Depois de descansar por alguns dias, entrei em contato com uma avaliadora de confiança e vendi todas as minhas roupas, bolsas e joias.
— Sra. Gabriela, o Sr. Samuel realmente a ama muito. Ontem ele encomendou os lançamentos da nova estação, e hoje a senhora já está esvaziando o guarda-roupa! — Comentou ela.
Ao ouvir isso, apenas sorri.
Deslizei os dedos casualmente pela rede social da Cláudia, até que meus olhos pousaram na publicação mais recente, uma foto publicada naquela manhã, mostrando exatamente uma das bolsas da nova coleção. Pelo visto, os lançamentos já haviam encontrado uma nova dona.
Depois de me despedir da avaliadora, marquei com minha melhor amiga, Susana, para vermos uma casa.
Dirigi até os arredores da cidade, parando em frente à entrada de um cemitério. Susana me olhou, surpresa. Sem explicar nada, puxei-a pela mão e entrei com ela no cemitério.
O local ficava numa área montanhosa, cercado por natureza. Era o tipo de lugar que muitas famílias ricas escolhiam.
O funcionário nos recebeu com entusiasmo. Dei uma olhada, escolhi um lugar de que gostei, e paguei o sinal ali mesmo.
Meus pais haviam falecido há anos, e eu não tinha irmãos.
Pensei que, como ninguém viria me visitar depois que eu morresse, ao menos eu poderia escolher um lugar bonito e agradável.
Samuel ganhou muito dinheiro nesses anos. Mas eu sempre tive pena dele, e por vontade própria relutei gastar, sempre economizei em tudo por ele.
Nunca imaginei que, quando finalmente me permitisse gastar, seria com isso. Cuidar demais de homem só traz desgraça.
O funcionário me perguntou o nome do dono do túmulo.
— Sou eu. Estou comprando para mim mesma. — Respondi.
Escrevi meu nome no formulário.
Sob os olhares surpresos e cheios de pena, puxei Susana e saímos do cemitério.
Assim que entramos no carro, ela explodiu.
— Gabi, que diabos está acontecendo?! Por que está escolhendo um túmulo para você?! — Ela disse com os olhos cheios de preocupação e medo.
Ela tinha medo de me perder. E eu não pude deixar de pensar no Samuel. Se fosse ele ali comigo hoje, também sentiria medo?
— Gabi! — A voz de Susana me trouxe de volta à realidade.
— Tenho câncer. Câncer de pâncreas. O médico disse que tenho um mês de vida. — Falei, olhando pela janela, num tom calmo, como se estivesse falando de outra pessoa.
Inicialmente, eu pretendia ir sozinha, mas encarar essa situação sem ninguém por perto seria miserável demais. Além disso, eu precisava que Susana me ajudasse com os preparativos finais.
Quando vi os olhos dela se encherem de lágrimas, confesso que fiquei um pouco feliz. Veja só, ainda havia alguém neste mundo que se importava comigo.
Mas logo uma dor aguda e persistente tomou conta do meu abdômen, me fazendo suar frio. Susana tentou me levar ao hospital na mesma hora, mas eu implorei que ela só me levasse para casa.
Na verdade, eu também sentia medo. Medo de ficar sozinha num hospital frio, presa a uma cama.
Para não preocupá-la, me forcei a ficar consciente, mas a dor era insuportável e eu acabei desmaiando.
Quase inconsciente, ouvi a voz dela gritar ao telefone:
— Samuel, seu desgraçado! Volte para casa agora!
Quando Samuel voltou, Susana já tinha ido embora. Eu estava sentada sozinha no sofá, segurando uma xícara de água quente.
Em poucos dias, emagreci muito. Roupas que antes me serviam agora ficavam frouxas no meu corpo. A doença é realmente cruel.
— Que palhaçada é essa agora? Já chega, não é? Não sabe que eu ando ocupado? — Disse Samuel, franzindo a testa.
Fiquei em silêncio. A porta se abriu novamente. Era Cláudia, com uma sacola de frutas nas mãos.
— Sra. Gabriela, fui eu que quis vir. — Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela falou depressa. — Eu estava com o Samuel hoje à tarde fazendo compras e ouvi que você tinha desmaiado, então quis passar aqui para te ver.
Então é com isso que ele anda ocupado, acompanhando a amante nas compras.
Soltei uma risada sarcástica.
— Que atitude é essa?! — Samuel franziu ainda mais a testa. — Gabriela, desde quando você é tão mal-educada?
— Então ter uma boa educação é trair a esposa pelas costas? — Respondi, olhando friamente para ele.
Ele ficou sem palavras.
— Sra. Gabriela, por favor, não fique brava. A culpa é toda minha, não culpe o Sr. Samuel. — Disse Cláudia, com a voz embargada, embora seus olhos denunciassem arrogância. — Se não me quer aqui, eu vou embora agora mesmo.
— Eu vou com você! — Mal passado um segundo, Samuel gritou. — Com uma megera dessas em casa é impossível chamar isso de lar!
Olhei para ele, transtornado de raiva, e me lembrei do dia em que nos mudamos. Ele me levou a cada canto da casa. Na época, nos sentamos no sofá, abraçados, ele disse que onde quer que eu estivesse, aquele era o lar dele. Mas agora, ele dizia que a nossa casa já não era um lar.
Apertei a xícara nas mãos, abaixei os olhos e segurei com força as lágrimas.
Samuel puxou Cláudia pela mão e se preparava para sair.
O telefone tocou. Após alguns segundos de hesitação, ele atendeu e foi para a varanda. Assim que ele se afastou, Cláudia relaxou completamente.
— Trocou para lírios? Pensei que você gostasse de margaridas. — Disse olhando para o vaso de flores sobre a mesa.
Franzi a sobrancelha. Como ela sabia disso?
— Você não achou que era a minha primeira vez aqui, achou? — Disse Cláudia, rindo suavemente enquanto percorria o ambiente com os olhos. — Esse sofá, a cozinha, o escritório... até a cama de vocês. Conheço tudo muito mais do que você imagina.
Foi como um balde de água fria. Fiquei paralisada.
Cada móvel desta casa havia sido escolhido por mim com carinho. E agora tudo parecia sujo, repulsivo.
— A propósito, e a cadeira do escritório? Você já trocou? Aquela não era nada confortável...
Não aguentei mais ouvir, levantei a mão e dei um tapa na cara dela.
O rosto de Cláudia imediatamente ficou vermelho e inchado.
Ela soltou um risinho, mas logo começou a chorar.
— Senhora, me desculpe. Eu prometo que isso não vai se repetir.
No segundo seguinte, uma força brutal me empurrou para longe.
— Gabriela, que maluquice é essa agora?! — Gritou Samuel.