Capítulo 5
Samuel foi embora puxando Cláudia pela mão.

Fiquei encostada na parede do lado de fora da casa, com dificuldade para respirar.

O celular vibrou com o som de uma mensagem. Era dela.

[Eu venci.]

[Pode esperar. Eu vou tomar tudo o que é seu. Um por um.]

Olhei a mensagem por um segundo, desliguei o celular e entrei de volta na casa velha.

Todos os móveis tinham sido levados. O chão estava esburacado. No canto da varanda, algumas latas de tinta fechadas esperavam para serem usadas, todas da cor preferida de Cláudia, rosa.

O quarto estava vazio. Não restou nada.

O parapeito da janela do quarto, onde eu mais gostava de me sentar, estava destruído. A toalha de mesa florida, minha favorita, tinha ido para o lixo. As cortinas que eu e Samuel escolhemos com tanto cuidado estavam jogadas no contentor do lado de fora. Ninguém se importava.

Dei voltas e mais voltas pela casa. Foi então que percebi, de verdade, o que estava acontecendo.

Na porta da frente, lancei um último olhar àquele lar que um dia foi nosso. E, parti sem olhar para trás.

De volta à mansão, encarei os móveis. As palavras de Cláudia ecoaram na minha mente. Com a maior rapidez possível, liguei para uma empresa de coleta e mandei retirar todos os móveis que ela havia mencionado. Eu não queria mais nenhuma perturbação nos meus últimos dias de vida.

Quando o caminhão da coleta partiu, já era madrugada. Com o corpo suado, deitei no carpete e senti um alívio como nunca antes.

A cada dia, as folhas do calendário na parede iam diminuindo, e meu coração ia ficando mais sereno. Com o aumento das doses de analgésicos, eram raros os dias em que eu permanecia consciente.

Mas, de repente, houve um dia em que simplesmente me senti melhor.

Liguei para o carteiro e entreguei dois envelopes. Um era para Susana, com instruções pessoais e a lista de todos os bens que estavam em meu nome. O outro era para Samuel, com uma cópia do nosso divórcio, já assinado por mim.

Mesmo que eu estivesse à beira da morte, eu queria encerrar qualquer vínculo que ainda existia entre nós. Como nenhum de nós dois queria mais se ver, então não havia necessidade de conversar pessoalmente. Além disso, eu sabia que ele assinaria.

Com tudo resolvido, me sentei no quintal para tomar um pouco de sol. O tempo estava lindo, e meu humor também estava melhor.

Ao ver meu rosto pálido refletido no vidro, decidi passar um batom. Enquanto procurava no quarto, encontrei por acaso um diário antigo que estava esquecido no fundo da gaveta, coberto por uma fina camada de poeira. Ao abri-lo, deparei-me com a minha história de amor com Samuel.

Desde as primeiras trocas de olhares, o início dos sentimentos, até sua tímida confissão, os anos doces na faculdade, depois o início da empresa, o crescimento, o sucesso... Cada página continha muitas palavras. Eu lia devagar, com um sorriso involuntário no rosto. Mas, à medida que as páginas avançavam, os textos iam diminuindo. Até que, na última, havia apenas uma frase:

— Ele não voltou hoje de novo.

Olhei a data. Fazia muitos anos. Depois daquele dia, nunca mais escrevi no diário. Assim como o próprio caderno, tudo foi sendo deixado para trás.

Sentei-me à escrivaninha. Hesitei por alguns segundos, e então voltei a pegar a caneta.

Quando terminei de escrever, o sol já estava se pondo.

A dor no abdômen voltou a incomodar e, como sempre, tomei mais alguns analgésicos. Deitada no carpete, senti o efeito do remédio aliviar a dor e o meu corpo ficar mais leve.

Em um devaneio, vi o Samuel de dezoito anos correndo em minha direção. A neve caía sem parar. Seu nariz estava vermelho do frio, mas ele sorria, radiante. Ele estendeu a mão para mim, com os olhos brilhando como antes. Eu olhei para ele, coloquei minha mão na sua, e juntos corremos para dentro da neve profunda.
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