser um fardo para ele. Recusei-me a tomar os remédios ou continuar o tratamento. Samuel, então, ajoelhou-se no chão do hospital.

— Gabi, eu te imploro, toma o remédio, por favor. — Disse aquele homem de um metro e oitenta, ajoelhado aos meus pés, segurando minha mão e chorando.

E agora Samuel é a pessoa que mais me quer ver morta.

Olhei para o calendário na parede. Já não falta muito para que o mês acabe. Ainda bem. Logo, o desejo dele ia ser realizado.
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